Encerrando a minha atípica série de resenhas, escritas durante esse período de dimensões catastróficas aqui no meu Estado, que me obrigou a pôr a leitura em dia, trago a vocês o livro de um escritor que, só de nome, eu conhecia, Fiódor Dostoiévski.
À princípio,
com ideias preconcebidas sobre o autor, achei que estava embarcando numa
leitura pesada, carregada de citações surreais e filosofia ateísta.
Francamente, não sei de onde eu tirei projeções como essas, provavelmente porque
o nome do homem é difícil de escrever. Pra surpresa minha a leitura fluiu fácil
e, fora uma exagerada reflexão do protagonista sem nome, sobre o seu solitário
passado, consegui acompanhar sem qualquer problema o desenrolar da trama.
“Noites brancas” tem como tela de fundo as
quatro noites em que um rapaz e uma moça russos, moradores de São
Petersburgo, encontram-se às margens do
Rio Negro pra trocarem confidências, desabafos e ansiedades quanto ao futuro.
“Hoje o dia foi triste,
chuvoso, sem luz, exatamente como minha velhice futura. Fui oprimido por
pensamentos tão estranhos e sensações tão sombrias, questões ainda tão obscuras
acumulavam-se em minha cabeça, e era como se eu não tivesse forças nem vontade
de resolvê-las. Não cabia a mim resolver tudo aquilo!
Hoje não nos veremos. Ontem,
quando nos despedimos, nuvens começavam a cobrir o céu e erguia-se um nevoeiro.
Eu disse que o dia seguinte seria feio; ela não respondeu, não queria falar
contra si mesma; para ela, este dia seria luminoso e claro, e nenhuma
nuvenzinha iria encobrir a sua felicidade.
– Se chover, não nos veremos! –
disse ela. – Eu não virei.
Pensei que ela não se
importaria com a chuva de hoje; no entanto, não veio.
Ontem foi o nosso terceiro
encontro, nossa terceira noite branca...”
Sintetizando
tudo, a impressão que em mim ficou é de uma obra sobre a amizade entre dois jovens de sexos opostos.
Algumas vezes o sentimento se confunde na cabeça de ambos, mas a relação não
chega a ultrapassar os limites da pura e simples empatia entre duas almas. Os
diálogos inocentes surpreendem os apreciadores de romances tradicionais,
apimentados.
Recomendo o livro como sugestão de leitura rápida, em tom de diário pessoal adolescente, composto por esse escritor considerado pela crítica e leitores como um dos maiores autores russos de todos os tempos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário