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segunda-feira, 1 de abril de 2013

São Paulo


... conservem-se as mulheres caladas nas igrejas,
porque não lhes é permitido falar; mas estejam
submissas como também a lei o determina.
  Se, porém, querem aprender alguma coisa,
interroguem, em casa o seu próprio marido;
porque para a mulher é vergonhoso falar na
Igreja.
  Porventura a palavra de Deus se originou no
meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós
outros?
  Se alguém se considera profeta ou espiritual,
reconheça ser mandamento do Senhor o que vos
escrevo.

                           1 CORÍNTIOS 14:34-35-36-37
        



          Na sala dos Vargas, a Bíblia permanecia repousada e aberta na página 144, em cima da mesa de vime trançado, logo à entrada da porta. As sapientíssimas palavras de Paulo no livro de Coríntios moldavam e inspiravam a relação do casal, que respeitava profundamente a autoridade deste famoso teólogo cristão. Eram fiéis frequentadores de um templo da Igreja Universal do Reino de Deus, sito à Av. Bento Gonçalves, no Partenon, próximo à Casa Pai Ogum, loja especializada em artigos religiosos. Tânia não contestava, em hipótese alguma, essa lei do silêncio imposta a ela, uma devotada esposa e mãe, resignada com a sua condição de inferioridade, conforme ensina a epístola paulina.
Seu marido há quatro anos não colocava mais uma gota de álcool pra dentro do corpo e conseguira finalmente um emprego com carteira assinada no minimercado do Irmão Elmo, crente da igreja. Ela, que sempre fora dependente dos pais, andava ganhando alguns bons trocados com o crochê, que fazia como ninguém, e vendia como água na lojinha da mulher do Pastor Castro. A isso somava-se ainda a recente aprovação da filha Maísa em um concurso público para Agente Censitário do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
A conversão religiosa, ocorrida em meados de 2002, parecia efetivamente ter melhorado a qualidade de vida e perspectivas de todos eles. Os pecados pretéritos de Francino, que não eram poucos, pareciam mesmo ter ficado pra trás, como fralda descartável cagada de bebê. O cabeça da família vivera uma vida praticamente sem regramentos até os 44 anos de idade. Não se privara de nenhum capricho ou excesso a que seus desejos descontrolados impeliam-no. Desenvolvera vários vícios e hábitos pouco salutares ao longo das quase quatro décadas ociosas e boêmias que viveu. Tivera relacionamentos afetivos conturbados com outras três raparigas, revelando-se um macho dominador, violento e descontrolado emocionalmente.
Com Sara, a mulata faceira, a coisa começou a desandar no segundo ano de concubinato. Passou a sentir ciúmes da preta e, na volta de um pagode no Galpão Serrano, encheu-a de murros no rosto e barriga. Depois dela veio a Everlí, uma professora aposentada que conhecera no hoje já extinto Bailão Velho Cardoso. A coroa levava alguns tapas de vez em quando, pois reclamava muito das suas chegadas em casa no meio das madrugadas, exalando bafo de canha. Essa, ao contrário da outra, não o deixou logo na primeira surra e só registrou queixa na DP da Mulher quando ele tocou fogo em casa, no meio de uma discussão sobre quem sustentava quem. Rita, a última, levou sopapo durante e após o fim da relação, quando, inconformado, passou a segui-la. Foi por essa época que nas rodas de chimarrão, mesas de bilhar e balcões de botecos da Vila Fátima Pinto ele ficou carinhosamente conhecido como o “Maria da Penha” *.

          Tânia, por sua vez, também levou umas palmadas de leve, só pra “amaciar o couro”, nos primeiros anos de união estável.  Sofreu poucas e boas nas mãos dele, até que um dia aquele panfleto modificou a sorte dos acontecimentos. Foi como uma tora oca de madeira atirada num rio caudaloso  para  socorrer o náufrago que se debate na descida da correnteza.      

   

Paralisia e outros males têm cura!
                                                    QUER UMA PROVA?

  
Dona Geralda, por muito tempo, não andava. Em sua casa, vivia na  cama. Quando
queria assistir TV, carregavam-na para a cama da sala e,  quando precisava ir  para
o quarto, carregavam-na para a cama  do  quarto. Ouviu  a  programação da  Igreja Universal do Reino de Deus e resolveu comparecer. Logo que chegou, carregada, pediu que a pusessem no chão e começou a  andar! Feliz, preencheu o pedido de oração, escreveu sua carta de desabafo e hoje, além de ter sido curada da paralisia, não fuma  mais, vício  que  a  acompanhava há 48 anos.

