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domingo, 17 de março de 2019

Samba


O samba é considerado por muitos críticos de música popular, artistas, historiadores e cientistas sociais como o mais original dos gêneros musicais brasileiros ou o gênero musical tipicamente brasileiro. A despeito da centralidade ou não do samba como gênero musical nacional, sua origem (ou a história de sua origem) nos traz o registro de uma imensa mistura de ritmos e tradições que atravessam a história do país.
O samba originou-se dos antigos batuques trazidos pelos africanos que vieram como escravos para o Brasil. Esses batuques estavam geralmente associados a elementos religiosos que instituíam entre os negros uma espécie de comunicação ritual através da música e da dança, da percussão e dos movimentos do corpo. Os ritmos do batuque aos poucos foram incorporando elementos de outros tipos de música, sobretudo no cenário do Rio de Janeiro do século XIX.
A partir do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro, que se tornara a capital do Império, também passou a comportar uma leva de negros vindos de outras regiões do país, sobretudo da Bahia. Foi nesse contexto que nasceram os aglomerados em torno das religiões iorubás na região central da cidade, principalmente na região da Praça Onze, onde atuavam mães e pais de santo. Foi nessa ambiência que as primeiras rodas de samba apareceram, misturando-se os elementos do batuque africano com a polca e o maxixe.
A palavra samba remete, propriamente, à diversão e à festa. Porém, como o tempo, ela passou a significar a batalha entre especialistas no gênero, a batalha entre quem improvisava melhor os versos na roda de samba. Um dos seguimentos do samba carioca, o partido alto, caracterizou-se por isso. Como disse o pesquisador Marco Alvito em referência à história da palavra:
“Um das possíveis origens, segundo Nei Lopes, seria a etnia quioco, na qual samba significa cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito. Há quem diga que vem do banto semba, como o significado de umbigo ou coração. Parecia aplicar-se a danças nupciais de Angola caracterizadas pela umbigada, em uma espécie de ritual de fertilidade. Na Bahia surge a modalidade samba de roda, em que homens tocam e só as mulheres dançam, uma de cada vez. Há outras versões, menos rígidas, em que um casal ocupa o centro da roda. (ALVITO, Marcos. Samba. In: Revista de história da Biblioteca Nacional. Ano 9. nº 97. Outubro, 2013. p 80). ”

Como referido, esse samba de roda determinou a essência do samba tipicamente carioca, isto é, seu caráter coletivo, com versos de improviso e refrões cantados em grupo. Na virada do século XIX para o século XX, o samba foi se afirmando como gênero musical popular dominante nos subúrbios e, depois, nos morros cariocas. Dois sambistas ficaram muito conhecidos nesse contexto: João da Baiana (1887-1974), filho da baiana Tia Perciliana, de Santo Amaro de Purificação, que gravou o samba “Batuque na cozinha”, e Donga (Joaquim Maria dos Santos) (1890-1974), que registrou, em 27 de novembro de 1916, aquele que ficou conhecido como o primeiro samba registrado em gravadoras: “Pelo telefone”.
A partir dos anos 1930, o samba ganhou grande espaço na indústria fonográfica e também foi usado pela política ditatorial de Getúlio Vargas na época do Estado Novo. Um dos grandes estudiosos das raízes do samba também era sambista e figurou entre os nomes que se alastraram no Rio de Janeiro nos anos 1930. Seu apelido era “Almirante”, seu nome era Henrique Foreis Domingues (1908 - 1980), que depois se tornou radialista. Almirante integrou o grupo “Bando dos Tangarás” junto a Noel Rosa na Vila Isabel. Sua obra No tempo de Noel Rosa busca por elementos folclóricos do samba urbano desenvolvido no Rio e relaciona esse gênero com as várias influências de outros ritmos musicais de várias partes do Brasil. Nomes como Wilson Batista, Noel Rosa, Cartola e Nelson Cavaquinho também se tornaram referência desse período.

Fonte: www.historiadomundo.com,br

domingo, 3 de março de 2019

Tia Ciata


     
                                       

            Hilária Batista de Almeida, Tia Ciata, como era conhecida, nasceu em 1854 em Santo Amaro da Purificação, Bahia. Aos 22 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, no êxodo que ficou conhecido como diáspora baiana. No Rio, formou nova família ao se casar com João Baptista da Silva, funcionário público com quem teve 14 filhos.

Como todas as baianas da época, era grande quituteira. Começou a trabalhar colocando o seu tabuleiro na Rua Sete de Setembro, sempre vestida de baiana. Com tino comercial, também alugava roupas típicas para o teatro e para o carnaval.

Hilária foi iniciada no candomblé em Salvador por Bangboshê Obitikô e era filha de Oxum, no Rio de Janeiro era Iyakekerê no terreiro de João Alabá, na Rua Barão de São Felix, onde também ficava a casa de Dom Obá II e o famoso cortiço Cabeça de Porco. Em sua casa, as festas eram famosas. Sempre celebrava seus orixás, sendo as festas de Cosme e Damião e de Nossa Senhora da Conceição as mais prestigiadas. Mas também promovia festas profanas, nas quais se destacavam as rodas de partido-alto. Era nessas rodas que se dançava o miudinho, uma forma de sambar de pés juntos, na qual Ciata era mestra.

A Praça Onze ganhou o apelido de Pequena África, porque era o ponto de encontro dos negros baianos e dos ex-escravos radicados nos morros próximos ao centro da cidade. Lá se reuniam músicos amadores e compositores anônimos. A casa de Tia Ciata, na rua Visconde de Itaúna 117, era a capital da Pequena África. Dos seus freqüentadores habituais, que incluíam Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Sinhô e Mauro de Almeida, nasceu o samba. A música Pelo telefone foi o primeiro samba registrado, no final de 1916, e virou sucesso no carnaval de 1917.

As chamadas "tias" baianas tiveram um papel preponderante no cenário de surgimento do samba no Rio de Janeiro, no final do século XIX e início do XX. Além de transmissoras da cultura popular trazida da Bahia e sacerdotisas de cultos e ritos de tradição africana, eram grandes quituteiras e festeiras, reunindo em torno de si a comunidade que inundava de música e dança suas celebrações – as festas chegavam a durar dias seguidos.

Em 1935, o então prefeito do Rio, Pedro Ernesto, legalizou as escolas de samba e oficializou os desfiles de rua. Antes disso, sem horário nem percurso fixo, o indispensável era que os grupos passassem pela Praça Onze, pelas casas das “tias” baianas. Elas eram consideradas mães do samba e do carnaval dos pobres. A casa de Tia Ciata era parada obrigatória, pois era a mais famosa e muito respeitada pela comunidade. As tias são representadas e homenageadas nos desfiles, pela ala das baianas das escolas de samba.Tia Ciata morreu em 1924 deixando um grande legado para a cultura brasileira.


Fonte: tiaciata.com.br