Por aqui, é hora de remexer novamente na minha primitiva produção literária. O livro é "No limite das palavras" e não chegou à ser publicado. Tem um forte caráter autobiográfico e resolvi deixá-lo, por ora, de lado, pra ser lançado, talvez, quando eu me tornar famoso.
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Após doze horas de viagem com os outros recrutas, um cabo e um sargento responsável pela turma, chegaram ao seu local de destino, juntando-se à outros rapazes de cidades e estados vizinhos. Formavam ao todo uma turma de noventa novos marujos.
Charlie adaptou-se relativamente bem à nova rotina, provando pra si mesmo que podia sobreviver sem as tradicionais mesadas do pai e ainda por cima cuidar das próprias roupas, sem o cuidado super protetor da mãe. Isso foi pra ele, naquela fase de vida, importante conquista.
A Escola de Formação dava fundos para uma praia que, apesar do límpido aspecto, segundo comentários dos instrutores militares, estava contaminada com certo produto químico, impossibilitando banhos e mergulhos no local. Os limites da Escola abrangiam cerca de setecentos metros dessa praia. Haviam árvores que embelezavam a paisagem litorânea de ponta á ponta, alinhadas a uns trinta metros da margem. Debaixo de uma delas estavam colocados dois bancos de praça. E foi justamente sentado num deles, diante daquela sugestiva paisagem, logo na primeira semana em que lá chegou, que escreveu as suas primeiras PALAVRAS em terra estranha.
Na margem
Por que esse mar ora tão manso,
ficou agora tão feroz?
Ao certo não deve ser minha presença,
que está a lhe incomodar.
Quem sabe seja alguém, lá do outro lado,
a forte suas águas soprar.
Ou talvez apenas por capricho,
resolveu se rebelar.
Eu respeito a força dele,
São pra ele essas rimas.
Por que eu aqui escrevo?
Talvez só por agradecimento,
à essa única companhia minha.
Talvez pela minha mania de exaltar,
o que pouco foi exaltado.
Pela minha atração pelo que é majestoso,
por tudo que não cobra pedágios,
nem esconde a sua beleza pura.
Quem sabe nas suas águas,
não habite uma bela sereia,
que venha até mim e cante uma canção do mar.
Sob o bater de asas das gaivotas,
que circundam a praia,
me vejo frente a um gigante isolado,
que vive sem ultrapassar a terra,
abundante à sua volta.
Está em seu lugar de direito,
em contraste com a lua cheia.
Ele representa a solidão,
e todo mistério que envolve essa vida.
(...)