Quando começaram a melhorar as obras no Brasil eu
comecei a ter algum trabalho como pintor. Então tinha um cearense que levava a
irmã dele também, mulher de certa idade. Eu nunca perguntei, mas ela tinha uns
40 anos, era servente dele. E ela contava muita coisa de Lampião, o Cangaceiro.
Ela conheceu o homem de perto porque ela disse que eram crianças. Aí eu me
aproximei e gostava de ver e ouvir as coisas que ela contava. Aí ele me disse
que esteve trabalhando em Brasília. Foi aí
que eu disse que não fui porque não encontrei companhia, senão eu teria
ido para Brasília. Foi aí que eu tive uma surpresa. Ele me disse assim: -Eu não
sei o que você queria lá. Então ele passou a me contar como foi construída a
cidade de Brasília. Eles enchiam caminhões com
paus de arara com promessas de lá terem uma casa para cada família que quisesse ir. Então muitos abandonavam sua
terra e embarcavam naqueles caminhões. Iam engolir o pó das estradas por vários
quilômetros com promessas de melhor vida. E em vários caminhões lá iam sonhando
com dias melhores deixando para trás sua identidade de vidas secas.
Trecho de “Memórias” (2016) 304 p. de Geraldo do Cavaco, escritor e músico portoalegrense
Trecho de “Memórias” (2016) 304 p. de Geraldo do Cavaco, escritor e músico portoalegrense
Um comentário:
Quando se querem fazer grandes coisas sempre se consegue mão-de-obra com o mesmo sistema. Com promessas falsas.
Abraço e saúde
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