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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Aquela dor de cabeça





– Tá vendo aquele Pitelzinho ali, meu? É meu! Meu, meu…


          A afirmação de Bibo, querendo fazer média, estardalhaço frente ao colega de balada, é verdadeira e não vai ser eu quem vai desmentir. A moça, de fato, era uma doçura. Uma formosura de mulher. Pra efeitos jurídicos, estatísticos, civis, era casada com Bibo e era ele, oficialmente, o dono daquele pedaço de perdição. 

          Ao mesmo tempo que concordo, num primeiro instante, com sua afirmação orgulhosa e cheia de satisfação, tenho que manifestar, não exatamente uma contestação, mas um sincero desejo de contribuir ainda mais com o esclarecimento  do fato em si.

          Mika era, isso admito, casada com Bibo no papel. Era, até que provem o contrário, mulher, fêmea dele e ele fez certo em afirmar que o Pitelzinho ali era, de fato, seu. Só que a Mika, se me perdoem vocês o vocabulário, era fêmea também do Ivo, do Osmar, do Kako, do Everaldo e, ocasionalmente, apenas quando tomava uma cervejinha, do Beto, o taxista. Eu sei, alguns evocarão que sou repetitivo, monótono e já abordei essa problemática em outra ocasião. O assunto é sério e motivo de dor de cabeça pra muitos homens e eu, como um representante do gênero, me solidarizo com a questão, pois mexe com minha masculinidade e orgulho. Penso que o destino, só ele, é quem nos coloca frente a uma situação constrangedora como essa. Pode acontecer com qualquer um, basta estar vivo e disposto a um relacionamento sério. Posso, sim, ser alvo de críticas, pois estou levianamente contando algo que sei mas poderia muito bem ter deixado em segredo, mas o fato é que as escapadelas da rapariga eram de conhecimento notório, palpáveis, apenas imperceptíveis a ele, o traído, apaixonado e vislumbrado marido.


– Não há nada que essa minha belezinha não faça em cima duma cama, Sales… Carinhosa, Bejoquera…  Essa faz de mim o que bem qué. O que ela pede eu dô... Graças a  isso posso batê no peito e dizê: Esse corpo é todinho, TODINHO mêu.


          Não é necessário repetir, concordo, era dele, mas não somente dele. Evitarei me degradar ainda mais, ao ponto de enumerar defeitos, vícios, deslizes dessa moça que, em honra à veracidade dos fatos, nunca me prejudicou em nada. Não vou aqui acusá-la de coisas e insinuar o que fez ou não fez. Incapaz me sinto, pois pouco convivemos juntos, de dizer com precisão o que ela era . O que me arrisco, e isso o faço com uma certeza imperturbável, é dizer-lhes o que ela, decididamente, não era e nem nunca tampouco foi: Santa.

          Usava modelitos que desconcertavam, capturavam a atenção instintiva dos homens. Pelo menos, se não me falha a memória, três acidentes de trânsito, involuntariamente, provocou nas ruas da capital. No primeiro, com aquele shortinho desfiado de brim, minúsculo, fez o condutor de um Focus cor de telha bater forte na traseira de um ônibus, na Av. Carlos Barbosa, próximo ao extinto chiq.., grifo meu, Estádio Olímpico, distraído com o que viu a desfilar na calçada. O segundo, um atropelamento com ferimentos leves na Av. Aparício Borges com Oscar Pereira, foi culpa da minissaia rosa, que fez um motoqueiro avançar o sinal vermelho e a faixa de pedestres, esmagando com a roda dianteira o pé de um rapaz. Já o motorista de aplicativo, que  na Av. Sertório não enxergou o Fiat Punto saindo do estacionamento ao meio-fio, com o pisca esquerdo corretamente ligado, esse hipnotizou-se com aquela sua justíssima calça de sarja branca e aquele tip-top laranja. Esse, por pouco, devido a alta velocidade em que vinha, não fez estrago maior e atingiu mais veículos e pedestres.


