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quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Tradições Yorubás praticadas nas senzalas no século XVIII

 

Imagem que apresenta o enredo da Escola de Samba Império
Serrano, "Ilú obá Òyó: A gira dos ancestrais", para o carnaval de 2024

                   E vendo o ato de canto de dança, os guardiões levavam ao conhecimento dos seus patrões, o barulho dos negros dentro da senzala, esperando suas ordens para silenciar com castigos e maus tratos. Falavam que os negros mal chegavam na senzala, começavam a cantar sem ter hora de acabar. Num desses dias, certo negociador e traficante de seres humanos escravizados tinha chegado na fazenda para tratar de negócios. Em uma negociação do comércio entre negros e açúcar para fora do Brasil, viu o "mal-feitor" reclamar dos escravizados pelo barulho e o comerciante entrou no assunto e perguntou o que os negros faziam após o duro trabalho nos canaviais. O fazendeiro convidou-o para ver com seus próprios olhos a satisfação deles depois de uma dura jornada de trabalho nos canaviais e, chegando lá, estavam mesmo cantando e dançando. O comerciante, acostumado a andar em fazendas, olhou para o fazendeiro e disse: "O que esses estão fazendo é Batuque, bater, batucar, é desse forma que lhe mostram que estão conformados com a escravidão". O comerciante disse que já sabia que eles, os negros, faziam essa prática de cantar e dançar e isso acontecia em outras fazendas. Lembrou que lá na África muitos negros eram caçados nesses momentos de diversão entre eles, de batuko. Assim disse o comerciante e recomendou: "Deixe eles batucarem, assim não se revoltam e esquecem do passado." À partir daí, com a denominação Batuque, os escravizados que tinham esse costume passaram a ter um pouco de paz nesse momento e o Batuque ainda está entre nós.

          O povo yorubá bate com os pés no chão e bate palmas com as mãos para rezar com suas divindades. Os fazendeiros não deram mais importância às batucadas feitas pelo negros dentro das senzalas, ficou o ditado entre eles, os escravistas: 'Deixem esses negros fazerem batuko, batuque, é uma forma deles demonstrarem alegria." Mas na realidade eles estavam falando com suas ancestralidades e suas divindades. Até hoje, essa denominação é usada em roda de samba. Quem não lembra desse nome pra se referir a uma festa com música e alegria? Quando perguntavam a alguém que vinha feliz de uma roda de samba, todos temos lembranças dessa pessoa dizendo "estava em uma batucada, um batuque ou batucajada".

          Por isso eu digo que Batuque é uma denominação da tradição do povo Bantu, mas que serviu para o Povo Yorubá no Rio Grande do Sul.

Um comentário:

Golden Crown disse...

Sua postagem se destacou: informativa, envolvente e instigante. Obrigado!