                                                                             Testemunho de Manuel Bents Vieira.

Qual é o seu problema?
Preencha e traga à Igreja Universal às 08:00, 11:00, 15:00, 17:00 ou 19:00h


x    NEGÓCIOS DIFÍCEIS           
x    DESEMPREGO  
x    DÍVIDAS
x    FALTA DE PROSPERIDADE
x    INVEJA, OLHO GORDO, QUEBRANTE
x    MACUMBAS E MALDIÇÕES
x    PESADELOS CONSTANTES
x    VONTADE DE MORRER OU SUMIR
x    BARULHOS OU VOZES DO ALÉM
x    VULTOS NA ESCURIDÃO

x   PROBLEMAS SENTIMENTAIS
x   PESSOAS DESAPARECIDAS
x   SOLIDÃO OU ABANDONO
x   VÍCIOS QUE ATRAPALHAM
x   DESESPERO
x   TRISTEZA POR LUTO NA FAMÍLIA
x   MEDOS E FOBIAS
x   TRAUMAS E COMPLEXOS
x    DOR DE CABEÇA ESTRANHA
x    DOENÇAS NA FAMILIA
x    PROBLEMAS COM OS FILHOS


Nomes de pessoas que quero apresentar a Deus em oração:
__Francino, Maísa e Fluff_________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________  

    Meu Nome:  Tânia Fonseca Vargas______________
    End: Campo da Tuca____________________   nº: 40______
     Cep: _91510-000_______               Bairro: _Partenon___    
     Cidade: _Porto Alegre           Tel. (mesmo de recado): 32770808 (Dona  Isaura)                                               
        




   
 
SE PRECISAR, USE ESTAS  FOLHAS ANEXAS PARA
DESABAFAR COM O PASTOR E TRAGA COM VOCÊ

       Olha pastor, to disisperada com a nossa situação lá em  casa.  Meu marido só bebe e não traz dinheiro pra casa. A minha guria só qué namorá os vagabundo aqui  da volta que ficam puxando fumo nas esquina e roubando. A guria não qué nem estudá mais. Tentei um monte de coisa pra vê se afastava esse encosto que parece que anda aqui na nossa casa. Andei indo até num batuque que a minha irmã me indicou, mas aquela, coitada, também é uma cabeça de vento. Vive as custa da mãe até hoje e adora namorá homi   casado. Esse batuque parece que atraso mais a minha vida, pastor. Ontem comecei a vê uns vulto andando de noite, feito fantasma lá em casa e escutei umas gargalhada no banhêro. Quando fui vê não tinha ninguém la dentro.  
Cemana  passada  meu  pai, coitado, morreu. Também, o velho não se cuidava direito e comia muita fritura e gordura. O médico  já tinha dito pra ele pará com as carne gorda mas não adianto nada. O Fluff, nosso cachorro, faz dois dia que sumiu. A genti soltou ele  pra procurá comida nas casa dos vizinho e na rua e até agora o bicho não voltou. A minha guria é muito agarrada a ele e chora de saudade do animal. To atacada dos rim faz três mês e ainda não consiguí   consulta no posto. Tem dias que dói tanto que eu não consigo nem caminha. Tomei uns comprimido que a minha vizinha disse que é tiro e queda, mas comecei a senti  umas dor de cabeça de manhã e parei de tomar. 
     Dexei uns guardanapo de crochê pra minha amiga vendê na feirinha e ela me disse que não conseguiu vendê nada. O diabo é que ela também nunca me devolveu os guardanapo de volta. Só fica dizendo que dexou lá na tia e que na cemana que vem vai lá  pegá. O brabo é que ninguém mais qué vendê fiado pra nós.  Tamo devendo  pra  meio  mundo  aqui  nos  armazém da vila. Si alguém não começá a trabalhá por aqui não sei o que vai sê. Robá eu não vô  robá porque meu pai me ensino  que tem que batalhá honestamente pra vivê.
    Nada que eu faço parece dá certo. Parece até olho gordo da vizinha da frente que vive cuidando a vida dos otros. Eu já quase nem saio de
casa pra não ficá ouvindo as perguntinha sobre o meu marido. Ficam falando que ele é um pingusso, que não qué nada com nada e que a minha guria é uma assanhada.
     Pastor, to desesperada. As vez tenho uns pesadelo   em que vejo umas cavera espetando com garfo eu e o meu marido. Isso me da medo e as vez durante o dia parece que eu  to  enxergando  elas na minha frente.
     O Francino tá cada vez mais estúpido comigo. Nunca mais me fez um carinho. Não temos paz no nosso lar e todo santo dia tem discussão. Ele    implica comigo e com a minha guria por qualquer  coisa. 
     Olha Pastor, o negócio tá difícil. To desabafando  porque não tenho ninguém pra desabafá. Se der  pra  me ajudar, fico muito agradecida.






