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domingo, 21 de julho de 2024

Yout.com


  

             À quem interessar possa, descobri, após experimentar várias alternativas frustrantes, uma ferramenta gratuíta e segura pra transformar vídeos do  Youtube em arquivos MP3 sem a necessidade de baixar qualquer programa no PC. Sou um aficionado por som, daqueles bem retrô, que não se rendeu aos métodos contemporâneos de acesso á conteúdo músical, via plataformas Streaming. 

   O processo é simples, basta acessar o site   https://yout.com/video/, colar a URL de qualquer vídeo musical do YouTube na barra de busca localizada no topo da página e optar pela formatação à MP3. Em alguns poucos minutos o arquivo fica pronto pra ouvir no próprio computador ou como prefiro fazer, transferir à um pen drive. Ao contrário da maioria das outras alternativas disponíveis na internet pra esse mesmo fim, não existem aqueles incômodos anúncios e assédios pra se instalar tal e qual programa ou comprar um pacote mais completo. Há uma versão, opcional paga, mas não é obrigatória. Quem quiser e puder contribuir pagando, é justo, pois os mantenedores do site possuem despesas mensais pra mantê-lo em funcionamento.

    Tô plenamente satisfeito com o resultado e abastecendo-me constantemente de boa e diversificada música em meus pen-drives. Espero que a dica venha à ser útil pra algum de vocês, provavelmente aos mais antiquados como eu. 


domingo, 7 de julho de 2024

Stress, o conto

 


          Transcrevo hoje um trecho de "Stress, o conto", que fez parte do meu primeiro livro, publicado no longínquo ano de 2007 (é por esse e alguns outros motivos que começo a perceber que tô ficando velho). Como esse conto é um pouco extenso, resolvi reproduzir um recorte apenas, pra não me estender por muitos parágrafos dessa vez. Como acontece com todo escritor, meu estilo mudou um pouco de lá pra cá, no entanto um ponto de contato com o presente são os diálogos dos personagens, vívidos, tingidos com as cores da periferia urbana. 

     Apertem os cintos e viagem comigo nesse trem ao passado, rumo ao extremo sul do Brasil. 


          Nivaldo, no quadragésimo quarto ano de sua vida, dava explícitas demonstrações de tédio e cansaço, tanto físico quanto mental. A sua rotina resumia-se a escutar, pela manhã, o programa radiofônico "Desperta Peão", na Rádio Cruzeiro do Sul, a trabalhar como Office-boy Auxiliar do Serviço de Identificação Distrital e a realização de pequenos reparos no chalé de madeira que dividia com os cupins, um cusco velho e o fruto genético-corporal de sua relação carnal com a ex-concubina do tio da irmã da concunhada do primo da avó do sobrinho de seu ex-colega de quartel, Amâncio. De vez em quando, aos finais de semanas, essa sequência monótona era rompida com a visita inesperada de algum parente. Mesmo que esses encontros não lhe trouxessem qualquer benefício prático, exceto o acúmulo de mais e mais fotos em seu álbum de família, seus parentes insistiam na preservação desse costume patriarcal. Ávidos por comida e informações pessoais, chegavam eles lá pelas 11:30 da manhã, debandando apenas ao entardecer, ao final do programa televisivo "Domingo Banana Show". Tio Hugo, Tia Ruth, Nana, Rogerinho, Mano e Cia. Ltda, haviam e continuavam sendo educados à moda antiga. Deviam reproduzir, comer, beber, trabalhar e serem recompensados com as tradicionais confraternizações familiares. Aqueles momentos hipócritas eram para eles o ápice da felicidade na Terra.

           Na hora do almoço, um debate democrático, regado a bastante cerveja, desenterrava acontecimentos hilários do passado em comum. Risadas histéricas marcavam o ritmo e davam um bizarra mostra de desiquilíbrio e felicidade apenas passageira. O assunto morria sempre antes do tempo esperado e, aí sim, as fofocas ganhavam espaço definitivo. Finalmente, sem mais nada a dizer, voltava cada um ao seu dia-dia, já na contagem regressiva para a próxima "chegança".

         Com um vida tão carente de maiores atrativos, o efeito não poderia ser outro: STRESS. Ás vezes acordava assustado no meio da madrugada, procurando recibos e talões fictícios no bolso do pijama, temendo o término do expediente bancário. A situação começou a revelar-se emocionalmente crônica quando, contrariando a sua personalidade, foi surpreendido pelos colegas de repartição, escutando no rádio uma canção, com os olhos embargados de lágrimas:

Era uma vez,

     um lugarzinho no meio do nada,

     com sabor de chocolate,

     e cheiro de terra molhada...  

 

   ... Uma história de amor,

   de aventura e de magia,

   Só tem a ver, quem já foi criança um dia .♪   


          As suas emoções começaram a aflorar publicamente, atestando algo de anormal naquela compenetrada mente, tão mergulhada nos percalços diários. Na vila, comentava-se que já há bastante tempo não era "visto com ninguém".


-- Neidi, mi diz uma coisa, u Nivaldo, afinal, "não é chegado"?

-- Olha, eu nunca vi ele im baile nenhum... Mas há muuuuito tempo atrás, u sogro da Norminha, qui é portêro di boate, dissi qui viu êli na zona.

-- Éééé? Qui barbaridadi... Qui exemplo um cara dêssis vai dá pru filho dêssi jeito?

-- Não sei. Só sei qui aqueli guri é um malandrão qui nunca trabalhô... Ao invés di í nas fábrica fazê ficha, só fica im casa iscutando som á todo pau...

-- Mas i a mãe dêli, qui fim levô?

-- Dexô u Nivaldo pur causa da bebida. Dizem qui naquela época ele só queria trago... Uma vez, nu Bar du Lula, levô um navalhaço nas costa pur causa duma dósi di conhaqui. Paréci qui depois disso ele si ajeitô um pôcu.

-- Pódi até sê, mas as vez ele sai du armazém i passa aqui pelo portão cuma garrafa di vinho branco suave...

-- Vai vê qui ele ainda bébi socialmenti...

-- Qui horror!

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            Há exatos quatro anos sem tirar férias, a sua capacidade de concentração estava bastante prejudicada. Sempre pensando no acúmulo de horas-extras, colocara-se ininterruptamente à disposição do Estado, sem gozar o mês de descanso anual concedido ao trabalhador assalariado, segundo norma do Ministério do Trabalho e do Estatuto do Servidor Público Estadual. Nivaldo vendeu as suas férias, trabalhando em outras secretarias estaduais sobrecarregadas, já que a alínea "b" do inciso 5, artigo 9, parágrafo 2º do estatuto cria uma flexibilidade na carga horária do servidor, denominada aproveitamento.

            Apesar do sacrifício, o seu contracheque não chegava a ser dos mais tentadores, já que os descontos previdenciários e sindicais absorviam grande parte dos proventos. O que sobrava era consumido pelas tradicionais despesas domésticas e o restante aplicado em caderneta de poupança, constantemente violada pelo filho. O garotão, aliás, gastava quase toda a sua mesada em noitadas no "Chamego Club". A sua lábia com as mulheres era muito pouco convincente, fazendo com que as raparigas apenas se escorassem nele, atraídas pelas doses de gim ou vermute que sempre apareciam em sua mesa. Seus assuntos eram banais e destituídos de qualquer temática sedutora. Tinha um senso de humor bastante precário, não conseguindo arrancar risos de ninguém. Ficava tenso toda vez que tentava mentir alguma façanha pra impressionar. Era simplório como um carneiro novo. Espantava as moças que abordava, com coisas do tipo:


-- Antes di mais nada eu já vô ti dando u tóqui... não uso camisinha.


          Mesmo assim, aproximadamente uma vez à cada trimestre, Bira abatia alguma presa evidentemente mais simplória do que ele.

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            Segundo tese do obscuro antropólogo Suedi Chagas, quando os cromossomos de tais indivíduos agrupam-se, propiciando a formação de um terceiro ser, é grande a probabilidade do círculo vicioso se perpetuar. Essa criança, segundo ele, vai futuramente gerar uma outra, obedecendo tão somente às suas necessidades instintivas. Assim sendo, continua o estudioso, o planeta vai sendo povoado por "Hominídeos Antrópogos", designação esta, encontrada pelo antropólogo para classificar seres humanos estacionários, presos a tabus, crenças pueris e preconceitos rançosos compatíveis com suas mentalidades.

          Num artigo seu, publicado na edição IX da revista "Horizonte", intitulado "Procriação Fatal", ele prevê, sem perspectivas otimistas, uma total imbecilização da raça humana se medidas drásticas não forem desde já tomadas, visando coibir o inevitável avanço do libido nas mentes infecundas e incapazes de instruírem os seus filhos em atividades que ultrapassem o ciclo nascimento-reprodução-envelhecimento-morte. Sugere ele, como solução extrema, em última instância, a castração, por parte do Estado, de todos os varões comprovadamente tolos o bastante para confundirem fertilidade com masculinidade, já que os métodos contraceptivos convencionais mostraram-se falhos no decorrer dos tempos. Segundo Chagas, as fêmeas dessa cadeia reprodutivas transformam-se, em razão das circunstâncias, em verdadeiras "máquinas de parir", sem compreenderem a fundo os seus deveres e a grande incumbência social que acompanha a maternidade.

            Acusado de neonazista, o antropólogo aceitou uma sabatina no programa deTV do idolatrado apresentador "Patinho". Lá foi caluniado, difamado e humilhado pelo júri popular, num jogo de manipulação do telespectador. A imparcialidade do mediador fora tão grande que , em duas oportunidades, interrompeu a argumentação de Chagas aos gritos de:


-- Cala a boca! Cala a boca ô pôrra!


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