Marcos em foto tirada no réveillon de 2011 |
-- Maconhêro... Sem vergonha... Tu já viu um
maconhêro não se vagabundo? É tudo sem vergonha, marginal. Me mostra UM... UM
maconhêro sem vergonha qui não seja vagabundo. É tudo. TUDO mau elemento. Sábi
pra mim u qué qui tinha qui sê feito cum êssi tipo di cara? Fazê qui nem u
presidênti das Filipinas, u Rodrigo, hômi di pulso fez... Pegá êssis maconhêro
tudo e passá a bala neles tudo. É eles qui compram essas porcaria. Máta eles e
não vai tê mais quem compre, acabô, deu. Quem compra e quem vende é tudo
safado... Mas dêxa qui u homi vai sê presidenti aqui e vai acertá us pontêro
direitinho... Aí qui eu quero vê esses muito lôku cumé qui ficam...
Nada,
absolutamente nada há que tire a razão do Seu Adelmo no que refere-se a
primeira afirmação feita. Ninguém seria louco o suficiente pra negar que o Pereira
ou Pepo, rapaz em questão, de fato, dava uns tapas na pantera, uns pegas, como
queiram. Iclair, a concunhada do filho do velho Eugênio, o Bráz, já comentara
várias vezes que ele fazia fumaça, dava uns
pito, queimava um fuminho, uma erva. Muitos já estavam ligados que ele chapava o côco, queimava um beck, acendia o
pavio, gostava dum verdinho. Não bastasse a tal rapariga, o próprio irmão
dele, certa noite, bêbado, durante
churrasco entre tios, vomitara que o mano tocava
fogo na bomba, dava dois. A primeira, é necessário reconhecer, a apontar
essa particularidade foi Vívian, amiga da sua sogra, que com perspicácia sacou
de imediato que o negócio dele era ficar
na brisa, na boa. Isso era fato e nem o próprio esforçava-se mais pra
disfarçar. Mas sem vergonha...
Se o Mini Dicionário FTD,
revisado e reeditado no ano de 1996 estiver correto, isso se diz de pessoa desprovida de vergonha, de pudor ou
de brio (dignidade, amor próprio). Os fatos narrados a seguir falam mais do
que tentar defendê-lo só com argumentos.
Conta-se que em meados da década de noventa, após engravidar a namorada,
apesar de não possuir profissão ou ocupação permanente, assumiu o que fez,
alugou uma casa com três peças nos fundos do terreno de um conhecido, tornou-se
um bom pai e hoje tem casa própria e escriturada. Em 2001, Baltazar Klaes Pereira
poupou, á pedido da filha de seis anos, uma galinha de se tornar canja e não se
animou a estrangular a pobre e afetuosa ave rechonchuda de penas amareladas, uma
antiga amiga de estimação da família. Sentiu pena e permitiu que morresse de
velhice, cercada dos carinhos da guria. Já em 2013, quando mecânico, negou-se a
fornecer nota fiscal fria pra conserto de ambulâncias do município de Pelotas.
A propósito da sua profissão, dois anos depois, contrariando os prognósticos
gerais, devolveu à um cliente, dono da Meriva 2010 Preta, a pochete esquecida
no banco dianteiro, com R$ 900,00 intactos, cartões de crédito e molhe de
chaves.
Na
verdade, nem muito lôku ele era mais.
Provara, admita-se, de tudo um pouco. Aprendera, porém, que Deus e a família
eram-lhes o principal. Marcos, o seu primo, esse ainda era. Andava quase sempre
doidão. Se lhe ofereciam pó ele cheirava. Se lhe alcançassem uma seringa ele o
braço picava. Se um copo de uísque sem gelo lhe passassem ele bebia. Pílulas?
Ele simplesmente engolia. No carnaval, se um lenço perfumado alcançassem, ele aspirava.
Esse, coitado, ainda era, mas o Pereira...
Tentemos, pois, chegar a um consenso ou meio termo. Pereira era, pra
contentar moralistas e liberais, lôku. Gostava só do natural.
Voltando, pra encerrar, no seu Adelmo, existe tráfico onde existe
proibição. O primeiro sempre existirá em grande escala enquanto a segunda,
massivamente, persistir. O usuário descontrolado é caso de saúde pública, não
de polícia. Quanto às próximas eleições, Seu Adelmo, desconfie de falsos
salvadores da pátria. Político é político, não esquece.
Cesar