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               Ouvir música é algo extremamente relaxante para a maioria das pessoas. Enquanto muitos acreditam que ela se trata apenas de um hobby, pesquisadores tentam entender como ela pode influenciar a sua vida, as suas decisões e o seu próprio comportamento. ¹

             Quem nunca chorou ouvindo uma canção romântica que desafine na primeira estrofe. Um estudo publicado em 2010 mostrou que você fica mais aberto as possibilidades de um romance depois de ouvir uma música considerada romântica.  ²    

               Outro trabalho de pesquisas,  realizado pelo professor PhD de psicologia britânico, Adrian North, da British Hertate Watt, no Reino Unido, divulgado no longínquo ano de 2008, analisou os gostos musicais e personalidade de mais de 36.000 pessoas em todo o mundo, chegando a conclusão de que ambos estão intimamente relacionados. O pesquisador avaliou os dados comportamentais de cada voluntário e depois relacionou essas informações com as preferências musicais de cada um deles.

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           “Amando a noite toda”, de Lurdes Penélope. “Louca de desejo”, de Branca Otello. “Toda arrepiada”, de Melinha Anelos. “Vem, que hoje eu tô querendo”, de Sila Moreira. “Amor com cheiro de shampoo”, do Christian e Ralf. “Uivando paixão”, do  Wando. "Entre nós dá clima", da Sharlene. “Rolou no elevador”, imortalizada na voz de Tânia Alves. “Me dá a tua boca", de Sueli Mello, "Beijando sem pressa", da Keila. “Fazendo zoinho”, dos Três Xirus. “Tá delícia, tá gostoso", do Martinho da Vila. “De ladinho”, Ivete Sangalo.  Todas essas faziam parte da sua trilha sonora. São, amostras do que ela ouvia pra passar o tempo. Isso, fazendo aqui um oportuno parêntese, a bem da verdade, era um problema dela e de mais ninguém, com exceção, é claro, do Bibo.

          Ela era, admitam ou não os seus afetos e desafetos, fogo. Sensual no seu aspecto mais tangível. Entregava-se por inteira. Pra ela, não tinha tempo ruim nem corpo mole. Pau pra toda obra. Vivia cada momento com intensidade, sem pensar muito no dia seguinte. Eriçava-se quando a conversa era em tom baixinho, grave, sussurado no ouvido. Ficava arrepiada. Gostava quando beijavam-na daquele jeito apressado, impositivo, levemente com pressa. 


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          Ao contrário da experiência similar que narrei outrora, onde o boi era brabo, rancoroso e violento, esse era manso, tranquilo e até bem-humorado diante da constrangedora situação em que se metera. Só demonstrou certa indignação e desejo de vingança quando soube pela primeira vez, mas como o chifre, dizem os especialistas que conhecem do assunto, só incomoda quando nasce, acabou se acostumando, pois em sua matemática final, o preço valia à pena. Em contraste com os tiros, xingamentos e ameaças que tingiram de sangue o conto do Doidão de tequila , aqui, descansem todas (os) vocês, o clima é de namorico, chamego,  resignação, conformidade e aceitação do óbvio. A paixão, o tesão que ele tinha pela rapariga era algo motivador, capaz de lhe insuflar esperança e ânimo pra luta da sobrevivência. No início ele até insistiu na ideia machista de reclamar seus direitos de propriedade naquele latifúndio produtivo. Quis ser o bom, o sultão único da odalisca, o exclusivo dono  daquela flor de pitangueira. Notou, finalmente, após algum esforço pra impor autoridade, que inúteis estavam sendo as suas reprimendas ao ouvido da esposa. Quem sou eu pra dizer que ela não tentou, ao menos no início, trilhar o caminho recatado da fidelidade. Pode sim, ter se esforçado pra esquecer os chamegos de outrora em nome de uma relação 1 à 1. Ocorre que, em alguns casos específicos e pontuais, a carne é fraca, o ardor vem com mais força e quando arrepia, já era. Assanhada, não sei se é  um termo certo pra ela,  mas que  gostava dum bom xodó, isso era fato, gostava.


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          Corre, em paralelo à versão tradicional, uma outra narrativa. Segundo essa primeira, a tradicional, ela acabou mesmo traindo o Tukinho ³. Já a segunda, nos aponta que o Tukinho traiu ela primeiro e ela começou a lhe meter guampa como perpétua vingança. Se esse enredo é ou não verdade, qual  versão é a que eu defendo, nada disso pretendo expor ou discutir. Serei meramente, e isso um pouco me embaraça, um fofoqueiro que transcreverá direto e reto, o que contaram conhecidos próximos do casal e o que eu mesmo observei junto aos dois, no direto convívio que tivemos.

