Praça Tamandaré
Eu sentado no banco da
praça
Em frente ao coreto
Programa Sem graça
É o pai com a criança
A senhora com a bolsa
É o homem fumando um cigarro
Correndo... É O ÔNIBUS
A moça grávida de rosa
Que graça!
O brigada passa a mão no
uniforme
Tem gente na torre de microondas
O lago continua sem ondas
Leões brigam no túmulo do
Bento
Geribanda agora é só pensamento
O monumento ao Tamandaré
Napoleão continua de
pé.(#)
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A amizade entre D. Pedro II e o
Marquês de Tamandaré(Patrono da Marinha do Brasil) aumentou após um acidente
ocorrido em 1849, quando o imperador visitou a esquadra estacionada no Rio de
Janeiro e caiu no mar ao passar de um barco para o cais. Tamandaré e um
ajudante salvaram o imperador. Uma quadrinha popular eternizou o episódio:
“Sua majestade no arsenal,
caiu n’água, foi ao fundo
e todos os peixes gritaram:
Viva Dom Pedro Segundo
Logo, vivo como peixe,
Não se deixou cair a ré.
Do pouco bondoso banho,
Salvou-o
Tamandaré.
Em 1865 a Câmara Municipal do
Rio Grande, em sua homenagem, denominou a maior praça do interior do Rio Grande
do Sul de Tamandaré, onde existe um monumento à sua memória. Sua data de
nascimento , 13 de dezembro, é comemorada como o Dia do Marinheiro.
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Foi exatamente nesta praça, em cima do
magnífico coreto de pedra ali construído, que Anaíldes discursou pela primeira
vez como candidata á vereança rio-grandina.
Chamando atenção pela sua
beleza (usava uma justíssima calça corsário preta e um pequeno top vermelho de
algodão), ela apresentou-se formalmente à população colocando-se á disposição
da coletividade. Estava acompanhada por cerca de 7 cabos eleitorais recrutados
dentro do seu vasto círculo de amizades.
No centro da cidade, poucos até
então conheciam-na, pois raramente era vista á luz do dia.
Não bastasse o visual
apropriado para chamar a atenção masculina, o pseudônimo que usou para
registrar a sua inscrição ao pleito foi uma bomba em cheio no conservadorismo
da cidade: “Saputinha” era um nome que despertava muitos comentários na
sociedade rio-grandina e suas subdivisões.
Várias foram as ações que
entraram na Justiça Eleitoral visando impugnar a sua candidatura, mas nenhuma
delas teve embasamento legal para obstruir sua corrida ao Legislativo
Municipal.
A campanha decolou no decorrer
do processo eleitoral, chamando atenção pelo tom franco e aberto impresso no
discurso. Repetia freqüentemente suas influências e predileções, colocando “uma
transa bem legal” entre as coisas que mais apreciava na vida.
Sa –sa -sa putinha
É saputinha para o
Rio Grande mudar ,
Sa-
sa- sa putinha
A Saputinha ainda tem muito para dar
Ela é de guerra e
não foge da raia
Não usa terno, mas
anda de mini-saia
Essa cidade ta
pedindo por mudança
E Saputinha é
nossa única esperança
O célebre músico, professor,
arranjador e compositor rio-grandino “Tiquinho”, foi quem compôs o hino da
campanha, recebendo dela a promessa de apoio para a gravação do seu 1º LP,
“Queixas de um pescador”. Sua cotação andava em alta na cidade, pois vencera,
em quatro edições consecutivas, o festival “Balança Rio Grande”, um verdadeiro
celeiro para os talentos da terra.
Saputinha conseguiu despertar
as esperanças do eleitorado masculino, usando e abusando de astúcia e
sensualidade. A crescente popularidade que foi conquistando, contrariou a
muitos.
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Ao contrário do que muitos
imaginaram, Ilton Freitas Kupinski não se conformara mansamente com a traição
de Anaíldes. Ao vê-la formosa e insinuante durante a sua campanha eleitoral,
quis novamente possuí-la.
Bolinha descobrira, após a
dissolução da união, que a bugra criara mais uma alcunha para designá-lo entre
suas colegas de chimarrão; “Ladinho”. Segundo a então potranca de 20 anos,
Ilton não era nem um pouco criativo na hora do amor.
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Certa vez, Sá, quando retornava
pra casa ao término do expediente na Cafôfu, mandou o motorista do táxi,
Sirênio Luiz da Silva, brecar em frente ás instalações do Frigorífico e
Abatedouro Anselmi, na Av. Portugal. Teve atenção despertada por um saudável
jovem de tez morena e longa trança em
seus cabelos negros. Enquanto um caminhão transportando quadrúpedes para o
abate cruzava o pórtico de entrada da indústria, o rapaz segurava uma cartaz
escrito em letras garrafais:
AS VACAS SÃO PARA DAR LEITE
PROTEÇÃO Á ELAS
Comenta-se que Anaíldes começou a
modificar certos hábitos seus á partir daquele dia. O motorista, que a conhecia
bem, estranhou o seu silêncio durante todo o restante do trajeto até sua casa na Rua Caldas Junior, próximo á
Caixa D´agua da Hidráulica.
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Há 3 dias da eleição, após tomar
“uma” para cumprir as ameaças que andava fazendo á ex-mulher, Bolinha carregou
o seu Taurus calibre 38 para num comício perto da garagem da empresa Xavante,
tentar raptá-la ou até mesmo matá-la se houvesse resistência. Ao deslocar-se a
pé para o local, acabou encontrando um antigo desafeto de uma briga no bar Povo
Novo. O inimigo, mais ágil e robusto, apoderou-se da arma e fez 3 disparos em
cada uma das mãos do açougueiro, deixando-o incapacitado para o exercício de
seu ofício sanguinário.
A surpresa maior daquele dia ainda
estava por vir, pois Anaíldes Donato Quaresma não compareceu ao comício de
encerramento da sua própria campanha e nunca mais foi vista na cidade. Partiu
apenas com alguns pertences pessoais. Não deixou bilhete ou indício algum de
seu destino para saciar a curiosidade daqueles que ficaram...
“Na cidade do Rio Grande, nesse
espaço público de sonhos e de desesperanças, onde o porto domina o espetáculo e
a linha do horizonte vai, aos poucos, engolindo os navios como o sexo de uma
rainha louca e faminta”. (#)
(#) Poesias e citação extraídas
do livro Forte Jesus-Maria-José, do
poeta rio-grandio Victor Hugo G.Rodrigues- Editora Edicon
FIM
FIM
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