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sábado, 15 de junho de 2019

Meninas Crespas



 

Ensino de idioma africano e criação de biblioteca comunitária na Restinga

Projeto Meninas Crespas, desenvolvido em Porto Alegre, oferece aula de yorubá, idioma de origem africana, e cria acervo com obras que abordam história dos negros
Um encontro semanal na Casa Emancipa, na Restinga, extremo sul da Capital, está mudando a consciência e os sentimentos de crianças negras. São ações que fazem parte do projeto Meninas Crespas, criado em 2015 pela professora Perla dos Santos, com a parceria de algumas mães e alunas da Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Alberto Pasqualini, no mesmo bairro.
A reunião do grupo ocorre sempre aos sábados. Agora, para fortalecer ainda mais o laço dos integrantes do projeto – composto em sua maioria por mulheres negras – com a negritude, estão sendo organizadas aulas do idioma yorubá, de origem africana. Além disso, o grupo está criando uma biblioteca afrocentrada, que terá livros nos quais a história do negro será contada por diferentes vieses, não apenas centrada na escravidão ou na visão dos colonizadores europeus.
— Queremos demonstrar para as crianças e também aos demais participantes que o negro tem uma história muito rica e anterior à escravidão. São séculos de reis e rainhas africanos cujas histórias não são contadas nas aulas ministradas nas escolas — explica a professora Perla.
Atualmente, o projeto não tem mais ligação com a rede pública de ensino. As aulas de yorubá, que começaram no sábado, são ministradas pelo eletricista Gercy Ribeiro de Mattos, 61 anos. Chamado de mestre Cica, Gercy é pesquisador da cultura africana e babalorixá da nação Oyo do Batuque no Rio Grande do Sul. O idioma yorubá está na família dele há algumas gerações. 
Manutenção da tradição
Para o mestre, além ensinar as crianças sobre a existência do idioma africano, as aulas são uma maneira de manter a língua viva.
— Toda a repressão que os negros sofreram no período da escravidão calou essa língua. Mas, o yorubá foi sobrevivendo de geração em geração, graças ao esforço dos nossos ancestrais — conta mestre Cica.
Uma das alunas da classe é a professora Kátia Flores, 39 anos, que conheceu o Meninas Crespas recentemente. Além dela, as aulas de yorubá contam com a presença de duas de suas filhas, Lívia, sete anos, e Luiza, quatro anos, e também da sobrinha Laura, oito anos, que está há mais tempo envolvida com a organização social.
— Essas ações são perfeitas para demonstrar as crianças a importância de resgatar a negritude da nossa população — pontua Kátia.






Fonte: batuquers.com.br

sábado, 1 de junho de 2019

Vida de um estrangeiro

        
                                                             Demorou um tempo
                                                             Pra conseguir visto.
                                                             Demorei alguns meses pra juntar dinheiro.
                                                             Pra viajar a tempo

                                                             Demorei um dia pra chegar
                                                             Para ouvir outras pessoas falando outra língua
                                                             Fiquei na janela
                                                             Ouvindo gente falar
                       
                                                             Consegui entender sem falar
                                                             Consegui amigos pra me ajudar
                                                             Eles conseguiram entender as minhas idéias
                                                             Estava com vontade de falar e até de escrever poesia

                                                            Demorei alguns minutos pra escrever esta poesia
                                                            Não demorou tanto pra divulgar minhas obras
                                                            Mas vou demorar toda a minha vida
                                                            Pra entender porque existe o racismo.

           

                                        Poesia do livro "O Inimigo em Comum", do escritor haitiano Joseph

                                        Mike L. Loudney,  jovem imigrante que trocou Porto Príncipe (capital 

                                        daquele país) pelo Brasil em 2017.