Paulo, como muitos sabem, foi um aspirante a doutor da Lei
(sacerdote graduado). Um judeu do século I, contemporâneo de Cristo, mas que
nunca o vira pessoalmente durante seu ministério, e que, profundamente zeloso
da ortodoxia judaica, de início foi perseguidor implacável dos primeiros
cristãos. Contudo, esta atitude agressiva iria mudar radicalmente após Paulo
(na época, Saulo) ter uma visão do Cristo pós-morte. Isso o abalou o suficiente
para que passasse por uma crise religiosa, se convertendo ao cristianismo e se
transformando de perseguidor a divulgador. Contudo, apesar do que diz
supostamente Lucas nos Atos dos Apóstolos (escrito muitos anos após a morte de
Paulo, provavelmente em torno do ano 75), Paulo não procurou nas fontes
apropriadas, ou seja, nos discípulos diretos de Jesus, a base da sua própria
mensagem. Ao invés disto, após um contato muito superficial com alguns
discípulos menores – e não com os apóstolos, o que só se daria após três anos
-, Paulo se afastou para pensar sobre sua experiência da visão que teve do ente
que antes perseguira. Com estas reflexões ele também questionou sua herança
formal judaica, para voltar três anos depois com toda uma visão pessoal já
sedimentado do que seria ou deveria ser o cristianismo, moldada com elementos
judaicos e gregos. Só então, depois, teve contato com alguns dos apóstolos
diretos de Jesus e, nas suas palavras, destes mais precisamente apenas Pedro e
Tiago, “irmão do Senhor”, sem que este contato tivesse qualquer grande impacto
na sua já cristalizada visão do cristianismo. Assim, lemos pela pena do próprio
Paulo em Gálatas 1:16-20:
“Não consultei carne nem sangue, nem subi a Jerusalém aos que
eram apóstolos antes de mim, mas fui à Arábia e voltei novamente a Damasco. Em
seguida, após três anos, é que subi a Jerusalém para avistar-me com Pedro e
fiquei com ele por 15 dias. Não vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão
do Senhor. Isso vos escrevo e asseguro diante de Deus que não minto.”
Portanto, segundo alguns pesquisadores – e entre
eles, alguns teólogos mais esclarecidos – , existe material suficiente para
suspeitar que Paulo divulgou uma doutrina “paulina” em franco contraste
com a mensagem de Jesus. Paulo ajudou a cristalizar uma religião sobre
Cristo e não de Cristo. Edgar Jones, autor do livro Paulo: O Estranho, diz
que "Jesus de Nazaré deve ser cuidadosamente diferenciado do Jesus
de Paulo. Gerações e séculos passaram até que a corrente paulina com seu forte
apelo em favor do Império Romano ganhasse ascendência sobre a corrente
apostólica".
O fato é que, até o século 4, existiam várias correntes
de cristianismo, em linhas gerais divididas entre as que eram lideradas pelos
discípulos de Paulo e outras atreladas, pelos seguidores, à tradição mais
ligada aos apóstolos de Cristo. Uma que dava ênfase à transformação pessoal
calcada na preocupação ética com o próximo a partir das mensagens éticas do
evangelho e outra mais voltada para a conversão ideológica à própria figura de
Jesus. Sobre essa divisão veja-se, por exemplo, a ênfase que está na epístola
atribuída ao apóstolo Tiago, o irmão do Senhor – e que portanto, se for dele
mesmo conheceu e conviveu com Jesus. Ainda que provavelmente a epístola não
seja do Tiago apóstolo, parece ser de alguém que conhecia melhor os ensinos de
Jesus que Paulo. Esta epístola dá a grande ênfase à caridade e às obras
humanistas, criticando quem acha que apenas a fé o ajudará a purificar a alma e
atingir o nível do Reino dos Céus, o que está concorde com o trecho de Mateus
que já vimos.
Na epístola a Tiago atribuída, lê-se:
Na epístola a Tiago atribuída, lê-se:
“14 Que aproveitará, irmãos meus, a alguém que tem fé, se não
tiver obras? Acaso podê-lo-á salvá-lo a fé? 15 Se um irmão, porém, ou uma irmã
estiverem nus e lhes faltar o alimento diário, 16 e lhes disser algum de vós:
Vá em paz, aquentai-vos e farte-se, e não lhes deres o que é preciso para o
corpo, de que lhes aproveitará estas palavras? 17 Assim também a fé, se não
tiver obras, é morta em si mesma”.
“18 Poderá logo alguém dizer: Tu tens a fé e eu tenho as obras.
Mostrai-me tu a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas
obras. 19 Tu crês que há um só Deus, fazes muito bem, mas também os demônios o
crêem e tremem. 20 Queres tu, pois, saber, oh homem vão, que a fé sem obras é
morta? (...) 24 Não vedes como é que é pelas obras que um homem é justificado e
não somente pela fé? (...) 26 Porque bem como um corpo sem espírito é morto,
assim também a fé sem obras é morta.”
Fonte: oespiritualismoocidental.blogspot
Um comentário:
Não Sou una estudiosa do tema. Mas sempre me pareceu que a doutrina de Paulo, não é a mesma de Jesus. Pese o facto de ele ser um doutor da Igreja, e de serem dele a grande maioria das epístolas lidas actualmente na Igreja.
Falta-lhe amor e compaixão.
Um abraço e bom domingo
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