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sábado, 25 de setembro de 2021

Os contos de Carolina Von Kozeritz

               


              O Jornal do Comércio de Porto Alegre, em suas edições de 07 de fevereiro de 1866 e 10 de outubro de 1886, trouxe dois contos com fundo do hoje tão atual tema ecológico: A vingança das flores e A flor fenecida. As flores ceifadas no ramalhete na alcova da jovem adormecida criam alento e acusam sua algoz, enquanto inebriam a atmosfera, subtraindo oxigênio. Ao final, flores e jovem têm idêntico destino: E quando à noite sucedeu o dia, acharam a pálida donzela imóvel e mais branca ainda que as transparentes rendas em que repousava a sua loira cabecinha.

         Há os contos que exploram temática de costume: paixão de adolescente, namoros inconsequentes, desilusões... Uma dor de cabeça (Jornal do Comércio, 18.07.1886) satiriza um Dom Juan que se viu atrapalhado ao defrontar com as cinco namoradas ao mesmo tempo. Acabou pretextando imaginária dor de cabeça que o levou a perder o melhor da festa, refugiado em um quarto escuro. Tudo por causa de seu magnânimo coração!

             A freira (30.01.1887). A decepção da adolescente é "solucionada" com seu ingresso num convento e sua morte, quando noviça desiludida.  Um perfil  (20.02.1887) analisa o desencanto do debut, para a menina que nada fez senão aguardar sonhando o grande dia. É uma crítica à vida sem objetivos imposta à mulher pelo patriarcado opressor e depois pelo positivismo, que a "elevou" à rainha do lar.

          O leito nupcial (20.03.1887) trabalha o velho "triângulo amoroso" em que se misturam amor e desamor, riqueza e pobreza. Ao gosto do romantismo, o conto conduz à morte trágica dos amantes, no leito macio da imensidão do mar.


Contos da maturidade

 
        O intervalo de duas décadas, com dois casamentos fracassados e filhos por criar, mostraram a Carolina uma ótica mais realista. Em Risos e sorrisos e Antigalhas (Rev. Norte-Sul, 1919 nº 2 e 3) analisa os vários tipos de sentimentos que se escondem atrás do sorriso, ao longo da vida. Episódio obscuro (1835), in Rev. Kodak, evoca feito aventuresco ocorrido no decorrer da Revolução Farroupilha, atribuído a um ancestral da autora.
         Carolina von Kozeritz, é nome de rua em Porto Alegre e patrona da cadeira nº 15 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, ocupada por esta redatora. Pertence ao pequeno grupo de mulheres intelectuais que integraram o romantismo das últimas décadas do século XIX.
       Tradutora poliglota, enriqueceu o Brasil com literatura alternativa face á dominância do francesismo cultural. 
       Contista, perpassou costumes e valores de seu tempo, retratando dentro da ótica romântica da juventude, e depois, com visão mais objetiva, segundo sua experiência vivencial.


                                                                                                                       Hilda Agnes 


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