       Tentarei, na medida do possível, ser imparcial e me ater aos fatos. Que cada um tire, logo em seguida, as suas próprias conclusões sobre o casal e opine o que bem entender a respeito desses dois.

          Começo, permitam-me uma recaída machista, pela versão do homem, o Bibo, o boi, o desonrado. Aquele que acabou levando um par de …, grifo novamente meu, a pior nessa história.    


                          

          Tukinho pediu e teve aquilo que queria. Uma mina bem gostosa. Aquela, fazia o homem gemer sem sentir dor. Um arraso. Fogosa como potranca caborteira. Cheirosa como a jasmim trepadeira agitada ao vento.  Em alguns momentos, carinhosa, já em outros,  provocante, atrevida. Sabia como tratar o bicho homem, esse ser caridoso e cheio de generosidade quando lhe convém e agrada. Se envolveu, torno a reforçar, segundo a versão do prejudicado, com uma série de caras. Ivo, Osmar, Kako, Everaldo, Beto, cinco. Esses, de vez em quando, esporadicamente, tiravam a sua casquinha daquele refrescante sorvetinho de baunilha. Era um filezinho enxuto. Inteira. Certinha. Difícil de resistir.  Feita para o amor, da cabeça aos pés. Se auto definia liberal, permissiva, quando achava que valia à pena. Uma diva na arte da sedução. Princesa. Soberana em seu leito de agradáveis perfumes. 

          Não vou entrar aqui no mérito e detalhes desses namoricos que podem mesmo terem acontecido. Temeroso fico, pois provavelmente, apimentando ainda mais o conto,   acabe eu me distanciando um pouco da proposta inicial, por isso, com redobrado ânimo, volto o pensamento e a caneta pro baú de recordações deles, há aproximadamente dois anos antes do desenrolar cronológico dessa história. Na época, quando conheceram-se, andava ele carente, sem vontade pra nada, desmotivado. Com ela, voltou a sua auto-estima, sua determinação, sua, se me permitem vocês adentrar um pouco mais no assunto, virilidade. Não é difícil imaginar por quê acabou aceitando ser apenas o macho do papel, do cartório. Não estava disposto, em hipótese alguma, a perder o que ela lhe dava com sobra. Que falassem o que falassem dele.  Julgassem o que quisessem julgar à respeito dela. Cada um, defendia-se das insinuações ele, que cuide e meta-se com a  sua própria vida. Era feliz . Corno, mas um corno alegre e afortunado.


– Mas olha só… Essa, na boa, Eurico, só trabalha se quisé. Oown… Assim você mata o papai, maínha...


          Foi essa, mesmo que pouco pareça romântica, a primeira reação do Bibo frente ao pedaço de alcatra que, na sequência, acabou tomando posse. Fez o comentário pro companheiro de escritório, o Torres, naquela boate cheia, bombando gente, latinha de Budweiser na mão, som  alto trepidando as paredes.

          Pelo que as evidências indicam, os primeiros sete, oito meses de casamento foram de namoricos, viagens, presentes, tudo 1 à 1, sem bola dividida. A epidemia surgida exatamente nesse período tão precoce da vida em comum deles, pode ter sido um dos fatores determinantes pra paçoca se esfarelar,  pra maionese desandar e pros ponteiros desacertar.

          A “Gripe do Frango”, que explodiu em meados de 2004, matou muita gente. O contágio e transmissão eram fáceis, tal qual a gripe comum, porém letal, como a febre amarela fora em outros tempos. A mídia noticiava, os governos apresentavam estatísticas, as unidades de saúde em estado de alerta. Algo precisava ser feito. Entra em cena o tal isolamento social e o distanciamento controlado. Fique em casa. Não dê abraço nem aperte mão. Endurecimento das medidas restritivas. O home-office, o drive thru. Perseguição e restrições, algumas delas humilhantes, aos idosos, que transmitiram e nos doaram tanto de suas vidas. Que cuidaram de nós, quando na infância pegávamos gripe.

