Na margem
não habite uma bela sereia,
em contraste com a lua cheia.
Música, poesia, literatura , informação e o que mais der na cabeça.
não habite uma bela sereia,
em contraste com a lua cheia.
Os bairros da periferia (como o de Trench Town (foto acima) crescem rápida e desordenadamente. Não há empregos para todos e a tensão social chega a níveis insuportáveis. Muitos jovens se entregam à criminalidade e passam a ser chamados de rude boys (em inglês, assim como em português, rude significa grosso, mal educado). Como muitos destes rude boys usavam dreadlocks ¹ , o preconceito contra os rastas, que já era grande devido ao consumo público de ganja ², cresce injustificadamente. Ás populações carentes e especialmente aos rastas, restava a esperança de ganhar a vida através da arte. Muitos deles dedicaram-se à música. É impressionante que um país pequeno como a Jamaica, cuja população pouco supera a marca de 2,5 milhões de habitantes, tenha revelado uma quantidade tão grande de músicos, influenciando a música popular ao redor de todo o mundo. A música, principalmente o ska, dos anos 60, e o reggae, nas décadas seguintes, acabou sendo a grande divulgadora da filosofia rastafari, dentro e fora da Jamaica. Infelizmente, o movimento rastafári, talvez devido à sua complexidade, nunca foi muito entendido, mesmo na Jamaica (veja-se o exemplo dos rude boys). É comum encontrar pessoas que pouco conhecem sobre a cultura rasta ostentando enormes dreadlocks. Muitas vezes, suas atitudes acabam contribuindo para a manutenção do estereótipo segundo o qual os rastas são criminosos drogados. Mas a cultura rasta continua ganhando adeptos em todo o mundo, e está cada dia mais sofisticada. A busca pelo conhecimento de nossas raízes e, principalmente, a resistência aos valores superficiais incentivados pela sociedade de consumo, são grandes exemplos a ser seguidos por qualquer homem, seja ele negro ou não, rasta ou não.
¹ Penteado característico da cultura rastafári que consiste em fios de cabelos enrolados em formato cilíndrico.
² Maconha
Fonte: www.casadoreagge
Mais uma vez, por motivo de força maior, pra matar a ociosidade que provoca a falta de energia elétrica, consegui iniciar e concluir a leitura de mais um livro pro meu currículo. Fortes ventanias aqui no sul do país deixaram grande parte das cidades gaúchas sem luz e mais uma vez esse Servidor Público ficou praticamente todo o expediente sem ter o que fazer.
"Porã", de Antônio Hohlfeldt, é um livro bem fino, de pouquíssimas páginas, mas que transmite uma mensagem sobre o preconceito de pele, fazendo-me refletir que, não necessariamente, é preciso escrever uma obra extensa, épica, pra mergulharmos fundo na alma do leitor. A obra narra o primeiro dia letivo de uma criança indígena numa escola da cidade. Começa e termina indo direto ao ponto da discriminação racial, apontando culpados, consequências e heróis.
" Porque a professora tinha feito aquilo comigo? Eu sempre tive muito orgulho de me chamar Porã. A mãe tinha me dito que Porã era o nome de um avô do avô do meu avô, que era muito valente, e que por isso eu devia respeitar aquele nome e ter orgulho dele. E eu tinha muito respeito e levava aquele nome com muito orgulho. Por essa razão, não liguei muito quando aos pessoas da cidade me deram outro nome, "tu agora vais te chamar Pedro", me disseram.
Porque eu era Porã e, mesmo que quisessem juntar os dois, Pedro e Porã, ou Porã Pedro, eu era Porã, este nome era meu e isso me alegrava muito."
O autor nos faz perceber a culpa individual que cada um de nós, pai ou mãe, pode carregar perpetuando esse sentimento tão equivocado e nocivo, que faz alguém menosprezar o outro tão somente pela cor da pele.
"... Se você prende uma árvore de uma maneira, ela vai crescer assim. Se você prendeu torta, ela vai crescer torta. Se você prendeu direito, ela vai crescer bonita. Se os pais destas crianças ensinaram que o índio não é gente, ou que nós somos vagabundos, elas só vão repetir o que ouviram dos adultos."
Conforme dito, o livro é de poucos parágrafos, mas impregnado pelo aroma e colorido das matas caingangues ¹, mostrando uma triste realidade, mas ao mesmo tempo apontando à um caminho de superação individual pra lidar com a situação. É minha sugestão de leitura, recomendável pra quem precisa, como eu, entretenimento por breves instantes, até que luz volte, ou pra uma viagem de ônibus dentro da cidade, em dia de engarrafamento.
¹ Etnia indígena retratada na obra.