Antes de transcrever um trecho do épico indiano "Ramayana", que descreve as façanhas do Senhor Rama, encarnação divina que representou na terra o papel de um rei perfeito, faço antes um post sobre o autor da obra, o poeta Valmiki. O seu estilo de narrar cativou-me desde o início, com a sua riqueza de detalhes ao descrever emoções dos personagens, embates e paisagens paradisíacas. Acredito que grande parte dos leitores, mesmo sem motivações religiosas acaba fascinando-se pela aventura do herói e avatar Rama.
A história a seguir ilustra como o autor, outrora um abominável criminoso, tornou-se um grande devoto ao entrar em contato com um mestre espiritual auto realizado, dotado de qualidades divinas. Embora nascido em família de sacerdotes, Valmiki convivia com homens de má índole. Em consequência disso, virou um criminoso violento, tendo, inclusive, assassinado muitos sábios. Certa vez, ele se aproximou do elevado sábio Narada Muni com a intenção de matá-lo. Bastou Narada erguer a mão e dizer: "Pare!" para Valmiki, perplexo, ver- se forçado a congelar seus movimentos. Diante daquilo, Valmiki sentiu seu coração invadido por uma atitude natural de submissão a Narada. O sábio, então, aproveitou para revelar-lhe as reações que recairiam sobre ele como resultado de seus pecados abomináveis. Refugiando-se em Narada, Valmiki perguntou-lhe o que deveria fazer para eximir-se daquelas reações.
Narada disse: "Sente-se aqui e cante: Rama Rama Rama Rama Rama. Faça isso, e mais nada. Valmiki tentou acatar a ordem de Narada, porém, em virtude do frutificar das reações às suas tantas ações pecaminosas, ele não conseguiu cantar aquele nome divino. Narada sagazmente lhe disse: "Se você não é capaz de cantar 'Rama", cante 'mara', então".
O termo mara, que significa morte em sânscrito, é formado pelas mesmas sílabas que Rama, só que invertidas. A repetição de mara mara acaba soando como Rama Rama. Após orientar Valmiki daquele modo Narada foi-se embora.
Para Valmiki, foi fácil cantar mara mara, coisa que ele continuou fazendo por milhares de anos enquanto aguardava a volta de seu guru. Ele passou todo aquele tempo sem comer, defecar ou urinar. Pouco a pouco as formigas (da espécie valmika) consumiram sua carne, sangue e demais substâncias físicas, até que seu corpo foi envolvido por um formigueiro. Por fim, ele desapareceu, aponto de agora parecer feito de terra. Eventualmente, Brahma, líder dos semideuses e guru original da sucessão discipular proveniente do Deus Krishna, chegou ali . Ao ver o estado em que se encontrava o corpo de Valmiki, o Senhor Brahma borrifou- lhe água sagrada enquanto proferia mantras. Logo, o corpo de Valmiki retomou o vigor de um corpo em plena juventude. Brahma disse-lhe "Você acaba de aperfeiçoar o cantar de seu mantra, logo, já tem percepção direta do Senhor Supremo."
Posteriormente, no transcurso de sua meditação, o agora grande sábio Valmiki compôs o famoso Ramayana, a biografia autorizada do Senhor Rama, cujo nome ele vivia cantando. Escrito há centenas de milhares de anos, o Ramayana é considerado um dos Vedas (escrituras sagradas) originais e o épico espiritual mais famoso na Ìndia. Valmiki o redigiu antes mesmo de o Senhor Rama surgir nesse mundo.
Fonte: "Alma, identidade espiritual e outros segredos", de Shri Shrimad
Bhaktivedanta Narayana Goswami Maharaja- Editora Braja
9 comentários:
Que texto belíssimo e profundamente inspirador… Fiquei tocada não apenas pela narrativa épica, mas também pela transformação espiritual de Valmiki, que revela com tanta força a capacidade de redenção e de iluminação da alma humana. Há algo de mágico nesse encontro entre o erro e a luz, entre o pecado e a devoção.
O simbolismo de cantar “mara” até que se transforme em “Rama” é de uma beleza poética e espiritual imensa — mostra como até mesmo aquilo que parece perdido pode encontrar um novo caminho.
É emocionante pensar que de um passado sombrio surgiu aquele que escreveria um dos maiores tesouros espirituais da humanidade. Valmiki nos mostra que a grandeza do espírito pode florescer onde menos se espera…
BOM DOMINGO
ABRAÇOS
Obrigado. Já o coloquei na minha lista de blogues!
Me gusto conocer esa historia. Te mando un beso.
Não conheço o poeta Valmiki, mas fiquei impressionada com o texto que transcreve, tão cheio de motivos de inspiração e tão reflexivo. Obrigada por partilhar.
Uma boa semana.
Um beijo.
"Quem canta, seus males espanta".
Boa semana!
Beijinhos.
obrigado
Tenho que admitir que se trata de um texto algo controverso e de sequências inesperadas e surpreendentes.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes
Passando para agradecer sua carinhosa presença em meu cantinho.
Boa noite
Beijinhos
Olá, Cesar, texto muito interessante, é para ser lido mais de uma vez, e pensar... muito para refletir.
Um bom fim de semana, com saúde e paz!
Abraços!
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