Foi numa segunda-feira, quatro dias após receber o panfleto, depois de um final de semana  infernal compartilhado em família, que Tânia optou por procurar auxílio na igreja. Um pouco trêmula e segurando meio sem jeito as folhas de papel dobradas e inteiramente preenchidas, entrou as 14h50min no templo. Sentou-se  na última fileira de bancos, à esquerda, com a cabeça baixa e sem conseguir encarar ninguém. Duas moças, cordialmente vieram ao seu encontro dar-lhe as boas vindas, convidando-a a sentar-se mais a frente, já que o local não estava cheio.

- A senhora não quer entregar o seu pedido de oração? Ali no lado do altar tem uma urna onde a senhora pode colocá ele, tá bom?
- Aah... Quero sim... Então vamo lá.

Às 15h08min, um homem impecavelmente vestido num terno azul marinho e sapatos mais brilhosos do que mármore negro, subiu os quatro degraus da escadinha lateral que conduzia ao altar. Ao fundo, dominando toda a extensão da parede, um enorme painel reproduzia uma paisagem paradisíaca onde um sol brilhante começava a despontar na linha do horizonte, e a relva rasteira, atapetada por flores multicoloridas, recebia os primeiros raios cintilantes do astro-rei.
Tudo, a terna acolhida das jovens, a entrada imponente do homem de terno e mais aquele gigantesco quadro divino, deixou-a deslumbrada. Os sapatos lustrosos do Pastor Castro conduziram-no até o púlpito de madeira em mogno escuro, onde uma Bíblia aberta na carta de Paulo aos Gálatas o aguardava. Com um sotaque inconfundivelmente carioca, começou a pregação conclamando todos os irmãos a colocarem os seus envelopes na arca. Impelidos pela aclamação apostólica do homem, de todos os lados, em silenciosa procissão surgiram homens, mulheres e crianças de todas as cores. Unia-os, como um cordão onde ensartam-se as conchas de um colar, um sincero desejo de contribuir com a Casa do Senhor. Suas humildes aparências espelhavam as poucas possibilidades financeiras. A tal arca, uma pequena reprodução em madeira, era uma réplica do barco construído por Noé para salvar os seus escolhidos do dilúvio. Tinha o tamanho aproximado de uma banheira de louça, e em seu convés eram depositadas as cédulas devidamente envelopadas. Nos alto-falantes, a canção “Hoje é Dia de Ofertar” marcava o ritmo e sensibilizava ainda mais os presentes, inclusive Tânia. Após uma pregação que durou pouco mais de dez minutos, o pastor chamou Camilo, tesoureiro da igreja, para explicar detalhes da reforma do templo. O trabalho começaria no mês seguinte e, segundo o guia daquele rebanho, dependeria da boa vontade de todos os irmãos. Com o auxílio de um rapaz magro de olhos cavados e alegres, o homem de terno desapareceu de cena levando consigo a bendita arca.
Camilo, depois de explanar sobre o cronograma da obra, entregou vários carnês de pagamentos aos fiéis, que se acotovelavam para disputar quem chegava primeiro até ele.

- Boa tarde, Seu Camilo!
- Boa tarde irmão...?
- Osni... Osni Trassante da Cunha.
- Ah, claro... Dexeuvê... Tá aqui... Osni Trassante da Cunha... Ó o teu
   carnezinho.
- Ô Glória! Mi dá aqui que eu já vô hoje mesmo pagá.
- Se o irmão depois quisé aumentá o valor da parcela não tem problema,
   viu? Mi procura qui a genti imprimi um outro carnê...

