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domingo, 22 de março de 2020

A vitamina C

 

O que é a vitamina C?

A vitamina C, ou ácido ascórbico, é uma vitamina hidrossolúvel, ou seja, solúvel em água (na proporção de 1g em 3ml). Por não ser sintetizada pelo organismo, deve ser obtida pela alimentação.
É absorvida no intestino delgado (no jejuno e íleo) na presença de sódio. Quando exposta ao calor, ar (oxigênio) e meio alcalino, é facilmente oxidada e perde as suas funções, principalmente quando o alimento está em contato com o cobre e ferro.

Como a vitamina C age no sistema imunológico?

A vitamina C aumenta a produção dos glóbulos brancos, células que fazem parte do sistema imunológico, e tem a função de combater micro-organismos e estruturas estranhas ao corpo. A vitamina C também aumenta os níveis de anticorpos.

Por que a vitamina C é interessante para quem está gripado ou resfriado?

A vitamina C tem níveis diminuídos quando o sistema imunológico está debilitado, por isso, em caso de gripe ou resfriado, é interessante fazer reposição. No entanto, o ideal é ter níveis adequados de vitamina C para diminuir a incidência de resfriados e gripes para que as doenças sejam facilmente combatidas pelo organismo.

Qual substância ou substâncias presentes na vitamina C proporcionam sua ação antioxidante?

A própria vitamina C tem ação antioxidante, que ajuda a neutralizar os radicais livres por promover uma limpeza de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (tipos de radicais livres) e, assim, proteger o organismo dos danos do estresse oxidativo (excesso de radicais livres no organismo).

Por que a ingestão de vitamina C ajuda a melhorar os quadros de estresse?

A vitamina C é essencial para a produção de hormônios de resposta ao estresse, como cortisol, histamina e norepinefrina (noradrenalina).

Por que a ingestão da vitamina C melhora o humor?

A vitamina C é essencial para a produção de neurotransmissores como a serotonina, adrenalina, noradrenalina e dopamina, que regulam o humor.

Por que a ingestão de vitamina C contribui para que a pele não fique tão enrugada? O que proporciona o benefício?

A vitamina C é essencial para a produção natural de colágeno no corpo, a proteína que dá sustentação e firmeza para a pele (além de cabelos, unhas, articulações). Se a produção de colágeno reduz, começam a aparecer rugas, linhas de expressão e flacidez na pele. A vitamina C também tem ação antioxidante, ou seja, neutraliza os radicais livres, protegendo a pele contra a degradação de colágeno.

Como a vitamina C melhora a absorção de ferro?

A vitamina C contribui para a melhor absorção do ferro não heme, proveniente de alimentos de origem vegetal, além de melhorar a absorção do ferro heme, derivado de alimentos de origem animal – e que já possui boa biodisponibilidade. O mecanismo pelo qual a vitamina C contribui para a melhor absorção de ferro se dá devido ao seu PH ácido, que promove a conversão do íon férrico (Fe+++) em íon ferroso (Fe++), aumentando assim sua absorção.

Quais os nutrientes que precisam ser combinados com a vitamina C para proporcionar o benefício?

Alguns estudos revelam que a suplementação de vitamina C combinada com outros nutrientes e substâncias antioxidantes, como luteína, zeaxantina, vitamina E, zinco, cobre e betacaroteno, pode reduzir a progressão da doença.

Há outros benefícios que a vitamina C proporciona para o organismo?

A vitamina C é importante para a produção de carnitina, substância responsável pelo transporte de gorduras para serem queimadas e transformadas em energia. Também tem ação antialérgica, já que inibe a histamina, responsável pelos sintomas de alergia.


Fonte: natue.com.br

sábado, 7 de março de 2020

U maconhêro



            Antes que comecem a me espezinhar pelas costas ou pelas redes sociais, como nas outras vezes  em que abordei um tema tão delicado, salto fora em minha defesa e justifico, antes de qualquer outra coisa, o porquê de se intitular uma narrativa dessa forma, com um termo tão revelador de personalidade. Tino é o protagonista da minha história e coerente é, defini-lo com um adjetivo o mais fiel possível ao seu jeito de ser.
         Acaso existe palavra que melhor defina um sujeito que em sua trajetória inicial como músico, em Forquilhinhas Do Leste, cidadezinha, é óbvio, do leste gaúcho, cantava e descrevia realidades sonoras assim:

1-   Queimando um do bom
2-   Zóio vermelho
3-   Chapadinho, mas feliz
4-   Aperta logo
5-   Só uns tapinha
6-   Sujô a barra
7-   Quem é que tem?
8-   Pensando longe
9-   De lombra na báia


