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segunda-feira, 17 de junho de 2024

Passando o tempo - Parte III


 

           Encerrando a minha atípica série de resenhas, escritas durante esse período de dimensões catastróficas aqui no meu Estado, que me obrigou a pôr a leitura em dia, trago a vocês o livro de um escritor que, só de nome, eu conhecia, Fiódor Dostoiévski.

          À princípio, com ideias preconcebidas sobre o autor, achei que estava embarcando numa leitura pesada, carregada de citações surreais e filosofia ateísta. Francamente, não sei de onde eu tirei projeções como essas, provavelmente porque o nome do homem é difícil de escrever. Pra surpresa minha a leitura fluiu fácil e, fora uma exagerada reflexão do protagonista sem nome, sobre o seu solitário passado, consegui acompanhar sem qualquer problema o desenrolar da trama.

          “Noites brancas” tem como tela de fundo as quatro noites em que um rapaz e uma moça russos, moradores de São Petersburgo,  encontram-se às margens do Rio Negro pra trocarem confidências, desabafos e ansiedades quanto ao futuro.

 

“Hoje o dia foi triste, chuvoso, sem luz, exatamente como minha velhice futura. Fui oprimido por pensamentos tão estranhos e sensações tão sombrias, questões ainda tão obscuras acumulavam-se em minha cabeça, e era como se eu não tivesse forças nem vontade de resolvê-las. Não cabia a mim resolver tudo aquilo!

Hoje não nos veremos. Ontem, quando nos despedimos, nuvens começavam a cobrir o céu e erguia-se um nevoeiro. Eu disse que o dia seguinte seria feio; ela não respondeu, não queria falar contra si mesma; para ela, este dia seria luminoso e claro, e nenhuma nuvenzinha iria encobrir a sua felicidade.

– Se chover, não nos veremos! – disse ela. – Eu não virei.

Pensei que ela não se importaria com a chuva de hoje; no entanto, não veio.

Ontem foi o nosso terceiro encontro, nossa terceira noite branca...”

 

             Sintetizando tudo, a impressão que em mim ficou é de uma obra sobre a  amizade entre dois jovens de sexos opostos. Algumas vezes o sentimento se confunde na cabeça de ambos, mas a relação não chega a ultrapassar os limites da pura e simples empatia entre duas almas. Os diálogos inocentes surpreendem os apreciadores de romances tradicionais, apimentados.

          Recomendo o livro como sugestão de leitura rápida, em tom de diário pessoal adolescente, composto por esse escritor considerado pela crítica e leitores como um dos maiores autores russos de todos os tempos.       

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