Vivemos um
momento histórico, que estampará com certeza, todas as retrospectivas que
tentarmos fazer sobre a história moderna do Brasil. Com triste nostalgia, as
pessoas costumavam lembrar de ideais e revoluções de algumas décadas atrás,
como o movimento estudantil dos anos setenta e os mais recentes “caras
pintadas” da era Collor. Ambos foram importantes como instrumentos de
confrontação aos excessos e absurdos de suas épocas, situando-se, no entanto,
distantes de nossas realidades contemporâneas. Permanecíamos simplesmente
assistindo a desoladora onda de corrupção moral, material e mental dos nossos
governantes políticos, responsáveis diretos pela administração dos recursos arrecadados
através da cobrança de pesados impostos.
Imposto é gramaticalmente
interpretado como adj.
Obrigado; ordenado; contribuição ao erário público; taxa. (Minidicionário da língua portuguesa –
Editora FTD: LISA, 1996). Somos todos nós, consequentemente, obrigados,
ordenados a contribuirmos financeiramente com o engrandecimento da nação,
gerando recursos que nem sempre são empregados de maneira correta. Muitas
verbas orçamentárias, hoje sabemos, vão pra conta bancária de mensaleiros e
seus afins, impedidas de atingirem o destino originalmente designado
(Educação, Saúde, Segurança, Habitação e Cultura).
Os protestos nacionais, que
proliferam em ritmo sincronizado ao longo de todo o nosso território, vêm a ser
a reação do povo oprimido e explorado, reivindicando direitos básicos que o
Estado muitas vezes esquece de proporcionar aos seus filhos. O movimento, que
nasceu de uma acirrada luta contra o aumento das passagens urbanas, que
comprometeram seriamente o direito de ir e vir de muitos brasileiros, acabou
atingindo dimensões de revolta popular. Revolta dos pacíficos, no âmbito da
confrontação de ideias, e dos violentos, na plataforma do quebra-quebra e
roubos. Tanto uns quanto os outros, mostraram-nos porque é tão incontestável
que, de fato, a união faz a força.
Dessa vez não existem líderes
eloquentes ou mártires específicos que controlem a seu bel prazer as
estratégias de combate. O movimento, jovem por excelência, parece bem maior que
as restritas visões políticas de muitos carismáticos fundadores de partidos ou
seitas. Me enchi de esperança e orgulho dessa geração, que baniu das
manifestações as bandeiras partidárias que tentaram infiltrarem-se
oportunisticamente na multidão. De igual forma, parabenizo os bravos combatentes
que escancararam as suas indignações nos terraços de Brasília, berço e leito da
corrupção e deboche. Congresso, Câmara, Senado, todos sentiram um salutar “bafo
na nuca” que fizeram-nos, certamente, reavaliarem absurdos monstruosos como a
tal PEC 37. A emenda, se aprovada, tira do Ministério Público a competência para investigar crimes, entre eles o do colarinho branco, atribuindo essa função exclusivamente à Polícia Federal ou Civil, ambas já sobrecarregadas e com défcit de funcionários.
Não
apoio, cabe aqui o registro, as depredações computadas até então, mas situo-me
ao lado dos revoltosos contra a classe política, à respeito da qual tenho
pouquíssima ou nada de fé. Acredito, isso sim, em Deus e na energia construtiva
e transformadora dos jovens de espírito. A batalha, eu sei, ainda não foi
ganha, mas sugiro que comemoremos essa impressionante sacudida no destino
da nação, essa eminente candidata à potência mundial.
Cesar S. Farias
Cesar S. Farias