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quinta-feira, 2 de abril de 2020

Os caminhos sem volta




Quando começaram a melhorar as obras no Brasil eu comecei a ter algum trabalho como pintor. Então tinha um cearense que levava a irmã dele também, mulher de certa idade. Eu nunca perguntei, mas ela tinha uns 40 anos, era servente dele. E ela contava muita coisa de Lampião, o Cangaceiro. Ela conheceu o homem de perto porque ela disse que eram crianças. Aí eu me aproximei e gostava de ver e ouvir as coisas que ela contava. Aí ele me disse que esteve trabalhando em Brasília. Foi aí  que eu disse que não fui porque não encontrei companhia, senão eu teria ido para Brasília. Foi aí que eu tive uma surpresa. Ele me disse assim: -Eu não sei o que você queria lá. Então ele passou a me contar como foi construída a cidade de Brasília. Eles enchiam caminhões com  paus de arara com promessas de lá terem uma casa para cada família  que quisesse ir. Então muitos abandonavam sua terra e embarcavam naqueles caminhões. Iam engolir o pó das estradas por vários quilômetros com promessas de melhor vida. E em vários caminhões lá iam sonhando com dias melhores deixando para trás sua identidade de vidas secas.

Trecho de  “Memórias” (2016) 304 p.  de Geraldo do Cavaco, escritor e músico portoalegrense

Um comentário:

Elvira Carvalho disse...

Quando se querem fazer grandes coisas sempre se consegue mão-de-obra com o mesmo sistema. Com promessas falsas.
Abraço e saúde