Um pouco da história da maconha
Originária da região do norte do Afeganistão,a planta Cannabis Sativa, a maconha, é utilizada há aproximadamente 6.000 anos. O primeiro escritor a mencionar o uso do cânhamo em cordas e tecidos é Heródoto, um historiador grego que é considerado o pai da história.
A fibra do cânhamo, presente no caule da maconha, foi muito utilizada nas cordas e velas dos navios gregos e romanos, e era usada também para fabricar tecidos, papel, palitos e óleo. A maconha também era muito utilizada na medicina: na Grécia era utilizada para tratar de prisões de ventre e dores de ouvido. Na China e na Índia, assim como em povos africanos e indígenas, era utilizada para curar prisão de ventre, malária, reumatismo, dores menstruais e como analgésico. Na Índia, a maconha era usada na medicina ayurvédica e na religião hindu. Na mitologia, era a comida favorita do deus Shiva e por isso, tomar bhang, uma bebida que contém maconha, aproximaria Shiva. A tradição Mahayana do budismo diz que antes de alcançar a iluminação, Buda passou seis anos comendo uma semente de maconha por dia, nada mais. Já conhecida nos tempos do Império Árabe, a maconha ganhou popularidade entre os muçulmanos quando foi proibido o consumo de bebidas alcoólicas e o seu uso só diminuiu na Idade Média. O cultivo da maconha se expandiu da Índia para Mesopotâmia e depois para o Oriente Médio, onde já era conhecida. Daí se espalhou para a Ásia, depois para a Europa e desta para a África, onde passou a fazer parte de rituais de certas tribos. As plantações da maconha na Europa eram destinadas à fabricação de produtos com a fibra do cânhamo e raramente era consumida como droga alucinógena. Durante a Renascença, a maconha era um dos principais produtos agrícolas da Europa, tendo grande importância econômica: as fibras do cânhamo eram usadas para fazer tecidos, papel e telas para pinturas. No século XV, os livros impressos depois da revolução de Johannes Gutemberg, o inventor da imprensa, eram feitos de papel de cânhamo, assim como as velas e as cordas das caravelas. O cristianismo, que só aceita entre as drogas o álcool, começou a desenvolver uma certa antipatia com as plantas alucinógenas durante a Inquisição, uma vez que algumas das bruxas que foram queimadas, eram, na verdade, curandeiras que usavam plantas para curar as pessoas. Quando invadiu o Egito, Napoleão proibiu o plantio da maconha, pois era de lá que vinha o cânhamo que abastecia a Inglaterra. Porém, suas ordens foram ignoradas: não somente o cultivo da planta, mas também o hábito egípcio de fumar haxixe continuaram. O tal hábito chegou a virar moda entre os intelectuais da Europa. A maconha foi trazida para a América do Sul pelos colonizadores e as primeiras plantações foram feitas no Chile, pelos espanhóis. No Brasil, chegou no século XVI, trazida pelos escravos africanos que a utilizavam em rituais de Candomblé. Foi então incorporada a algumas tribos indígenas, em seus rituais. No final do século XIX, a maconha era considerada um medicamento e era utilizada por muitos laboratórios farmacêuticos americanos para produzir analgésicos, evitar convulsões e dilatar os brônquios. Esse interesse na medicina reduziu-se no século seguinte, devido à morfina e barbitúricos, que apresentavam melhores resultados. No começo do século XX a maconha, ainda que uma droga licita, não era muito aceita pela classe mais alta da população: no Brasil era associada aos negros, na Europa aos árabes e indianos e nos Estados Unidos aos mexicanos, ou seja, era associada às camadas mais baixas e mais rejeitadas da população. Porém, economicamente, a maconha era muito importante: era utilizada na fabricação de remédios, papel, tecidos, cordas, redes de pesca, óleo, combustíveis, entre outros.
Nos Estados Unidos, entre 1920 e 1933, houve a Lei Seca, que proibia as bebidas alcoólicas e que acabou sendo uma ajuda para a popularização do uso da maconha como droga alucinógena, principalmente entre artistas e músicos. Mas, com a crise da Bolsa em 1929, a maconha, que também era muito utilizada pelos mexicanos, começou a ser relacionada com a marginalidade: sexo promíscuo e criminalidade eram apenas algumas das associações preconceituosas que eram feitas.
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Proibição da maconha
Tendo em vista as associações que estavam sendo feitas da maconha à criminalidade e à marginalidade, em 1937, foi publicada uma matéria em uma revista americana, escrita por um funcionário público que já havia trabalhado nas leis proibicionistas durante o período da Lei Seca, Harry Aslinger. Em “Marijuana: assassina de jovens”, Aslinger condena o crescente uso da maconha pelos jovens, atribuindo à droga as qualidades de “assassina”, “cascavel” e passível de causar irritabilidade e violência.
Entretanto, a campanha de Aslinger contra a maconha pode ter sido por motivos pessoais e econômicos. Pessoais porque Aslinger tinha certo grau de parentesco com o dono de uma petrolífera, que estava investindo em combustíveis, plásticos e fibras sintéticas obtidas do petróleo. Econômicos porque os produtos da maconha estavam tomando o lugar dos novos produtos desenvolvidos a partir do petróleo.
No mesmo ano da publicação da matéria de Aslinger, 1937, o plantio e o uso da maconha nos Estados Unidos foram proibidos. Seguindo o exemplo americano, a planta foi logo proibida na Europa.
A primeira lei brasileira proibindo a maconha é de 1830 e a pena para os traficantes, que eram em sua grande maioria brancos de classe média, era menor do que para o usuário, que eram os negros escravos: enquanto o primeiro pagava 20.000 réis, o segundo teria três dias de prisão. Mas essa primeira lei não foi levada muito a sério e a proibição definitiva aconteceu somente na década de 1920.
Na década de 1960, com o movimento hippie, a maconha, embora já ilícita, tornou-se mais popular, por ser uma das “drogas-símbolo” do movimento.
Em 1976 a Holanda decidiu legalizar o uso da maconha, devido às diversas pesquisas feitas comprovando que a droga, mesmo que nociva à saúde, não merecia tamanha balbúrdia da parte do governo.
Atualmente, a planta Cannabis Sativa pode ser encontrada no mundo inteiro, devido à sua expansão. Seu uso medicinal é quase nulo, pois seu reconhecimento como medicamento é pequeno: é recomendada para reduzir náuseas e vômitos decorrentes do tratamento de câncer e para abrir o apetite. No Brasil, seu uso, mesmo como medicamento é ilegal. Já seu uso como droga alucinógena, é bem grande: é a terceira droga mais consumida no mundo.
Na Jamaica, a maconha ainda é cultivada e muito utilizada com fins ritualísticos: acredita-se que ela possui poderes místicos e divinos, e por isso afasta maus espíritos. O hábito de fumar maconha é um rito, um conjunto de atitudes, costumes e crenças da sociedade, além de ter participação na religião rasta. Nas classes mais altas da população esse hábito é condenado.
O THC, Tetrahidrocanabinol, a substância ativa da maconha, é uma resina que a própria planta produz para proteger suas folhas e flores do sol forte. Hoje em dia, a concentração de THC na maconha vem aumentando cada vez mais, pois as plantas são cruzadas e tornam-se mais potentes.