Conforme se espera de toda autêntica literatura infantil, “A
Teia de Charlotte” cumpre à risca o nobre compromisso de fomentar nobres
princípios ao entendimento dos pequenos. O livro é de fácil compreensão pra faixa
etária a partir dos oito anos de idade ou talvez um pouco antes e isso sinalizo
por experiência própria. Meu filho de nove anos leu a obra logo em seguida de
mim e conseguimos, tranquilamente, debater passagens marcantes da fábula.
A maioria
deve conhecer a história através do desenho animado “A menina e o
porquinho”, exibido em TV’s do mundo
todo. A AMIZADE, expressa principalmente
através da LEALDADE, a sua mais marcante característica, dá a tônica da
narrativa, misturando num mesmo mundo, homens e bichos. Primeiro tem a Fern,
que enfrenta a lógica fria da tradição familiar, em defesa do que o seu coração
dizia ser justo, colocando-se ostensivamente contra o próprio pai:
“Fern – disse o sr. Arable -, eu sei melhor que você como se deve tratar os porcos. Um porquinho raquítico dá muito problema. Agora vá embora!
-- Mas não é justo - choramingou Fern. -- Não é culpa do porquinho se ele é pequeno, certo? Se eu fosse muito pequeno quando nasci, você me mataria?
O sr. Arable sorriu. É claro que não –
disse ele, olhando para a filha com amor. – Mas é diferente. Uma menininha é
uma coisa, um porquinho é outra.”
Depois,
quando o porquinho Wilbur foi poupado, graças a Fern, do destino que lhe estava
reservado, transferido pra fazenda dos Zuckerman, conhece a Charlotte, aranha
que expande no leitor o seu conceito sobre amizade. Assim digo por
que o próprio filhote suíno desconfia, á princípio, do inseto que se aproxima
pra suprir nele o vazio quase insuportável da solidão. Somente ela, apesar da
aparência pouco amigável aos olhos, com suas patas peludas, quem demonstra a
sensibilidade necessária e compaixão por alguém em busca de aceitação.
Charlotte adota-o em seu coração, abraçando aquela causa como missão de vida,
fazendo e desejando coisas boas ao inexperiente amigo. O modo como se expressa
para ajudar Wilbur é surpreendente, e nesse ponto o livro alude à importância
da palavra escrita como influenciadora de pensamentos. A teia construída por ela, hábil artesã, serve também de tela
para as mensagens a favor da vida, em defesa da compaixão:
“BELO PORCO”. “INCRÍVEL”. “RADIANTE”. “HUMILDE”.
Assim, despertando simpatia, salvou o seu protegido do suplício que novamente lhe aguardava em sua condição
de mero animal de corte. Esse, aliás, é o tópico que mais me atraiu na obra, a
consciência vegetariana que parece inevitavelmente despertar. Em menor ou maior
grau, o leitor é conduzido à focalizar sua atenção no outro lado do consumo carnívoro:
o das vítimas.
Os demais
personagens da fábula, como tradicionalmente acontece nesse estilo literário
infanto-juvenil, são majoritariamente animais e representam caricaturas de tendências
e comportamentos humanos. O rato oportunista, o esnobe carneiro, a gansa
maternal, são todos esses, tipos comuns que convivemos diariamente e em toda
parte. Espelham variados traços psicológicos da espécie mais teoricamente
evoluída do planeta.
Encerro a
resenha, que a falta de tempo ou preguiça impediram-me de antes escrever, com
as três últimas linhas do livro, que sintetizam grande parte daquilo que aqui
propagandeei. Se ainda não o fizeram, não se arrependerão vocês de lê-lo por
inteiro.
“Ela era especial. Não é sempre que
encontramos alguém que sabe ser amigo de verdade e escrever bem. Charlote sabia
as duas coisas."
Cesar