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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Aquele vitelo...

      A noite encaminhava-se para um final feliz, com todas as escalas do romantismo  sendo  rigorosamente  percorridas  e executadas com uma precisão quase científica. As flores, a caixa de bom-bons, o passeio de carro à beira do  Guaíba, as  citações  de Fernando Pessoa murmuradas caprichosamente ao pé do ouvido... Agora Jean Carlo estacionava o  Vectra  escarlate  em  frente  ao “Degusta”, restaurante do bairro São Geraldo  freqüentado  por  8 entre 10 casais de namorados da classe média porto-alegrense.
            Vera, ou Verinha como era  chamada  na  Faculdade  de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, devota de São Francisco, era uma galega pequenina mas de contornos bem delineados, acabando por atrair os olhares  e desejos  de  Jean, o galanteador conceituadíssimo entre as ninfas da Faculdade.
            Tão certo como as uvas colhidas  em  vinhedos  de  Bento Gonçalves, após destiladas, vão para as garrafas, as mulheres que embarcavam naquele Vectra para um jantar no “Degusta” acabavam todas, sem exceção, no apartamento nº 203  do  edifício  2704, Rua Fernandes Vieira, bairro Bom Fim, mais precisamente no leito do acadêmico de Odontologia.
            Após degustar a Carne de Vitelo ao Molho Branco, sugerida com grande entusiasmo e  brilho  no  olhar  pelo  rapaz, Vera  sentiu curiosidade sobre aquele prato  tão  delicioso  que  acabara  de experimentar na companhia excitante  daquele moreno  de olhos verdes que acariciava suavemente, sem pressa, as suas mãozinhas. O vinho deixava-a descontraída.
            Estavam em uma mesa privilegiada, junto à janela, de onde avistava-se a lua derramando emanações prateadas a refletirem-se no pequeno lago artificial do luxuoso restaurante. Um quarteto de cordas, composto por músicos da Orquestra de Câmara da Ulbra, num brinde aos devaneios amorosos, executava a irresistível “La Barca”. Quando o garçom aproximou-se novamente para encher-lhes as taças ela finalmente indagou:

-- Ai moço, como é que se prepara esse tal de Vitelo? ... Adorei.
-- Bom faz assim, quando nasce um bezerro tem que desmamá ele da vaca assim que começá a caminhá... Aí começa a dá só água pra ele, até fica anêmico, porque assim a carne fica bem branquinha e macia... Depois é só matá o filhote...
-- PLAFT
            A bofetada da galeguinha acertou a face direita de Jean, que corou ao notar, já sozinho, que nas mesas ao redor todos o miravam com sarcasmo.





                      Cesar S. Farias


2 comentários:

Anônimo disse...

É a realidade da humanidade...

Você gosta de qual animal???
Sendo que todos são iguais...e mesmo assim você come outros...acho que somos nós o irracional na terra...um grande abraço amigo...

Marcia Pimentel disse...

Olá Cezar,

Gosteiu muito do texto. E com muita crueldade que tratam os animais.

Estou seguindo seu blog.

Bjs.

Convido-o para conhecer meu blog.
http://marcia-pimentel.blogspot.com.br/2012/05/minha-pagina-no-skoob.html