Ora,
os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro
Simão, por sobrenome Pedro e André,
seu irmão;
Tiago, filho de Zebedeu e João, seu irmão;
Fiipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano;
Tiago, filho de Alfeu e Tadeu;
Simão, o zelote e Judas Iscariotes,
que foi quem o
Traiu.
Mt 10.2-4
Começo
essa segunda postagem do mês, praticamente como iniciei e terminei a anterior,
evocando os doze discípulos escolhidos pessoalmente pelo grande Rabi da
Galiléia (Judas foi substituído, após a morte de Jesus, conforme relato no
livro de Atos, por Matias.). Foram eles quem receberam as instruções diretas,
sem interpretações de terceiros, acerca do Reino de Deus e outros tantos
mistérios ocultos desde os tempos dos profetas. Não quero, pois, perdê-los de
vista para introduzir meus fiéis leitores a continuação desta que bem poderia
ser uma programação de natal ou de páscoa aqui do blog. Que os doze
privilegiados apóstolos conduzam-nos e perdoem a minha ignorância se por acaso
faltar-lhes eu com o devido respeito.
Coloco-me, despretensiosamente, na condição de estudante e admirador
confesso do Mestre Nazareno, sem que para isso tenha eu filiação formal a
alguma instituição religiosa de orientação cristã. Acredito que os ensinamentos
proferidos por Ele, a dois mil anos atrás, ainda encontram-se atuais e têm o
poder de transformar o mundo num lugar mais justo e harmonioso. Apesar disso,
criticamente analisando, constato que as palavras de um teólogo acabaram, ao
longo dos séculos, sendo a majoritária fonte de inspiração às doutrinas
ensinadas pela esmagadora maioria das igrejas.
De fato, á começar por grande parte do livro de Atos, nada menos do que
catorze livros dedicam-se a traduzir o pensamente de Paulo, alguém que jamais
esteve com Jesus em vida, sobre a missão do Filho de Deus. Acredito, sim, no
arrependimento sincero de um ser humano, no entanto, como a própria Bíblia
testifica, Paulo fora um assassino e implacável perseguidor dos primeiros
cristãos. Minha limitada compreensão, ao menos num primeiro instante, não
consegue vislumbrar justificativas sólidas para ele ser, da noite pro dia,
alçado ao patamar de mais respeitado apóstolo do Senhor. Toda a sua
pseudoautoridade está sustentada na visão que teria tido do Jesus glorificado e
sem corpo de carne e osso. Perdoem-me quem pensa o contrário, mas não posso
deixar em branco a oportunidade de comentar que acho essa história um pouco
estranha. Alguém que não foi pessoalmente treinado pelo principal Rabi
instrutor das escrituras judaicas, alavancado à condição de incontestável líder
cristão...
Se acharam escandalosa, herética essa minha posição, alarmar-se-ão ainda
mais com a seguinte. Defendo, ainda numa aspiração quase solitária, que se
discuta, estude e questione a composição do Novo Testamento bíblico,
procedendo-se uma imparcial análise da autenticidade dos diversos escritos
dispersos que, direta ou indiretamente, narraram a passagem do Filho do Homem
sobre a Terra. Não tenho dúvida que existem, entre tantos textos apócrifos não
incluídos no cânone sagrado da Bíblica, outras narrativas que contribuiriam
significativamente para avançarmos em conhecimento sobre esse personagem
histórico que tantos corações cativa. Interesso-me, da mesma forma, em seguir
os passos dos discípulos e entender o que ensinaram, viveram e como desapareceram.
Onde foi parar Simão? Qual o destino de Mateus? Terá escrito alguma coisa
Filipe? Pra onde viajou Tiago? Existirão mais relatos sobre Pedro? André terá
compartilhado alguma coisa em determinada cidade? Pra que lado foi cada um
deles, afinal?
Conforme já devem ter percebido,
proponho uma sacudida na fé cristã, religando-a as suas origens primitivas,
através dos seus autênticos vetores de transmissão. Hierarquicamente falando,
cada um dos doze possui inestimável bagagem de conhecimento e experiência
direta com o Messias, merecendo destaque igual ou maior que Paulo nas
escrituras sagradas. Tenho que confessar, a primeira vez que ouvi tudo isso,
classifiquei como imperdoável blasfêmia. À medida que fui imparcialmente
ponderando os fatos, comparando os ensinamentos de Paulo com os de Jesus,
percebi que existiam, com efeito, pontos conflitantes. Não mergulharei nestes
na presente crônica, para evitar uma overdose de escândalos que exigiriam ampla
dissertação teológica. Respeitarei, pois, as convicções daqueles que até aqui
sentiram-se ofendidos e irritados, deixando para outras oportunidades uma
análise mais detalhada sobre o cisma.
Atrevo-me a dizer, sem cometer o sacrilégio de prever o dia e a hora,
que a volta de Cristo está atrelada a revelação de seus ensinamentos ofuscados
pelo tempo e pelas interpretações paulinas. A graça divina, sem dúvida, poderia
ter repousado na cabeça de quem ela julgasse apto para a tarefa missionária.
Sabemos que Deus manifestou-se particularmente a hebreus como Abraão, Moisés e
Jacó, que não haviam convivido com grandes mestres. Pondero-me, no entanto,
porque Jesus teria criteriosamente escolhido e instruído doze homens para que,
posteriormente, as suas pegadas caíssem em quase total esquecimento?
Respeitosamente, em memória aos
apóstolos.
Cesar