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sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Bebeco Rock Garcia



Bebeco Garcia nasceu em Rio Grande no dia 11 de outubro de 1953. Em sua cidade natal tocou com a banda A Farinha do Bruxo mas logo mudou-se para Porto Alegre, onde fez parte da banda A Barra do Porto, juntamente com o músico Mutuca. Em 1982 gravou com Mutuca & Amigos nos estúdios da ISAEC, ao lado do baterista Edinho Galhardi e do baixista Flávio Chaminé. Em 1983 Bebeco participou da gravação de Risco no Céu, LP de Carlinhos Hartlieb, como co-autor e guitarrista da música Nós Que Ficamos Sós, feita para John Lennon que há pouco tempo havia sido assassinado.

Garotos da Rua

Em julho de 1983 Bebeco, Edinho Galhardi, e o baixista Mitch Marini fundaram a banda Garotos da Rua, inicialmente tocando como a banda da casa no bar Rocket 88, um reduto do rock and roll de propriedade de Mutuca. A primeira demo do grupo, Sabe o Que Acontece Comigo? foi gravada seis meses depois, com a entrada do baixista Geraldo Freitas e do guitarrista Justino Vasconcelos. Em seguida os Garotos da Rua iniciaram uma série de shows em Porto Alegre e percorreram mais de 50 cidades do Rio Grande do Sul.
No início de 1986 participaram da célebre coletânea Rock Grande do Sul, da qual também fizeram parte os grupos Engenheiros do Hawaii, Defalla, TNT e Replicantes. Ainda naquele ano ficaram conhecidos nacionalmente com a música Tô de saco cheio (Lá em casa continuam os mesmos problemas) .O sucesso desta música, além de fazer com que a banda se transferisse para o Rio de Janeiro, incentivou a gravadora RCA a lançar três LPs dos Garotos da Rua entre 1986 e 1988, através do selo Plug, dedicado a revelações do rock brasileiro.
Empolgados os músicos lançam seu primeiro disco, Garotos da Rua, que inclui Você é Tudo que Eu Quero, Sabe o Que Acontece Comigo?, Babilina e Gurizada Medonha. Em 1987 gravam o disco Dr. em Rock ´n´ Roll, e a música Eu Já Sei alcança grande sucesso em todo o país, ao fazer parte da trilha sonora da novela Mandala, da Rede Globo.
Em 1990, o grupo participou da trilha sonora da novela Gente Fina da Rede Globo com a música Bagda 40º, tema do personagem Maurício Em 1992, lançam o sensacional disco ao vivo Blues Climax 900 (Overseas/BMG) gravado no Clube 900 Executivo em Lages, Santa Catarina, onde Bebeco morou por algum tempo anos depois.
A formação original da banda teve fim em 1989 após o lançamento do disco Não Basta Dizer Não, de 1988, mas até 1994  Bebeco manteve o nome Garotos da Rua realizando shows acompanhado por músicos convidados.

Em 1997 lançou Aleluia, Aleluia, disco que marcaria a transição do rock para o blues, e que abriu os horizontes para Bebeco que havia encerrado suas atividades com os Garotos 3 anos antes. A partir de 1999, ano de lançamento de Me Chamam Curto Circuito, Bebeco alternou períodos no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em São Paulo. Neste período lançou álbuns individuais como Bebeco Garcia & O Bando dos Ciganos (2001), Confidencial (2003), sempre acompanhado do Bando de Ciganos, formado pelos músicos Egisto Dal Santo no baixo, primeiramente Pedro Garcia, filho de Bebeco, segurou a batera, depois veio o antigo parceiro da primeira formação de power trio, Garotos da Rua, Edinho Galhardi. Por último e umaki obra-prima, Rio Grande Rio Blues (2005). Todos estes discos confirmaram a reputação do músico como um dos melhores guitarristas gaúchos.
Em 19 de maio de 2010, após uma operação para retirada de um tumor no cérebro no mês anterior, não resistiu às complicações pós-operatórias e faleceu no hospital da PUC-RS  vítima de uma infecção generalizada. Durante seu sepultamento Egisto Dal Santo, seu amigo e parceiro musical, fez uma homenagem ao cantor.





Fonte: wikipédia 


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Doidão de tequila





          Que o Eunício gostava dum trago era fato consumado e disso poucos duvidavam ou contestavam. A sua pele enrugada, queimada de sol, os olhos vermelhos, as canelas finas, o tremor de mãos aos finais de tarde, o hálito de cebola com peixe, tudo isso eram indícios. Se o sujeito, afinal era ou não era, vamos ao fatos.

-- Mas olha lá... Aquele já vem torto, com us pé encharcado...

       Na data de  doze de agosto de 2019, era uma segunda-feira, quem cruzou com ele na rua ou avistou-lhe de longe, pela janela, teve o presságio sinistro de que a manguassa foi grande. Dona Tânia viu a cena, pois mexia na cortina e passava flanela nos vidros. Ela gritou isso  pra filha Nívea, fazendo a jovem interromper o café da tarde.
       O Benito, da barbearia, tentou puxar assunto quando o homem passou em frente ao salão, mas disse que estranhou ele.
 
