Os nossos mais velhos, nossas ancestralidades, usavam o Rio Guaíba para fazerem suas ofertas em Àse, uma tradição que está até o dia de hoje em nossa prática e da qual eu utilizo. Se olharmos para a Nigéria, no continente africano, lá quem é da tradição cultual Òsun tem o rio com seu próprio nome, Yemojá que é o rio Ògun e aqui temos o Rio Guaíba, o lugar onde os primeiros Bàbálórisà e Iyálórisà levavam suas obrigações para agradar as Divindades de Odó (rio).
E vejam bem, também Yemojá, ainda que seja vista desde épocas antigas como divindade dos mares e oceanos. Mas no continente africano nem todos estão em volta do mar, Yemojá também é reverenciada em rio. Foi o que aconteceu aqui e ainda acontece até nos dias de hoje.
Eu não vou levar uma canjica para o pai Osàlá ou quem mais recebe no mar, pela distância a que estou. Eu levo em Ipanema, no Rio Guaíba, chamo por Yemojá e ela me atende, como se fosse no mar. Vendo por esse lado, também vejo que o povo Yorùbá, depois da abolição, ao ofertar suas obrigações levavam ao rio, só mudaram de local pela história da diáspora, mas seus olhares e pensamentos quando olhavam para o Rio (odò) Guaíba ao despachar algo, posso até pensar que viviam em lembranças sobre histórias contadas pelos seus pais e parentes sobre África relacionada em odò (rio).
Do livro O Batuque de Nação Òyó no Rio Grande do Sul- Mestre Cica de Òyó- Hucitec Editora/2021
Já falei sobre esse autor, uma autoridade em cultura africana, por aqui, mas desse obra falarei mais, na sequência.