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sábado, 16 de maio de 2020

O Iluminado- J.C. Bridon


           Tinha caminhado já um bom trecho de mato fechado, quando novamente, meu cão empinou as orelhas e partiu em desabalada carreira em uma direção contrária àquela que me dirigia.
        Outra vez, pensei já meio contrariado. Porém, logo me veio à mente, que cada vez que assim procedia, algo maravilhoso acontecia, por esse motivo, fiz de conta que se tratava de algum pequeno animal e prossegui na caminhada.
          Andei bem uns bons metros, quando ouvi um latido conhecido que parecia vir de algum ponto à frente. Não me preocupei com aquilo, se bem que meu coração parecia querer saltar pela boca, e continuei andando calmamente.
        Estava disposto a primeiro fazer o que me havia proposto, pois se começasse a parar por motivos desconhecidos, seria muito difícil conseguir madeira suficiente para passar a estação das chuvas, pois aquela altura as nuvens que pareciam tão longe, com o vento se aproximaram rápido, em um prenúncio de chuva eminente.
       Alcancei o lugar que desejava e comecei a me preparar para derrubar algumas árvores e o fiz tão rapidamente que até eu mesmo estranhei, mas, como estava com um pouco de pressa, creditei a ela a ligeireza.
     Cortei o necessário para passar toda a temporada e como teria de fazer algumas viagens até que tudo estivesse recolhido e bem guardado, apressei-me para terminar antes que os primeiros pingos de chuva se fizessem presentes.
      Levei um bom tempo e devo ter gasto bastante energia, pois tão logo adentrei a cabana e me atirei com tudo na cadeira de balanço e adormeci um pouco. Acordei às escuras, sinal de que havia anoitecido, enquanto dormia.
    Tomei um banho quente e gostoso. Como estava com muita fome, comi e atirei-me na cama. Dormi até o corpo reclamar que já estava na hora de levantar, se bem que o frio agora se fazia mais presente e as chuvas caíam feito corredeiras.
      Minha vontade talvez fosse ficar na cama mais um pouco, porém tinha muitas coisas a fazer, como recolher ao rancho as ferramentas, carrinhos e tudo o mais e ainda teria de consertar o telhado do mesmo, pois vivia cheio de goteiras e aquilo não era muito bom.
      Em todo o tempo de chuvas, pouco havia para fazer lá fora, por isso passei a maior parte do tempo escrevendo e colocando minhas coisas em ordem. Aquilo me fez um bem enorme, pois revi poemas e textos que havia escrito já há algum tempo e que agora me pareciam bem mais atuais, tanto é que os deixei à mão, caso precisasse deles neste novo romance.
     Durante toda a temporada de chuvas, eu ouvia sons estranhos e esquisitos, vindos lá de fora, principalmente à noite, porém não me atrevia a sair para precisar o que era.
      Meu fiel cão permanecia comigo a maior parte do tempo, e de vez em quando, latia em frente a porta, sinal de que desejava sair. Prontamente, abria a porta e ele desaparecia em desabalada carreira.

     Creio que ele conhecia a floresta de trás para frente, como se costuma dizer, inclusive conhecia lugares que eu não havia estado ainda, pois quando retornava mostrava-se alegre, balançando a cauda em sinal de satisfação. Os dias foram passando, os céus a cada manhã se tornavam diferentes, menos carrancudos, prenúncio de breve mudança.

                                                                     " O Iluminado" J.C. Brindon- Editora Ísis
                                                                        1ª edição, 2012.  

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