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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Varal que acusa a tua presença




          O meu varal, estendido aos fundos de casa, denuncia que algo mudou nesse lote residencial da Sete Povos das Missões (zona sul da capital gaúcha) . A corda de nylon azul, que antes servia de secadouro à calças, jaquetas, camisas, toalhas e outras tantas peças de vestuário, exibe agora tip-tops, coletinhos, blusinhas, meinhas e camisetinhas. Não sei se é mera impressão de um pai de primeira viajem, mas o varal parece bem mais alegre desse jeito. E a alegria desse momento só não é maior porque o proprietário dessas mini indumentárias humanas ainda não veio morar com a gente. Meu pequeno, que nasceu prematuro, conforme prescrição médica, precisa engordar algumas gramas para vir ocupar o espaço que é seu de direito. O berço permanece vazio, com alguns brinquedinhos espalhados, esperando o gurizinho chegar. De certa forma, como numa projeção futurística, já enxergo ele ali, dando bom dia e chamando-nos para curtir o sol brilhando lá fora.




          Por enquanto, Rafael, só no quarto da UTI Néo- natal do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, onde diariamente preciso me identificar na portaria para ganhar um crachá de acesso. Necessito que enfermeiros ou funcionários do Estabelecimento abram-me, uma à uma, as portas que separam-me dele. Fui instruído a lavar cuidadosamente os meus braços e antebraços antes de pegá-lo no colo, momento esse que compensa todos os esforços até aqui empregados. Sentir a sua respiraçãozinha junto ao meu peito e a maciez da pele do seu rosto encostado ao meu, renova em mim o compromisso de cuidar bem desse nenê.



          Enquanto a tão sonhada alta não chega, sigo me contentando com essas meras visitas, que suavizam a dor da separação. Queria trazê-lo para casa, que foi especialmente reformada e reciclada para recebe-lo, no entanto, é imperioso aguardar mais um pouco. O Rafael resolveu vir justamente num momento não planejado, me fazendo rever planos e formular às pressas novas estratégias, resignando-me á máxima Zeca Pagodiana do “Deixa a vida me levar, vida leva eu.”
          Percebo, pelas primeiras fotografias que tiramos juntos, que o brilho dos meus olhos recuperaram uma parcela do vigor de tempos atrás e que algo renovou-se nos recônditos do meu ser. Não nego, está sendo um desafio e tanto pra mim e a sua mãe tê-lo apenas em dosagens reduzidas e homeopáticas. O destino, nesse instante, não nos deixa outra alternativa. Sei que em breve, em caráter definitivo e irrevogável, estaremos juntos para desempenharmos no teatro da vida um épico de amor, conquistas e felicidade.
          Salve vinte e nove de janeiro de dois mil e treze. Bem vindo filho meu. Que o Senhor me transforme no pai que você certamente merece. 



                              
                          Cesar S. Farias

                       








Um comentário:

Anônimo disse...

Que coisa mais linda desse mundo César, me emocionou conhecer o seu lindo filho, aproveite cada momento com ele como se fosse o último, parabéns Dioceli que momento maravilhosos para uma mãe ver o rosto ver o rosto de quem tanto a transformou, por dentro e por fora...
Esse é o troféu mais valioso por toda gestação de enquanto nascia uma mãe...
E é tão irônico, eu também não saio de uma UTI, acompanhando minha sogra no estado terminal de câncer Um beijo no coração de cada um..., uns vem e outros vão meu irmão...
Amei as fotos deste anjo...