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quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

"Apóstolo" Paulo, afinal das contas, viu mesmo Jesus ou foi insolação?

 



          Ao longo da história e até os dias de hoje, muitos são os que se dizem apóstolos do Cristo, afirmando terem alcançado a graça de Vê-lo frente à frente. Grande parte desses, no entanto, acabam ensinando e agindo exatamente o contrário do que o Mestre publicamente ensinou.
          É de conhecimento notório que na região de Damasco, fronteira com a Síria, cercada por desertos,  sempre bateu sol direto e forte, ocasionando, não raras vezes, tontura e confusão mental. Por esse motivo, quem escolheu a segunda opção do questionamento que intitula essa postagem, pode estar redondamente certo. Paulo foi um dos maiores assassinos dos seguidores de Jesus e, segundo o livro de Atos, no Novo Testamento, se arrependeu, literalmente da noite pro dia, após se deparar, numa estrada de acesso à cidade de Damasco, com o espírito do Rabi galileu, recebendo dele uma missão de vida (At 9:1-9). O grande problema nessa miraculosa narrativa inserida nas Escrituras é que o convertido, na sequência dos fatos, escreve coisas e se comporta em sentido oposto à pregação do Filho de Deus e seus apóstolos diretos. Vejamos apenas dois pontos, pra não tornar a leitura enfadonha demais:

* Paulo não levava muita fé nas mulheres, apesar da compaixão e respeito que Jesus demonstrou por elas.

"...conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. 
Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja." (1Co 14:34-35)


* Jesus afirmou não vir destruir a Lei, apenas confirmá-la e que todo aquele que, mesmo sutilmente,  ensinar a desrespeitá-la, dever ser considerado o último no Reino do Céu. (Mt 5:17-20). Já Paulo, em Gálatas 2:16,  num embate com os autênticos discípulos, crava sem qualquer reticência, que a fé no sangue do Crucificado é mais importante do que tudo, inclusive a Lei.


          Resumidamente falando, só pra me despedir e desejar-lhes um Feliz Natal, temos fortes motivos pra acreditar que, se Paulo viu e escutou alguém falando com ele naquela ensolarada estrada, esse alguém, pelos indícios da sua pregação, provavelmente não era o verdadeiro Yashua, filho do carpinteiro José e Maria.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

No interior da mata


           Mais um fragmento de "Tribo de Papel", obra minha em processo de revisão,  escrita bem antes dos meus dois livros de contos lançados. Uma incursão à mata nativa brasileira.

 

         (...) A vibração emitida pelo canto daquela ave colocou ele num estágio de consciência diferenciada. Desfrutou um estado de relaxamento todo singular. O prazer era comparável à uma massagem no crânio. Se sentiu impelido a sentar na relva para entregar-se por inteiro ao momento. Uma brisa suave, que fazia sutilmente balançarem os arbustos de hortênsias, logo a sua frente, refrescava suficientemente aquela noite quente e estrelada de verão. A lua cheia, sem o auxílio de qualquer holofote, iluminava com resplandescência a fauna e flora do local. Podia-se tranquilamente, sem a necessidade de lanterna, acompanhar o meticuloso trabalho de tecelagem da aranha-caranguejeira entre duas folhas de costela-de-adão. Da mesma forma, era possível vislumbrar o praticamente inútil esforço do pernilongo pra desvencilhar-se da sua infalível teia.

          Não havia no coração do jovem qualquer medo ou anseio grande o suficiente para tirá-lo daquela viagem mística onde cada forma da natureza, por menor que fosse, adquiria singular importância no contexto daquela paisagem verde banhada de luar. O espaço favorecia amplamente momentos de reflexão. Como nunca, desde a sua emigração das matas, experimentou uma sensação de grande conforto. Sentiu saudades da aldeia. Mantivera, até então, distância de qualquer recordação emotiva que o ligasse ao passado. Era um cidadão realizado, profissionalmente falando, sem motivos aparentes pra pensar em seus tempos de curumim *, em meio aos parentes selvagens.

           Ali, no entanto, recordou que há tempos atrás, ainda menino, sonhou que um dia libertaria o seu povo. Permaneceu, longo tempo, num olhar meditativo em direção à mata. Murmurou, instintivamente,  um cântico guarani que aprendera dos ancestrais:

    Ndajarekoveima- Nhanderokoá py ndajareko veima

    Takua ty porã

     Ndajareko veima yary ra porã
     Jajapo haguã nhanderopyrã javy ' a haguã heta va' kuery

     Omo kanhy mba Nhanderú miri Oeja va' ekue 


          "Já não temos mais o que precisamos. Na nossa aldeia não temos mais taquareira como antigamente. Não temos mais madeira como antigamente, Já não podemos mais construir nossas ocas e nem nossa Casa de Reza, porque os não índios tomaram tudo o que nosso Deus deixou para nós."

                                                                                 



*  Menino, criança indígena.

sábado, 2 de dezembro de 2023

A matemática da tirania

 


  •           (...)"Portanto, a sombra de prazer do tirano, se a considerarmos de acordo com o seu comprimento, pode ser expressa por um número de segunda potência. E elevando este número ao quadrado, depois ao cubo, vê-se com clareza a distância que o separa do rei. E se, de igual forma, quisermos exprimir a distância que separa o rei do tirano, quanto a realidade do prazer, descobriremos, uma vez feita a multiplicação, que o rei é setecentos e vinte e nove vezes mais feliz do que o tirano e que este é mais infeliz em igual proporção".



           Extraído do diálogo de Sócrates no livro "A República" de Platão.


                                                      🌞🌞🌟🌟🌞🌞