--Não falou nada com nada, nem disse coisa com coisa.

      A mesma impressão parece ter tido o velho Binhalva, do banco da praça, quando enxergou o bebum. O aposentado lembra como se fosse hoje e testemunhou isso mais tarde:

-- Naquele dia ele vinha bem calibrado e xispava fogo pelas venta...

    Um de seus companheiros ocasionais de boteco, o Ruivo, que do outro lado da calçada, sem coragem de chamá-lo, viu ele, comentou em roda privada:

-- Tava Pra Lá de Bagdá.

     Seus passos, acima da média habitual,  eram trôpegos e vacilantes. Ele cambaleava pela rua, decidido a executar sabe-se lá o quê. Incontrolável rancor lhe acompanhava. Tinha raiva e isso quem denunciavam eram os seus lábios trêmulos. O olhar era sinistro, parado, como se com os olhos da mente enxergasse um implacável inimigo. Bebia, literalmente falando,  como um condenado. Isso enfatizo por que tenho em mãos o Processo Administrativo 17—455923/18-DV: Y,  que culminou na suspensão, a contar de doze de julho de 2019, do seu direito de dirigir. Tinha que entregar a CNH. Ele sabia, mas fez que nem era com ele.
     O seu prontuário acumulava, a época, dezenove pontos, um só pra suspender a habilitação . A recente autuação sofrida durante blitz, no entanto, foi quem colocou temporariamente na geladeira a sua permissão para guiar veículo. Muito esperto e astuto, se negou a entregar espontaneamente, ao órgão competente, o documento.

-- Vô dá umas banda com a Lu... depois eu entrego...

     E foi naquele clima, naquela vibração, mamado, que ele abriu o portão da garagem tão logo chegou em casa. Com extrema dificuldade, após experimentar quase vinte chaves diferentes, abriu o cadeado do trinco de ferro superior e empurrou pra dentro,  com força, ambos os portões. Em zigue-zague, chegou à entrada do próprio carro, um Civic Laranja, ano 2016. Embarcou nele e sem  se dar ao trabalho de fechar novamente o portão, saiu cantando pneu, rua afora. A sua coordenação motora era lenta e os reflexos tardios. Fez manobras ousadas e ignorou praticamente todas as regras de trânsito no longo percurso que fez até a quadra de Soccer. Tinha pressa, tinha ganas de alguém. A resolução, ainda oculta, era inabalável e não podia mais esperar.

     A honra de um homem, raciocinava consigo mesmo enquanto engatava as marchas, é o que de mais precioso ele carrega por toda a vida e aquilo que lhe é mais precioso ele não deve dividir com ninguém. Lamentavelmente, ele não estava sentado no alpendre de casa ou no bar da boate, com tempo de sobra pra pensar nos dissabores da vida. Tava com um volante entre as mãos, um acelerador embaixo do pé direito e as atividades cerebrais lentas.
  Em alta velocidade, ainda no centro de Passo Fundo, esqueceu de fazer uma curva e não foi suficientemente rápido pra frear. Atropelou três pessoas na calçada. Conforme testemunhas, a tragédia só não atingiu maiores proporções porque um carro e duas motos estacionadas na rua acabaram amortecendo o violento impacto de um Civic à cem quilômetros por hora e desgovernado. Viu pessoas feridas, deitadas no chão, mas preferiu simplesmente dar uma ré e sair de cena. Tinha um objetivo já definido naquela tarde. Seguiu na sua ébria caçada em defesa da honra.

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     Mas Eunício, perdoem-me a intromissão, teve advertências e insinuações de sobra pra desconfiar de algo que acabou manchando, de fato, a sua honra de macho. A Luciana, com aquele celular dela, andava bem estranha e já fazia tempo. Não desgrudava os olhos da tela, ria sozinha seguidas vezes e parava de digitar na tela toda vez que ele chegava. Em duas oportunidades o rapaz deu a impressão de ter percebido no ar algo estranho. Primeiro foi no carro, era noite e esperavam a afilhada na porta da faculdade. Ele ficou em dúvida, pois despertou de um cochilo e viu ela, ao lado seu suspirando: AAAi... Que cara lôku... Não faaaz...  Quando viu que o marido tava acordado, desconversou rápido e baixou do rosto o Smartphone
     Já da outra vez foi em casa, na cozinha. Chegou de surpresa na peça, por trás, querendo fungar o cangote da fêmea, trazendo-lhe, no entanto, grande sobressalto. Recomposta do susto, novamente Luciana agiu sem demora. Ocultou o que estava na sua tela, jogou o aparelho na bolsa e com naturalidade, daquele jeito que só ela sabia fazer, apalpou a sua virilha direita.
     Coincidências, bobas desconfianças e impressões sem fundamentos. Assim ela respondeu quando percebeu nele, pela primeira vez na vida, desconfianças quanto a sua fidelidade. A justificativa foi o suficiente pra ele deixar tudo como estava e seguir no balanço da correnteza. Amava-a de paixão. Pra quê desconfiá da nega veia?
     Certo camarada de trabalho, quando comentou sobre a Lú entre parceiros de bilhar disse que o bichinho anda muito solto e que o cara ta dando sopa pro azar. O pai, que ele ouvia de vez em quando, já tinha tentado abrir-lhe os olhos do entendimento:

-- Essa tua criança, tenho que te dizê, acredite tu ou não, anda fazendo arte...