          Alguns, e isso eu afirmo como alguém que viveu de perto aquele surto, tornaram-se paranóicos com o tal do álcool gel, recomendação continuamente reforçada pelas autoridades sanitárias. Enilson, pobre homem,  se encharcou do produto na entrada de casa, e cheio de preocupação com as contas à vencer, foi aquecer água pro chimarrão. Ligou o fogão e… bom, descrições detalhadas aqui talvez sejam inconvenientes.

          Já a Ercília, que horror, agarrou um idoso pelos cabelos, dentro da loja em que trabalhava, no Centro. Isso porque o coitado caiu na desgraça de espirrar perto dela, próximo ao provador de roupas.

           Héber, o advogado do próprio Bibo, bateu o pé com a esposa e não foi passar o aniversário com a própria mãe, doente, em recuperação das sequelas de uma queda, no jardim de casa.


– Amor, peraí, as medida são clara, direta, cada um tem que fazê a sua parte, olha só, vô lê pra reforçá o que todo mundo devia já tá sabendo:  Uso da máscara. Lavá constantemente as mão com água e sabão. Passá alcool gel. Distanciamento físico de um metro e meio ou mais das outras pessoa. Ficar longe das pessoa idosa… foi isso o que ele argumentou pra própria mulher, a Sílvia,  justificando porque não viajaria pro interior, como de costume, em agosto.

          E já que eu voltei, indiretamente, a falar nele, é com ele que eu vou ilustrar ainda mais esse quadro que se estampou na vida, no semblante assustado de muitos, por trás de tantas e tantas máscaras.

          Chamou aquela missão pra si. Como Terceiro Secretário Extraordinário Sub-Adjunto Municipal de Saúde , ele, de fato, aderiu ao Bloco do Isolamento Social e tremulou o estandarte das medidas protetivas. Fez discurso, mandou tuítes, e-mails. Postou sobre o assunto no face e instagram. Foi à rádio, à televisão, ao jornal. Usou os canais de divulgação da própria administração pública, tudo isso pra insistir que todos ficassem em casa, ninguém fosse pra rua e apertar mão, beijar e abraçar,  nem pensar.  Foram inconsistências nesses dois últimos requisitos que, entretanto,  ironia do destino ou não, afastaram a prática mais uma vez da teoria.

          Segundo a versão dela, a esposa, o marido foi visto saindo de um quartinho com certa rapariga, estagiária da própria Prefeitura. Enxergaram-nos saindo juntos,  porém, cada um no próprio carro, cruzando o pórtico do Motel Romano's, aquele dos cupidos coloridos, em gesso, no hall de entrada, em frente a recepção. Não, não vou me aprofundar no que aconteceu entre aquelas quatro paredes , debaixo daquele edredom. O que prometo-lhes, e isso a seguir executo sem muita hesitação, é listar com brevidade, o que interessa-nos de fato nesse clima todo de paixão e romance. Beijaram-se, tomaram chimarrão, abraçaram-se bem forte, enroscados,  quase fundidos num só. Máscara? Pra não me afastar demasiadamente da verdade, posso arriscar, amparado no relato da moça, camareira que arrumou e limpou aquele quarto 271, ninho de amor passageiro, que pelo menos usaram camisinha. Ao final das contas, jogou ,porém, pro alto, praticamente todas as medidas protetivas que apregoava. Compartilhou toalha, sabonete e segundo Adiles, a camareira, até o pente eles usaram em comum. 

          O namorico, não vamos aqui exagerar, foi curto, aconteceu umas outras duas vezes mais. Deram desculpas esfarrapadas  em casa. Um tava na sede do partido, em reunião. A outra, pro namorado disse que ia estudar um pouco mais pro concurso público, com uma amiga, foi passar de cabo a rabo a apostila com as matérias.

          Quando descobriu tudo, Mika, segundo confissão dela própria, foi pega um tanto quanto de surpresa, não esperava. Vinha, até então, se empenhando, fechando ouvidos pras cantadas que não paravam de lhes chegarem aos ouvidos.


