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domingo, 1 de abril de 2012

Postagem de páscoa


                                                                      



          A postagem dessa semana não poderia falar de outra coisa que não estivesse relacionada ao nosso próximo feriado de páscoa, festa que têm as suas origens no calendário judaico. Nela se comemora a saída dos israelitas do Egito. No tempo de Jesus, todos os judeus deviam ir a Jerusalém para celebrarem-na. Matavam-se cordeiros ou cabritos no Templo e levavam-nos às casas para comê-los numa ceia especial, entre cada família. Durante essa ceia, além do cordeiro, do pão sem fermento, de ervas amargas e um molho de hissopo, tomava-se vinho e se recitavam alguns salmos e orações. Durante sete dias, á partir desse dia, comia-se pão sem fermento.
          Com base na definição acima, elaborada á partir de informações contidas na própria bíblia (2ª edição- Sociedade Bíblica do Brasil), percebemos o quanto estamos afastados das verdadeiras comemorações de páscoa. Afastados, usando de franqueza, bem mais do que imaginamos.
          O que você acha, por exemplo, de ferir até a morte um animalzinho tão mimoso como esse da postagem, sob o pretexto de “fazer a vontade divina”? Está escrito e o Senhor Jesus disse em pessoa: Misericórdia quero, e não holocaustos”. (Mt 12:7)  Qual, afinal, o significado ou símbolo que justifica a matança de cordeiros? Para entendermos, temos que, inevitavelmente, retroceder bastante, mais precisamente até os momentos que pontuaram a saída dos israelitas do Egito e da degradante escravidão. Lá encontraremos o acontecimento que motivou a comemoração que perdura, com distorções, até os dias de hoje no ocidente.
          Constam nas escrituras que, durante os dias de opressão no Egito, o Senhor manifestou-se a Moisés e seu irmão Arão, dizendo-lhes que executaria um severo juízo contra a nação dos faraós, exterminando-lhes todos os primogênitos (primeiros filhos), desde homens até animais. Ordenou que entre as famílias dos hebreus habitantes daquela terra, fossem executados sacrifícios de cordeiros e cabritos para que o sangue vertido, aparado em bacias, servisse de tinta. Com o líquido, foi-lhes determinado que marcassem sinais em suas portas para que a morte não lhes ferisse.

O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes: quando eu vir o sangue, passarei por vós e não haverá entre vós praga destruidora quando eu ferir a terra do Egito. (Êx 12:13)

         O ritual, específico para aquele momento tenebroso da história hebraica, foi executado à risca e representou, durante séculos, um simbolismo relativo à vinda do Messias, o filho de Deus, que seria a confirmação de tudo o que os profetas do Antigo Testamento pregaram e previram. Quando veio em carne, o Cristo cumpriu e explicou diversos trechos das Escrituras, chamando a si próprio de Cordeiro de Deus e caminho para o Pai. A Sua vida, em si, trouxe uma nova aliança que abriu á cada indivíduo a possibilidade de redenção, mediante a prática de boas obras. Ele próprio, em nenhum instante dos evangelhos bíblicos, incentivou o sacrifício de criaturas inocentes para o perdão de pecados individuais. Antes, incentivou o arrependimento e a fé como instrumentos para a nova aliança, feita não somente com os judeus, mas com toda a humanidade.

Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos para a remissão de pecados.(Mt 26:28)

          Consta no livro de João que ficou o Senhor furioso quando, ao entrar no Templo, deparou-se com  os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados. (Jo 2:14) Da mesma forma, a bíblia não menciona o consumo de carne por Jesus em suas celebrações pascais. Os evangelhos fazem, tão somente, menções á pão, molho e fruto da videira (vinho). O Cordeiro de Deus veio para, justamente, abolir do coração dos homens os sacrifícios sangrentos.
          As cenas da Paixão, revividas, relançadas e amplificadas á cada ano por algumas instituições cristãs, são o retrato extremo da violência praticada contra inocentes. Não vejo grandes benefícios práticos em recordarmos, á exaustão, que o Senhor foi esbofeteado, cuspido, chicoteado e que verteu sangue das suas feridas, quando pregado na cruz. Alguns alimentam a interpretação duvidosa de que é meritório lembrar o sacrifício que ele fez por nós. Eu, em contrapartida, vejo nisso um lamentável culto ao sofrimento alheio. Será efetivamente necessário que as páscoas sejam dominadas por lembranças tão tristes, carregadas de covardia e injustiça?



                                


          O filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, foi para mim o fim de um ciclo ou linhagem narrativa da vida do Senhor. As imagens dele mergulharam profundamente na estupidez das cenas que marcaram a crucificação. Depois de assisti-lo, não sinto mais nenhuma atração ou interesse em concentrar novamente a atenção naquilo que, ano após ano, tempera os nossos atuais “festejos de semana santa”.
          Faço votos, com sinceridade, que todos nós, nessa páscoa, possamos nos transportar a cenas como o sermão do monte, a multiplicação dos pães e á cura de um paralítico para nos recordarmos Dele. Assistir o seu covarde espancamento não nos levará, segundo penso, a lugar nenhum.
         Igualmente, como seria bom se os animais pudessem ser poupados da carnificina que envolve os churrascos e carnes-assadas dos domingos pascais...



       Uma boa e tranquila páscoa à todos!


                




         

2 comentários:

Anônimo disse...

Amei amigo, você foi muito feliz na explicação da páscoa...vou pedir a permissão de postar lá no Mãe Terra, ok...poço???
beijos

Marcia disse...

Muito boa matéria, César! Parabéns! Excelente, sobretudo para aqueles que desconhecem essas informações, que evitam as reflexões e só pensam no febril comércio de ovos de páscoa.

Feliz Páscoa!