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     Ela sempre foi gente boa, dedicada... O que virô  a cabeça dela foi as companhia, disse o corn... desculpem-me, Eunício,  quando finalmente caiu-lhe a ficha da traição. A propósito, já que quase toquei no assunto, necessário se faz ressalva. Em oposição ao que muitos devem já desconfiarem, o rapaz não era corno.  Era um corninho se quisermos, sem exagero, fazer justiça aos fatos. Apesar dos trinta e seis anos, media apenas 1,59. Trabalhador, diga-se de passagem, mas embriagado pelas carícias de uma mulher mais nova, bonita e carinhosa. Era bobo por ela. Orgulhava-se de andar pra cima e pra baixo com uma china tão gostosa. O que lhe transformou, pode-se dizer, repentinamente, num boi brabo, iracundo, foi aquela página do face aberta, que ela esqueceu quando lhe deu dor de barriga, no meio daquele carreteiro com maionese, no apartamento do Rick. Na rede social, em conversa privada na ferramenta Messenger, a sua Pequena contava os segundos pra se trancar no motel com Marino, o mesmo cara que havia sido aprovado em seu lugar, num teste pra guitarrista da banda Nitroglicerina, no final da década de noventa, na cidade gaúcha. Não se davam bem, eram desafetos, competiam em tudo.

-- Puxador de fumo duma figa... Vô ti estorá us corno... Dêxa que o que é teu ta guardado...

     Doze de agosto de dois mil e dezenove foi a data criteriosamente marcada para o acerto de contas. O boi sabia que naquela tarde o Gerente de Qualidade da empresa MouraCruz, de cigarros, vinha  jogar soccer com parcerias, na Quadra do Bigode, distante cerca de quatro quilômetros do centro, em zona residencial dos fumicultores daquela região. Ele, que outrora fora manso, estava agora armado e perigoso. Tinha porte e registro para tal e, em defesa da honra, lançou-se como vespa de quem uma paulada põe ao chão o vespeiro, á fim de vingança. Não perderia de novo, pro mesmo oponente de outras tantas batalhas. Era só dá uns tiro nele e saí fora.

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-- Ezuc Bika... Tuzûki dixêu... Dixeu!

     Concordo, não dá pra entender rigorosamente nada. Será, por acaso alguma invocação ou fórmula ritual asteca? Provavelmente não, no entanto, à bem da verdade, a tradução dessa frase, bramada como ameaça, pouco importa perto do que aconteceu em seguida, quando pipocou bala pra tudo que é lado. Foi isso o que ele conseguiu balbuciar em frente ao portão lateral do bar. A fala nervosa e confusa chamou a atenção de Marino e outros dois companheiros de time, que tomavam uma gelada e jogavam conversa fora após a partida, na própria Quadra. Ao atravessarem o velho portão de madeira foram recebidos a tiros. Um deles foi ferido de raspão na coxa esquerda e precisou de atendimento pra estancar o sangue e repor a pele arrancada pelo projétil. Já ele, o alvo principal do atentado, recebeu uma bala na barriga, que perfurou os rins, tornando necessário cirurgia de emergência para extração do corpo metálico intruso. Algumas balas ricochetearam, furando paredes, estilhaçando vidraças e ferindo outros dois pedestres que encontravam-se perto. Pra cada tiro disparado, conforme fontes testemunhais, gritava Hey! Hey!  Tava doidão de tequila. Bebeu duas garrafas sozinho naquele início de tarde conturbado.
     Enganam-se, no entanto, os que só conseguem enxergar tragédia e desolação nesse desentendimento quase fatal entre jovens. Com algum esforço é preciso, sem se abalar com mentiras da oposição, visualizarmos que nem tudo saiu totalmente errado. Os acertos precisam, sim, serem reconhecidos, mesmo que isso, á princípio, soe um tanto impopular. Cada caso, cada briga ou duelo, necessita ser analisada de forma individual, sem paixões ou opiniões tendenciosas. As grandes transformações impulsionadas pelos grandes líderes são ás vezes lentas, graduais. Um avanço faz-se perceptível se fizermos um paralelo com outros tempos:  A bebida que encheu e transbordou a taça do pé-de-cana, felizmente, pra suavizar o eco dos estouros em nossos ouvidos, era autêntica, da boa,  pois fora obtida por meio da destilação de mostos, preparada direta e originalmente do material extraído das cabeças de Agave da espécie tequilana weber variedade azul, cozida e submetida à fermentação alcoólica com leveduras não cultivadas, em conformidade com o Decreto 9.799 de 23 de maio de 2019, que sacramenta a preocupação do governo brasileiro à época,  com a qualidade do trago que nos entorpece a mente.

-- U país finalmente começa a entrá nus trilho. 



                                                                                                    Cesar