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- Eu não vô tolerá que alguém inflija as medida protetiva que tão no decreto 17.441 de 22 de junho do corrente ano. Se os fiscal encontrá alguém sem máscara na rua, é multa, e o sujeito que se explique depois e tenta interpô recurso. MULTA! Tem que respeitá as recomendação que a quarentena exige. Não vâmo sê tolerante com os valentão que infligirem as regra do isolamento social. A caneta do fiscal vai sê impiedosa. Eu digo isso e dô o meu exemplo… Eu tô de máscara, passo álcool gel, eu não visito nem a minha mãe, eu fico em casa…


          Isso foi o que disse Maurício Oliveira Sebastiano, o nosso Bibo, que tornou-se ao longo desse breve causo, um bobo, um joguete, o macho enganado. Exerceu a função de 3º Secretário Extraordinário Sub-Adjunto Municipal da Saúde e via no cargo um trampolim pra se lançar à campanha de deputado estadual nas eleições legislativas do ano seguinte. Agora, o que ele fazia num aglomerado, num chega mais, num bundalelê, dentro da área de serviço do seu assessor de projetos, assando uma carne, dançando um pagode, de retoço com algumas estagiárias, ninfas escolhidas à dedo, nem ele, objetivamente, conseguiu explicar. Uma dessas, a Tânia, um arraso de ruiva, estilo mulherão, chamou a sua atenção de um jeito particularmente impetuoso. Ele gostava, manifestara várias vezes pros amigos, de apalpar. Viu nela, um prato fundo, cheio e completo. Foi nessa festinha que eles acabaram pela 1ª vez  ficando junto e o que curtiram em comum,  , eu sei, não é da minha conta. Só continuo narrando porque foi exatamente nesse ponto em negrito que, como dizem os de mais idade, a vaca foi pro brejo. Mika desceu o tablado e subiu nas tamancas. Botou de novo os seios fartos à mostra. Tirou do armário aquelas tais minissaias. Azar dele. Sorte do Kako, do Osmar, do Everaldo do Ivo e porque também não dizer, apesar de pouco ter pilotado aquele jatinho, Beto, o motorista, namorico apenas ocasional.


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          Se Bibo bobeou primeiro, se Mika foi a assanhada, isso não vais ser eu quem vai desvendar aqui. O que posso, e isso eu soletro sem medo de errar, é pronunciar o que apontavam os fatos e foram eles que atestaram: A mulher em questão, infelizmente, já naquela época,  não era mais a sua propriedade particular, aquela que só ele tocava. Temo, nesse ponto, estar batendo de novo numa mesma e insistente tecla,   mas cinco outros marmanjos também provavam o mel da sua boca. 

          Agora, como que a coisa chegou à esse ponto, isso é uma outra história. As confissões de Mika eram coerentes, ela explicara porque resolveu de vez soltar a franga, liberar geral, chutar o pau da barraca.  Arrasava geral com aquelas calças justas, marcando a cinturinha, com aqueles degotes que pareciam imãs, chamando pra si a atenção dos predadores. Vingava-se do marido, esporadicamente, de vez em quando. Quem mandou ele romper quarentena e algumas outras coisas com a estagiária? Era isso o que a nossa protagonista pensava à respeito dos fatos. Ganhara um par de chifres tentando ser caseira, do lar, dedicada esposa. Saboreava uma revanche lenta, sem pressa de acabar.


Paxão, eu sô o homem mais feliz do mundo por ti tê comigo.


          Calmem, não tô me declarando pra ninguém, só escolhi essa frase de uma postagem dele, em seu perfil do face, desmanchando-se em elogios pra amada,  numa mostra incontestável de rendição, de conformidade, com aquilo que já lhe parecia  incontornável, pra encaminhar o final de mais uma das minhas curtas narrativas.

           Mesmo sabendo que a mulher tava estraçalhando com a sua imagem social, fazia que não via, pra não ter que se indispor e brigar. Queria seguir com ela e não se importava em dividir o pernil assado que no início fora só e exclusivamente dele, com alguns outros.




¹  Artigo do site megacurioso.com.br

² Artigo do site megacurioso.com.br

³ Apelido carinhoso que a esposa batizara o marido, utilizado principalmente nas horas quentes

  de amor.

       



                                                               

           






 


          


                                      

Um comentário:

Elvira Carvalho disse...

Como o povo diz em Portugal, "o corno é sempre o último a saber".
Pessoalmente eu não entendo nem aceito a traição venha ela do homem ou da mulher. Aceito que as desilusões e dificuldades da vida possam acabar com o amor, mas nessa altura uma conversa sincera deve por fim ao relacionamento e cada qual vai à sua vida.
Abraço e saúde