Encerrada a distribuição, com todos os carnezinhos devidamente entregues, iniciaram-se os hinos de louvor e preces, que duraram quase vinte minutos. Quando o pastor, o seu ajudante e a arca já esvaziada reapareceram, o clima estava formado para a tão esperada “Sessão do Descarrego”. Antes de iniciar a expulsão dos encostos, Castro, revelando profunda tolerância e clemência para com os irmãos que chegaram atrasados, permitiu-lhes que abastecessem o convés da arca com mais alguns envelopes.
Choro, ranger de dentes, gargalhadas sarcásticas e, principalmente, os gritos do pastor ecoaram em seguida pelas paredes daquele templo, causando espanto, medo e admiração. Alguns encostos pareciam bem mais resistentes do que outros, e faziam Castro, o emissário da fé, perder o equilíbrio. Ele tirou então o paletó, reuniu forças e acabou, aparentemente, triunfando sobre todos eles. Empurrou-os de volta ao inferno, onde o próprio tinhoso aguardava-os com o garfo em mãos, pronto para castigá-los por seus fracassos. Tânia, maravilhada, lançava um olhar de idolatria para o carioca, que, aproveitando-se do momento oportunamente favorável, bradou com os braços abertos:

- Se você quer livrar a tua família... Se você quer livrar a tua casa... Se você quer livrar o teu lar das garras de Satanás, o diabo, se abre aqui, hoje, agora, a chance de vivê uma outra vida! Venha a mim você que não sabe mais o que fazê, e eu te liberto de toda essa escravidão e de todos os encosto!

Mais tarde, por volta das 23h, em casa, o pastor finalmente leu a carta dela e, aí sim, pôde penetrar sem reservas em seu drama familiar. Tânia passou a frequentar quase diariamente os cultos e, em seguida, convenceu Maísa, a filha, a fazer o mesmo. Francino foi quem mais relutou em entregar-se, porém, seduzido por uma proposta de emprego oferecida pelo Irmão Elmo, deixou finalmente a doutrina da igreja transformá-lo em um novo homem, ou, na pior das hipóteses e sem exageros, em alguém menos ruim.
A prosperidade coroou os esforços dos Vargas e, dia após dia, a gratidão transborda-lhes dos corações e das carteiras. Já pensam em montar o seu próprio negócio para aumentarem ainda mais a renda mensal da família. Com a chegada do segundo filho, Sóstenes, contrataram uma empregada doméstica para fazer todo o trabalho pesado da casa. Em troca de um minguado salário, a humilde pretinha, que anteriormente passara fome na rua, aceitou o emprego, convertendo-se logo depois à crença dos patrões. O seu quarto, localizado aos fundos da residência, era um antigo galinheiro reformado e readaptado para a sua hospedagem. Das paredes laterais, onde as tábuas escurecidas pela umidade exibiam ainda as bicadas das galinhas, pendia, de cada lado, um quadro. Não exibiam qualquer paisagem ou pintura artística, mas sim palavras para uma meditação diária, escritas por ninguém mais ninguém menos que Paulo, fazendo uso do seu dom profético.

 À direita:
         
  
  Quanto a vós outros, servos, obedecei  
    a vosso senhor segundo a  carne com
    temor e tremor, na  sinceridade  do
    vosso coração como a cristo.

                       
                         Efésios 6:5

À esquerda:

   
  Também os que tem senhor fiel não o
   tratem com  desrespeito  porque  é
   irmão; pelo contrario, trabalhem ainda
   mais pois ele, que partilha do seu bom
   serviço, é crente e  amado. Ensina  e
   recomenda estas coisas.
                            1 TIMOTEO 6:2
                                                                                             


                   



* Lei criada em 2006 que protege as mulheres da violência doméstica. Seu nome é uma homenagem à   farmacêutica bioquímica, que ficou paraplégica por causa de um tiro nas costas dado pelo próprio  marido e se tornou um ícone na luta contra a violência doméstica e a impunidade dos agressores.





                                      Cesar S. Farias 

2 comentários:

António Je. Batalha disse...

Ao passar pela net encontrei o seu blog, estive a ler algumas coisas e posso dizer que é um blog fantástico,
com um bom conteúdo, dou-lhe os meus parabéns.
Se desejar faça uma vista ao Peregrino e servo e deixe o seu comentário.
Se desejar seguir, saiba que irei retribuir seguindo também o seu blog.
Sou António Batalha, do Peregrino E Servo.

Dioceli disse...

Pois é imagine se toda mulher fosse seguir esse ensinamento de paulo como seria os nossos dias ?e os servos trabalhando como se fossem para cristo?nossa o mundo não seria op mesmo.