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segunda-feira, 15 de junho de 2015

Anaíldes- Parte II



                            

                                            Praça Tamandaré


                                   Eu sentado no banco da praça
                                   Em frente ao coreto
                                   Programa Sem graça
                    
                                   É o pai com a criança
                                   A senhora com a bolsa
                                   É o homem fumando um cigarro
                                   Correndo... É O ÔNIBUS
                    
                                   A moça grávida de rosa
                                  Que graça!
                                  O brigada passa a mão no uniforme
                                  Tem gente na torre de microondas
                                  O lago continua sem ondas

                                  Leões brigam no túmulo do Bento
                                  Geribanda  agora é só pensamento
                                  O monumento ao Tamandaré
                                  Napoleão continua de pé.(#)


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            A amizade entre D. Pedro II e o Marquês de Tamandaré(Patrono da Marinha do Brasil) aumentou após um acidente ocorrido em 1849, quando o imperador visitou a esquadra estacionada no Rio de Janeiro e caiu no mar ao passar de um barco para o cais. Tamandaré e um ajudante salvaram o imperador. Uma quadrinha popular eternizou o episódio: 
                                                          
                                                   “Sua majestade no arsenal,
                                                     caiu n’água, foi ao fundo
                                                     e todos os peixes gritaram:
                                                     Viva Dom Pedro Segundo
                                                     Logo, vivo como peixe,
                                                     Não se deixou cair a ré.
                                                     Do pouco bondoso banho,
                                                     Salvou-o Tamandaré.

               
                Em 1865 a Câmara Municipal do Rio Grande, em sua homenagem, denominou a maior praça do interior do Rio Grande do Sul de Tamandaré, onde existe um monumento à sua memória. Sua data de nascimento , 13 de dezembro, é comemorada como o Dia do Marinheiro.
                           
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                  Foi exatamente nesta praça, em cima do magnífico coreto de pedra ali construído, que Anaíldes discursou pela primeira vez como candidata á vereança rio-grandina.
                 Chamando atenção pela sua beleza (usava uma justíssima calça corsário preta e um pequeno top vermelho de algodão), ela apresentou-se formalmente à população colocando-se á disposição da coletividade. Estava acompanhada por cerca de 7 cabos eleitorais recrutados dentro do seu vasto círculo de amizades.
                No centro da cidade, poucos até então conheciam-na, pois raramente era vista á luz do dia.
                Não bastasse o visual apropriado para chamar a atenção masculina, o pseudônimo que usou para registrar a sua inscrição ao pleito foi uma bomba em cheio no conservadorismo da cidade: “Saputinha” era um nome que despertava muitos comentários na sociedade rio-grandina e suas subdivisões.
                Várias foram as ações que entraram na Justiça Eleitoral visando impugnar a sua candidatura, mas nenhuma delas teve embasamento legal para obstruir sua corrida ao Legislativo Municipal.
                A campanha decolou no decorrer do processo eleitoral, chamando atenção pelo tom franco e aberto impresso no discurso. Repetia freqüentemente suas influências e predileções, colocando “uma transa bem legal” entre as coisas que mais apreciava na vida.


                             Sa –sa -sa putinha
                             É saputinha para o Rio Grande mudar ,     
                             Sa- sa- sa putinha
                             A Saputinha ainda tem muito para dar

                             Ela é de guerra e não foge da raia
                             Não usa terno, mas anda de mini-saia
                             Essa cidade ta pedindo por mudança
                             E Saputinha é nossa única esperança


                  O célebre músico, professor, arranjador e compositor rio-grandino “Tiquinho”, foi quem compôs o hino da campanha, recebendo dela a promessa de apoio para a gravação do seu 1º LP, “Queixas de um pescador”. Sua cotação andava em alta na cidade, pois vencera, em quatro edições consecutivas, o festival “Balança Rio Grande”, um verdadeiro celeiro para os talentos da terra.
                  Saputinha conseguiu despertar as esperanças do eleitorado masculino, usando e abusando de astúcia e sensualidade. A crescente popularidade que foi conquistando, contrariou a muitos.   

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                   Ao contrário do que muitos imaginaram, Ilton Freitas Kupinski não se conformara mansamente com a traição de Anaíldes. Ao vê-la formosa e insinuante durante a sua campanha eleitoral, quis novamente possuí-la.
                   Bolinha descobrira, após a dissolução da união, que a bugra criara mais uma alcunha para designá-lo entre suas colegas de chimarrão; “Ladinho”. Segundo a então potranca de 20 anos, Ilton não era nem um pouco criativo na hora do amor.

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                  Certa vez, Sá, quando retornava pra casa ao término do expediente na Cafôfu, mandou o motorista do táxi, Sirênio Luiz da Silva, brecar em frente ás instalações do Frigorífico e Abatedouro Anselmi, na Av. Portugal. Teve atenção despertada por um saudável jovem de tez morena e longa  trança em seus cabelos negros. Enquanto um caminhão transportando quadrúpedes para o abate cruzava o pórtico de entrada da indústria, o rapaz segurava uma cartaz escrito em letras garrafais:

                    AS VACAS SÃO PARA DAR LEITE
                          PROTEÇÃO Á ELAS

            Comenta-se que Anaíldes começou a modificar certos hábitos seus á partir daquele dia. O motorista, que a conhecia bem, estranhou o seu silêncio durante todo o restante do trajeto até  sua casa na Rua Caldas Junior, próximo á Caixa D´agua da Hidráulica.
    
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             Há 3 dias da eleição, após tomar “uma” para cumprir as ameaças que andava fazendo á ex-mulher, Bolinha carregou o seu Taurus calibre 38 para num comício perto da garagem da empresa Xavante, tentar raptá-la ou até mesmo matá-la se houvesse resistência. Ao deslocar-se a pé para o local, acabou encontrando um antigo desafeto de uma briga no bar Povo Novo. O inimigo, mais ágil e robusto, apoderou-se da arma e fez 3 disparos em cada uma das mãos do açougueiro, deixando-o incapacitado para o exercício de seu ofício sanguinário.
            A surpresa maior daquele dia ainda estava por vir, pois Anaíldes Donato Quaresma não compareceu ao comício de encerramento da sua própria campanha e nunca mais foi vista na cidade. Partiu apenas com alguns pertences pessoais. Não deixou bilhete ou indício algum de seu destino para saciar a curiosidade daqueles que ficaram...

            “Na cidade do Rio Grande, nesse espaço público de sonhos e de desesperanças, onde o porto domina o espetáculo e a linha do horizonte vai, aos poucos, engolindo os navios como o sexo de uma rainha louca e faminta”. (#) 

          
                                  
                                  (#) Poesias e citação extraídas do livro Forte Jesus-Maria-José, do 
                                                     poeta rio-grandio Victor Hugo G.Rodrigues- Editora Edicon


                                  FIM
                                      

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