Tinha caminhado já um bom trecho de mato fechado, quando novamente,
meu cão empinou as orelhas e partiu em desabalada carreira em uma
direção contrária àquela que me dirigia.
Outra vez, pensei já meio contrariado. Porém, logo me
veio à mente, que cada vez que assim procedia, algo maravilhoso
acontecia, por esse motivo, fiz de conta que se tratava de algum
pequeno animal e prossegui na caminhada.
Andei bem uns bons metros, quando ouvi um latido conhecido
que parecia vir de algum ponto à frente. Não me preocupei com
aquilo, se bem que meu coração parecia querer saltar pela boca, e
continuei andando calmamente.
Estava disposto a primeiro fazer o que me havia proposto,
pois se começasse a parar por motivos desconhecidos, seria muito
difícil conseguir madeira suficiente para passar a estação das
chuvas, pois aquela altura as nuvens que pareciam tão longe, com o
vento se aproximaram rápido, em um prenúncio de chuva eminente.
Alcancei o lugar que desejava e comecei a me preparar para
derrubar algumas árvores e o fiz tão rapidamente que até eu mesmo
estranhei, mas, como estava com um pouco de pressa, creditei a ela a
ligeireza.
Cortei o necessário para passar toda a temporada e como
teria de fazer algumas viagens até que tudo estivesse recolhido e
bem guardado, apressei-me para terminar antes que os primeiros pingos
de chuva se fizessem presentes.
Levei um bom tempo e devo ter gasto bastante energia, pois
tão logo adentrei a cabana e me atirei com tudo na cadeira de
balanço e adormeci um pouco. Acordei às escuras, sinal de que havia
anoitecido, enquanto dormia.
Tomei um banho quente e gostoso. Como estava com muita
fome, comi e atirei-me na cama. Dormi até o corpo reclamar que já
estava na hora de levantar, se bem que o frio agora se fazia mais
presente e as chuvas caíam feito corredeiras.
Minha vontade talvez fosse ficar na cama mais um pouco,
porém tinha muitas coisas a fazer, como recolher ao rancho as
ferramentas, carrinhos e tudo o mais e ainda teria de consertar o
telhado do mesmo, pois vivia cheio de goteiras e aquilo não era
muito bom.
Em todo o tempo de chuvas, pouco havia para fazer lá
fora, por isso passei a maior parte do tempo escrevendo e colocando
minhas coisas em ordem. Aquilo me fez um bem enorme, pois revi poemas
e textos que havia escrito já há algum tempo e que agora me
pareciam bem mais atuais, tanto é que os deixei à mão, caso
precisasse deles neste novo romance.
Durante toda a temporada de chuvas, eu ouvia sons estranhos
e esquisitos, vindos lá de fora, principalmente à noite, porém não
me atrevia a sair para precisar o que era.
Meu fiel cão permanecia comigo a maior parte do tempo, e
de vez em quando, latia em frente a
porta, sinal de que desejava sair.
Prontamente, abria a porta e ele desaparecia em desabalada carreira.
Creio que ele conhecia a floresta de trás para frente,
como se costuma dizer, inclusive conhecia lugares que eu não havia
estado ainda, pois quando retornava mostrava-se alegre, balançando a
cauda em sinal de satisfação. Os dias foram passando, os céus a
cada manhã se tornavam diferentes, menos carrancudos, prenúncio de
breve mudança.
" O Iluminado" J.C. Brindon- Editora Ísis
1ª edição, 2012.
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