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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Unidos desde Òyó pelos laços familiares

 

orisa
Òrísá Òsun 


            Essa cadeia que nos alimenta desde os primórdios dos primeiros Yorubás, organizados que eram, passava em transmissão de seus conhecimentos para alguém interessado, confiável e de uma mente equilibrada, com uma cultura a ser ensinada na oralidade, e não na escrita, para que chegasse como chegou para uns e talvez não para todos. Assim passou a tradição oral do ritual de uma Nação que está na terra desde os primeiros Homo Sapiens, desde o início da humanidade, muito antes do cristianismo. Essa é a história escrita com H maiúsculo e ela vem de geração em geração passando na oralidade, que está no dia de hoje nos dando a chance de contar por várias vias as histórias de uma diversidade cultural que nossas ancestralidades nos deixaram, de uma forma tão viva como se eu tivesse vivido junto a eles nos seus tempos de prática da tradição.

            Quando eu faço a prática direcionada ao Sagrado, dentro do ojúbo (quarto de Santo) ou fora dele, sendo direto na natureza em seus lugares de moradia que são os matos, bosques, mar, pedreira, rio, cachoeira, cruzeiro, encruzilhada, cemitério, etc... quando estou nesses lugares o Áse (energia) é um pouco diferente de quando estou reverenciando algo aos Òrìsà dentro de casa. Ao meu ver, se eu digo que os Òrìsà são a própria natureza, o Àsé desse lugar se multiplica. Quando uma Òsùn recebe um leque fechado, ao ser aberto por ela, o leque nos mostra que direção vamos tomar em nossas vidas, só que certas vezes nós já mostramos à divindade Òsùn, antes dela abrir o leque, o que nós realmente queremos para nossas vidas e muitas vezes estas escolhas estão erradas. O que nos resta é ser humilde e voltar para ver se ela ainda está nos esperando para abrir o leque que só ela domina e, por minha experiência, tenho certeza que ela está a nossa espera, porque sei que Mãe não abandona filho. Sei que pode ser o inverso, mas se acontecer, volto a dizer: Òsùn, Yemojá, Obà, Oya, Òtin, nossas Mães no panteão Yorubá, elas não abandonam seus Omo (filhos), mas qualquer quer que seja o erro que nós venhamos a cometer, somos cobrados por elas. Não interessa o tamanho do erro nem para quem for, a cobrança é do mesmo peso quando se coloca na balança de Sàngó, o nosso Juiz.

            Até diziam os mais antigos que a cobrança de algum erro nosso é feita pelo Òrìsà masculino com muito rigor, e eles iam pedir para a divindade que fosse Mãe quem cobrasse. Para me fazer entender, na nossa Bacia o Pai está na cabeça e a Mãe no corpo, ou Mãe de cabeça e Pai no corpo, mas quem ordena e cobra é o dono da cabeça. Então vejo que a saída do filho castigado que vai buscar um colo, quem vai apaziguar vai ser o Òrìsà que corresponde ao corpo, e muitos vão correr pra Òsàlá, o Pai maior de todos, para que ele traga a paz com sua intervenção, e também dê o colo. Mas vejo que fazem isso nos casos em que o erro não é grave, mas mesmo assim a cobrança será feita.

3 comentários:

Citu disse...

Muy interesante. Te mando un beso.

Elvira Carvalho disse...

Um texto muito interessante.
Abraço e saúde

Panama disse...

Uma leitura brilhante! Sua postagem é perspicaz, bem elaborada e totalmente envolvente. Obrigado por compartilhar sua valiosa perspectiva.