A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, em inglês), organização não governamental dedicada à conservação ambiental, começou a definir, já na década de 1950, critérios a serem utilizados na análise do grau de ameaça a uma espécie. Embora inicialmente as avaliações fossem globais, o método foi evoluindo e hoje é possível aplicá-lo também regionalmente, dentro dos limites territoriais de um país ou estado, sob certas condições. Uma vez aplicados os critérios, as espécies animais ou vegetais são classificadas, conforme o grau de ameaça, em diferentes categorias e passam a compor as chamadas "listas vermelhas". Estas podem vir a ser incorporadas ao sistema de normas jurídicas de um país ou de um estado, passando a ser oficialmente reconhecidas pelo Estado e merecendo políticas públicas e ações capazes de protegê-las e reduzir a ameaça.
As categorias indicam assim o "status de conservação" das espécies avaliadas e seguem uma nomenclatura padronizada pela IUCN, hoje utilizada por diversos países. No Brasil, são traduzidas para a língua portuguesa, mas conservam a sigla em inglês, internacionalmente reconhecida.
O método de avaliação da IUCN e a classificação de uma espécie buscam responder à seguinte pergunta: "Qual a probabilidade de uma espécie tornar-se extinta em um futuro próximo, dado o conhecimento atual das tendências populacionais, da distribuição e das ameaças recentes, atuais ou projetadas?"
No Brasil, as listas nacionais são instituídas pelas Portarias do Ministério do Meio Ambiente 443 (flora) e 444 (fauna), ambas de 2014, enquanto no Rio Grande do Sul temos o Decreto 51.797 (fauna) e 52.109 (flora), também de 2014, que instituem nossas listas estaduais. A mesma espécie pode ser classificada em categorias diferentes na lista nacional e na lista estadual, em função do resultado da aplicação dos critérios em dado limite territorial.
Dentre as espécies de nossas dunas, o tuco-tuco das dunas ("Ctenomys flamarionii") é aquela que possui hoje o status mais preocupante. É considerada uma Espécie Criticamente ameaçada (Cr) em nível nacional, o que significa que a espécie está enfrentando um risco extremamente alto de extinção na natureza. Em nível estadual, ele foi classificado como Espécie Ameaçada (EN), o que, embora significando um risco mais baixo, ainda representa um risco muito alto de extinção na natureza, ou seja, no Rio Grande do Sul.
Embora a lagartixa das dunas (Liolaemus occipitalis") não seja reconhecida como ameaçada em nível nacional, ela é classificada como Espécie Vulnerável (VU) no Rio Grande do Sul , correndo um alto risco de extinção.
Além disso, o Tatu-mulita ("Dasypus hybridus") é classificado na lista estadual como Espécie com Dados Insuficientes (DD), o que significa que, embora a espécie não esteja ameaçada de extinção, se reconhece a possibilidade de que possa estar ameaçada, e que pesquisas futuras poderão indicar uma categoria de ameaça.
As principais ameaças a estas espécies são ligadas à redução ou fragmentação do habitat, em função dos processos de urbanização e atividades turísticas pouco ou mal planejados. A introdução de espécies exóticas também está relacionada a esses riscos. Por este motivo, a criação de Unidades de Conservação nas dunas costeiras de Rio Grande, como preconizado pelo projeto Mar de Areia, executado pelo NEMA (Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental) com patrocínio da Fundação Boticário de Proteção à Natureza, permitirá o ordenamento das atividades dentro e no entorno das dunas. Também poderá disponibilizar recursos para o controle e a fiscalização das ações que prejudiquem essas espécies e para atividades de educação ambiental que despertem na população um novo olhar para as dunas. Com isso, as Unidades de Criação poderão evitar que o grau de ameaça de extinção do tuco-tuco das dunas e capotirágua aumente, e que o tatu-mulita e outras espécies que habitam ou frequentam as nossas dunas não venham a ser consideradas ameaçadas no futuro.
Lilian Wetzel- Coordenadora dos Projetos Mar
de Areia e Dunas Costeiras.
Um comentário:
Um texto muito interessante. Não sabia que as dunas tinham tanta importância para essas espécies. Pensamos sempre nas dunas como proteção do avanço das águas, e nem nos lembramos das espécies que nela podem ter o seu habitáculo.
Abraço e saúde
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