          Se agora foi chocante e surpreendente ler um set-list ou lista de músicas dessa, na contracapa de um CD, imaginem qual não terá sido a surpresa do Ari, quando finalmente recebeu do próprio filho, em mãos, o tão aguardado CD de estréia da sua banda. Haviam transcorrido oito meses, quase uma gestação, com ensaios técnicos em estúdio e trabalhos de lapidação das composições. Nunca, no entanto, Tino havia entrado em maiores detalhes sobre suas, digamos assim, influências sonoras e de comportamento. O nome do grupo, Brisa, não chegou a despertar desconfianças na cabeça do velho, que esperava, no entanto, se deparar com outros títulos de canções. Sabia que o guri tocava baixo num conjunto e ponto final. Não sabia nem queria saber o que compunham aqueles quatro jovens na garagem do avô de um deles, o Seu Lauro.
           Puxando, tempos depois pela memória o velho bem que se lembrou de algo. O guri chegava ás vezes um pouco diferente, estranho para seus padrões habituais. Ele, que era normalmente calado, quando chegava dos ensaios desatava a falar, puxar assunto toda hora com o pai, sempre às voltas com o Passat na garagem. Ari achava um pouco estranhas aquelas mudanças ocasionais de comportamento, mas nunca, até então, chegou a cogitar um estado alterado de consciência no filho.
           Semelhantemente, o jovem, que no dia-dia era reservado, contido, discreto, desatava á rir por qualquer coisa em determinados momentos, que coincidência ou não, eram noturnos e sempre após os referidos ensaios na garagem. Sem falar naquela fome dos diabos que dava nele de madrugada, assaltando geladeira e baixando estoque da cozinha..
           Fora isso, o velho aparentemente encarava com naturalidade e sem maiores desconfianças o crescente interesse do seu rebento pela música. Se quisermos ser mais precisos, em honra á verdade, foram os vizinhos quem haviam, a  mais tempo, sacado o que se passava na realidade:

-- O guri do Ari vive puxando fumo atrás da Caixa D’água, tu sabia?

          Isso disse Gilmar, o bigode, ao interromper 1 minuto e meio de silêncio durante conversa privada com a própria esposa, na cozinha de casa.

 -- Sabe quem eu vi pegando uma paranga com o Vito, na esquina? Aquele cabeludo, filho do Ari.
-- Haaaaaaaaaaa... Mas tava na cara, Gilda... Esse nunca me enganô. Gosta de fazê uma fumaça que se péla...Kkkkkkkkkkkkkk

           Eneida, mulher do Cláudio Vesgo, havia assim atestado o que sabia das idas, vindas e movimentos do Tino, filho único do maquinista de trem aposentado, Ari.
          As músicas que o velho costumava escutar em seu rádio AM de pilha, muito pouco guardavam semelhanças com as composições ali defendidas pelo filho:  Coração Sofredor, Você foi a minha desgraça, Bolero de um apaixonado,  Seresteiro ao luar e  Amor de outono. Todas essas encabeçavam a sua lista de preferências. Essas eram as composições e melodias que faziam a cabeça do conservador aposentado. Não era dado a orgias ou aglomerados em festas, salões e botecos. Talvez por isso, tenha ficado tão surpreso e boquiaberto quando leu o encarte daquele CD, naquela emblemática noite de quarta-feira.
           Brisa, guardadas as devidas proporções e raio de alcance, foi considerada pela crítica especializada da região, o Planet Hemp de Forquilhinhas do Oeste. Ari, ingênuo, interpretou o nome de batismo do quarteto como singela homenagem ao suave sopro da natureza. Só mais tarde veio a perceber que essa Brisa não era bem aquela que ele pensava...


          O aposentado, à princípio, fez o certo, buscou auxílio em dicionário pra saber com certeza o significado daquele nome para aquele conjunto de jovens. Encontrou, na página 104 do Mini Dicionário FTD que tinha em mãos: Aragem, arzinho fresco, viração. Não desconfiou de nada. Achou, em contrapartida, que era só homenagem ao ar fresco, quando na verdade, a Brisa que soprava na mente do filho era aquela da boa, da tranqüila.
         

             O CD em mãos foi quem, finalmente, acendeu-lhe a luz da compreensão. Foi a revelação que ele não esperava e a opinião alheia, lamentavelmente, prevaleceu em sua decisão final.

       Em casa, o guri era calmo, quieto, não incomodava. Atencioso, solícito, amoroso com a mãe. Cooperativo, disposto, obediente ao pai. Teve gosto pela música desde pequeno. Aprendeu a tocar violão de ouvido e revelou talento precoce para composições. Naquela minúscula cidade do interior as oportunidades praticamente não existiam. Tinha um só estabelecimento que contratava músicos de vez em quando, a Churrascaria do Gago, mas as vagas eram para os tradicionalistas, da lide campeira, do fogo de chão, da gordura no espeto. Fazer rock, naquela época e local, não enchia barriga. Não havia mercado para composições locais, muito menos pra um tema tão espinhoso como a Brisa.
     Mesmo assim, contornando as limitações impostas, os quatro companheiros tiveram gana suficiente pra alugar um estúdio na vizinha cidade de Penedo Abreu e gravarem o CD de estréia. Foi uma bomba que caiu e impactou, como nunca antes, as opiniões e comentários pelas avenidas, vielas e praça de Forquilinhas.

