Em tempos de Copa do Mundo, mensalão, paralisações,
confrontos, choques de opiniões e rolezinhos somos todos obrigados, queiramos
ou não, à assumirmos alguma posição frente aos absurdos dos noticiários. O rock,
em meados dos anos 60 e 70's, assumiu naturalmente o posto de música-protesto,
encravando-se na mente da juventude daquela época, como um grito de basta à
hipocrisia da sociedade. O estilo, apesar do passado glorioso e salvo algumas
raríssimas exceções, perdeu a força de rugir como fera que incomoda, sendo
substituído à altura por um certo som importado das periferias. O rap é
atitude, o rap é a voz dos sem voz, rap é Hot Players Crew. Música contestatória, olho no olho, sem meias palavras
ou papas na língua.
Cada Passo um Plano, segundo trabalho desses guris de Eldorado do Sul (12
Km de Porto Alegre), é um dardo pontiagudo e afiado contra preconceitos,
mentiras e distorções de conduta cristalizados em nossa sociedade. Dificilmente
escutaremos os nossos rebeldes rockeiros contemporâneos compondo coisas como
"Bem vindo a selva", na qual a autoridade do mau policial é desafiada
sem hesitação. Tenho sérias dúvidas se, em contrapartida, encontraremos nos
versos de paradas tipo "As 10 mais da Jovem Pan", petardos tão
impiedosos contra o moralismo hipócrita como "Os muleke zica", faixa
em que o estilo característico dessa dupla de rappers se faz presente, firmando
a identidade e pulsação toda própria que eles imprimem em sua batida. Seguindo
a linha de comparações com o cenário pop nacional, onde encontrarei uma alusão
tão clara a uma certa erva proibida e mal vista, como em "Com Ret na
Street" e "Meu Ideal", onde o direito de fumar um, na paz, com o
suor do próprio trabalho, é reivindicado sem omissões ou medo de represálias. A
diversão, a balada e a paquera não são, igualmente, negligenciadas,
proporcionando-nos momentos de descontração e machucando corações apaixonados.
"Ela é" e "Malvada", batidão provocante como o próprio
nome, são a prova material de que rapper
também ama.
Não bastassem as credenciais que o
próprio estilo possui, na linha de frente contra as injustiças sociais, Diego Ret e
Bruno Street gozam de um ótimo
entrosamento vocal, revezando-se em versos ora velozes, ora cadenciados, que
fazem a cabeça dos manos entregarem-se à mensagem positiva e motivadora do Hot
Players Crew. A qualidade faz-se evidente em todas as faixas, que contam com
participações especiais de ícones do rap gaúcho como Hantaru, Primo & Fred
e Mano B, autenticando ainda mais o competente trabalho da dupla, que parece
ter fincado firmemente os pés no solo que lhes pertence dentro da cultura
Hip-Hop.
Há espaço, de fato, à várias e
diversificadas estrelas. Basta que cada uma delas ocupe o seu lugar de direito.
É isso que Hot Players Crew faz quando ressurge nesse segundo Cd, um manifesto
sonoro amadurecido e consciente, de mentes jovens que clamam por mudanças
versando algo do tipo:
"...e
foda-se se eles não tocam o nosso rap lá,
só quero
aqui a minha mensagem passar,
tipo
carteiro, que vai de casa em casa,
e não
descansa até a mesma ser passada."
"...
Tem que ter disposição na fita e foco na
missão,
Progresso, esse é o decreto, queremos
revolução."
A música genuínamente popular é
assim, não conta com a mídia para chegar ao apreciador. O Cd ou livro
independente conta apenas com o esforço pessoal do artista e a identificação
imediata do público alvo, seja nas esquinas, botecos, centros comunitários,
blogs e outros espaços alternativos. Com A Cada Passo um Plano, usando a própria terminologia dos gurizes, não é
diferente:
" Adquiriu, ouviu, curtiu, viu, eu avisei..."
Se o assunto é fugir do comodismo,
volte-se para o rap.
"Se é isso que voces qué, então toma aí."
Cesar S. Farias
Cesar S. Farias
O Cd pode ser adquirido em Porto
Alegre na Loja Ponto Favela- 4º andar da
Hipo-Fábrica- Centro ou pelo
endereço eletrônico hotplayerscrew@outlook.com