domingo, 6 de abril de 2025

Valmiki - Introdução ao Ramayana

 



        Antes   de transcrever um trecho do épico indiano "Ramayana", que descreve as façanhas do Senhor Rama, encarnação divina que representou na terra o papel de um rei perfeito, faço antes um post  sobre o autor da obra, o poeta Valmiki. O seu estilo de narrar cativou-me desde o início, com a sua riqueza de detalhes ao descrever emoções dos personagens, embates e paisagens paradisíacas. Acredito que grande parte dos leitores, mesmo sem motivações religiosas acaba fascinando-se pela aventura do herói e avatar Rama. 

          A história a seguir ilustra como o autor, outrora um abominável criminoso, tornou-se um grande devoto ao entrar em contato com um mestre espiritual auto realizado, dotado de qualidades divinas. Embora nascido em família de sacerdotes, Valmiki convivia com homens de má índole. Em consequência disso, virou um criminoso violento, tendo, inclusive, assassinado muitos sábios. Certa vez, ele se aproximou do elevado sábio Narada Muni com a intenção de matá-lo. Bastou Narada erguer a mão e dizer: "Pare!" para Valmiki, perplexo, ver- se forçado a congelar seus movimentos. Diante daquilo, Valmiki sentiu seu coração invadido por uma atitude natural de submissão a Narada. O sábio, então, aproveitou para revelar-lhe as reações que recairiam sobre ele como resultado de seus pecados abomináveis. Refugiando-se em Narada, Valmiki perguntou-lhe o que deveria fazer para eximir-se daquelas reações.

            Narada disse: "Sente-se aqui e cante: Rama Rama Rama Rama Rama. Faça isso, e  mais nada. Valmiki tentou acatar a ordem de Narada, porém, em virtude do frutificar das reações às suas tantas ações pecaminosas, ele não conseguiu cantar aquele nome divino. Narada sagazmente lhe disse: "Se você não é capaz de cantar 'Rama", cante 'mara', então".

              O termo mara, que significa morte em sânscrito, é formado pelas mesmas sílabas que Rama, só que invertidas. A repetição de mara mara acaba soando como Rama Rama. Após orientar Valmiki daquele modo Narada foi-se embora.  

            Para Valmiki, foi fácil cantar mara mara, coisa que ele continuou fazendo por milhares de anos enquanto aguardava a volta de seu guru. Ele passou todo aquele tempo sem comer, defecar ou urinar. Pouco a pouco as formigas (da espécie valmika) consumiram sua carne, sangue e demais substâncias físicas, até que seu corpo foi envolvido por um formigueiro. Por fim, ele desapareceu, aponto de agora parecer feito de terra. Eventualmente, Brahma, líder dos semideuses e guru original da sucessão discipular proveniente do Deus Krishna, chegou ali . Ao ver o estado em que se encontrava o corpo de Valmiki, o Senhor Brahma borrifou- lhe água sagrada enquanto proferia mantras. Logo, o corpo de Valmiki retomou o vigor de um corpo em plena juventude. Brahma disse-lhe "Você acaba de aperfeiçoar o cantar de seu mantra, logo, já tem percepção direta do Senhor Supremo."

            Posteriormente, no transcurso de sua meditação, o agora grande sábio Valmiki compôs o famoso Ramayana, a biografia autorizada do Senhor Rama, cujo nome ele vivia cantando. Escrito há centenas de milhares de anos, o Ramayana é considerado um dos Vedas (escrituras sagradas) originais e o épico espiritual mais famoso na Ìndia. Valmiki o redigiu antes mesmo de o Senhor Rama surgir nesse mundo.


Fonte: "Alma, identidade espiritual e outros segredos", de Shri Shrimad      

            Bhaktivedanta Narayana Goswami Maharaja- Editora Braja

domingo, 30 de março de 2025

A luta

                                  


                       Sozinho mas lutando

                       Lutando com vontade de vencer

                       Pra sentir o gosto

                       Pra sentir o desgosto

                       Ouvindo uma voz que me diz,

                       lá do topo do poço:

                       "Ames e serás amado"


                        As coisas tomam forma

                        e eu nem entendo,

                        aparentando satisfação,

                        só pra não saber a tua opinião

                        Volto pra casa sem novidades

                        Durmo pensando em acordar

                        Achando bom ser diferente


                        Aquilo que não tinha importância,

                        agora ocupa o seu lugar,

                        contradizendo tudo o que eu antes sonhara:

                        Ter um corpo transparente

                        e não guardar mais segredos.


          Poesia resgatada do meu próprio baú. Tá inserida em " No limite das palavras", livro em estilo manifesto pós adolescente que marcou meu debut no mundo das letras. Talvez algum dia, quando o tempo e a oportunidade permitirem, eu retrabalhe integralmente o seu texto e traga-o à luz do dia, quem sabe. 

sexta-feira, 14 de março de 2025

Selassie na Liga das Nações

 


    Não quero que vocês me interpretem como um cético irrecuperável, mas a tão almejada paz mundial, pelo menos por ora, configura-se como utopia distante. Os atuais líderes e protagonistas mundiais, como enxadristas,  mexem as peças de seus   tabuleiros em direção ao confronto direto, priorizando interesses próprios e não o mútuo entendimento.  O discurso que abaixo reproduzo, proferido por um governante de uma nação africana, à época, assediada pela ambição imperialista dominante, na década de trinta, continua bastante atual. Refletir sobre ele é entender o que separa-nos ainda da integração social e harmonia entre os povos.


 

Discurso do Imperador Etíope Haile Selassie na Liga Das Nações em 1936:

Texto esse  que serviu de inspiração para a música “War” que se tornou um dos maiores clássicos de Bob Marley.
"Enquanto a filosofia que declara uma raça superior e outra inferior não for finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada; enquanto não deixarem de existir cidadãos de primeira e segunda categoria de qualquer nação; enquanto a cor da pele de uma pessoa não for mais importante que a cor dos seus olhos; enquanto não forem garantidos a todos por igual os direitos humanos básicos, sem olhar a raças, até esse dia, os sonhos de paz duradoura, cidadania mundial e governo de uma moral internacional irão continuar a ser uma ilusão fugaz, a ser perseguida mas nunca alcançada. E igualmente, enquanto os regimes infelizes e ignóbeis que suprimem os nossos irmãos, em condições subumanas, em Angola, Moçambique e na África do Sul não forem superados e destruídos, enquanto o fanatismo, os preconceitos, a malícia e os interesses desumanos não forem substituídos pela compreensão, tolerância e boa-vontade, enquanto todos os Africanos não se levantarem e falarem como seres livres, iguais aos olhos de todos os homens como são no Céu, até esse dia, o continente Africano não conhecerá a Paz. Nós, Africanos, iremos lutar, se necessário, e sabemos que iremos vencer, pois somos confiantes na vitória do bem sobre o mal."


Fonte: rastafaribrasil.blogspot