-- Mi diz uma coisa Eneida, foi tu mesmo que viu o maconhêro sem vergonha do Tino pegando uma paranguinha no Vito?

-- Não, Baxinha, não foi uma, foi duas paranga. Fui eu sim... Depois fiquei ligada e via ele toda semana lá...

-- Pois é... e o velho, sustentando esse vagabundo. Ahhh é músico o moço, desculpa... Kkkkkkk. Quem é qui vai vivê di música nêssi fim di mundo?
-- É mais parece qui ele trabalha na chácara do velho, como um cavalo. Ajuda no serviço pesado, parece...
-- Não interessa! É vagabundo, marginal, traficante, maconhêro!   

         

          A Baixinha não foi a única. Comentários cada vez mais mordazes, pejorativos, tornaram-se a pauta predileta nos chimarrões, festinhas de aniversário e no campo de várzea, no freqüentado Torneio da Associação. O velho Ari, mais do que outro qualquer, sofria intensamente com tudo aquilo.

-- O guri do Ari anda no meio da vagabundagem, dos marginal então... Tinha que ta preso pra não dá mau exemplo e ficá passando droga... O Exército tinha é que chegá saracoteando bala naquele beco e não interessa... quem vai comprá sustenta esse negócio. Cadeia neles também.

-- É Nico, mas mesmo se continuá proibindo du jeito que ta, quem gosta vai dá um jeito e vai continuá comprando. É isso que acaba financiando esse poder todo do tráfico. Claro que Legalização ou Regulamentação, tem que sê discutido, esclarecido à sociedade pra que se faça do jeito que tem que sê feito, entende?
 -- Qui discuti o quê... Tu é PT. Tu é dessa turma do socialismo di isquerda. Tu é comunista. Tu é admirador dessis inimigo da família, é isso que eu tô vendo.

          O grande impasse era que, inevitavelmente, os burburinhos chegaram aos ouvidos cheios de pêlos do velho e isso lhe irritou. Na cidadezinha de 17.000 habitantes, literalmente falando, todos se conheciam, desde o último cusco nascido ao prefeito, que por sinal, acumulava também as funções de parteiro, capelão, tabelião e, em alguns delitos de menor gravidade e repercussão, juiz criminalista. E foi justamente o prefeito quem sugeriu a internação forçada de Tino na clínica de um cunhado seu, o Netto, que tinha um irmão pastor na Igreja Universal.
          Ari, atazanado com tantos comentários e projeções maldosas, não quis nem ouvir as explicações do guri. Botou ele pra fora, de mala e cuia, com uma mão na frente e outra atrás. O aposentado sentiu-se traído, envergonhado, decepcionado. O que falavam ou ouvia insinuarem a respeito do filho era pra ele insuportável e exigiu-lhe atitude.

-- Pega as tuas coisa no quarto e vai!

          Tino, antes que interroguem-se os interessados, foi ao mundo, de fato. Foi pra capital e depois deixou o país, sempre tocando a sua música, suave como o sopro da brisa.



                                                                                        Cesar
          



         






         
           
           


domingo, 1 de março de 2020

Vaguinho



           
            Vaguinho, o filho homem de Odir, certo dia saiu de casa pela manhã comunicando á mãe que iria “ver um serviço”. Fez o mesmo no 2º, 3º e 4º dia consecutivo. No 5º dia ela resolveu seguí-lo para desvendar de vez o mistério do tal emprego que não se concretizava. Queria saber o motivo de tanta demora em se admitir ou dispensar alguém.
            Naquela manhã Vaguinho ao sair viu alguém ou alguma coisa “fresteando” na janela da   sua casa. Julgando ser apenas uma ilusão óptica, deu as costas e foi ver o tal serviço. Ao afastar-se uns 200 metros do portão, começou á ser seguido sorrateiramente pela mãe. Mantendo sempre a mesma distância regulamentar, Dona Elvira pôde finalmente perceber a real situação. Viu quando seu filho sentou-se na calçada de uma avenida que estava sendo pavimentada. Lá trabalhavam, de baixo de um sol de 40 graus, os funcionários da prefeitura. Os olhos do rapaz acompanhavam pacientemente o desenrolar da cena. Estava de fato, literalmente, vendo um serviço.


Fonte: Trecho do conto "Heraldo Zona Sul", do meu livro de estréia, a coletânea "Utopias Papareias"(2007)- Edição Independente- 97 p.