domingo, 13 de abril de 2025

O Príncipe Anacoreta



          Depois que Rama, auxiliado por sua ilustre videana, doou as riquezas aos bramas, tomou armas e instrumentos, a saber, a enxada e o cesto, saiu do palácio em companhia de Lacsmana e foi ver seu augusto pai. Acompanharam-no a esposa e o irmão.

          Para comtemplar-lhe o andar e recrear-se, para vê-lo, as mulheres, os aldeães e os homens da cidade aglomeravam-se, subiam ao teto das casas e aos terraços dos palácios. Na estrada real, tomada pelo povo, não havia espaço vazio. Tal era o seu afeto por Rama que acorria para despedir-se dele em esplendor infinito.

          Antes da vinda de Rama, com a esposa e Lacsmana, o poderoso monarca, cheio de emoção e dor, passava o tempo a gemer.

          Então Sumantra, vivamente angustiado, juntando as mãos, apresentou-se diante do senhor da terra e disse-lhe:

          -- Rama, que acaba de distribuir as riquezas entre os bramas, depois de ter atendido a subsistência de seus criados, acompanhado de Lacsmana, seu irmão, e de Sita, sua esposa, veio ver teus augustos pés. Recebe-o, se te apraz.

          O rei, de alma pura como o ar, suspirou profundamente e em sua viva dor respondeu:

          -- Sumantra, traze para cá todas as minhas esposas. Quero receber, rodeado delas, ao digno sangue de Ragu!

          Aquelas damas, cujo número ascendia à metade de setecentas, encantadoras todas e ricamente ataviadas, vieram visitar o esposo, que se encontrava em companhia de Caqueí.

          O monarca, vendo que se achavam todas, sem exceção de nenhuma, disse ao nobre porteiro:

          -- Sumantra, traze logo meu filho à minha presença!

          Quando viu Rama adiantar-se com as mãos cruzadas, o rei desceu do trono onde estava sentado, em meio às mulheres, e exclamou aflito:

          -- Vem Rama, filho meu! -- e quis abraçá-lo.

          Todavia, em virtude da fortíssima emoção, caiu em terra antes de poder fazê-lo. As mulheres, com seus gritos, alvoraçaram o palácio do rei. Ao cabo de um instante, porém, voltou a si e Rama, cruzando as mãos, invadido por um mar de tristeza, assim falou:

          -- Grande rei, venho dizer-lhe adeus, príncipe augusto, pois és nosso senhor! Lança-me um olhar de benevolência, que parto neste momento para moras nas selvas. Digna-te também, senhor da terra, dar as despedidas a Lacsmana e á bela videana, minha esposa, que apesar de meus rogos não desistiram de seguir-me. Despede-te, pois, dos três.

  

Trecho do capítulo 6 de "Ramayana" do poeta Valmiki.



        


11 comentários:

Sintra blogue disse...

obrigado

Luiz Gomes disse...

Boa tarde de domingo e bom início de semana meu querido amigo. A chuva deu uma trégua.

J.P. Alexander disse...

Te invita reflexionar , Me gusta tu historia. Te mando un beso.

Graça Pires disse...

Gostei deste capítulo cheio de criatividade. Fez-me lembrar "As mil e uma noites". Obrigada por partilhar.
Uma boa semana.
Um beijo.

❦ Cléia Fialho ❦ disse...

Que relato emocionante e profundo, cheio de despedidas carregadas de amor e dor. A cena do príncipe Rama deixando o conforto do palácio e indo em direção ao desconhecido das selvas, com sua esposa e irmão ao lado, é tocante. O amor incondicional de seu povo, a dedicação de sua esposa Sita e o vínculo profundo com seu pai, que, com um gesto de grande emoção, quase se perde na intensidade do afeto, revelam a beleza das relações familiares e a força dos sentimentos humanos.

É lindo ver como a honra, o dever e o sacrifício estão entrelaçados na trajetória de Rama, mas também como o amor e a dor da separação se manifestam de forma tão vívida. Essa despedida, com todos os olhos voltados para ele, e o coração apertado do rei, mostram o peso de um destino que se desenha por escolhas feitas com nobreza e coragem.

Esse trecho é um lembrete poderoso de que, às vezes, o amor e o dever nos pedem que sigamos por caminhos difíceis, mas que são carregados de propósito e significado. A maneira como cada palavra e gesto transborda emoção e ressignifica a força do laço familiar é algo verdadeiramente lindo de se acompanhar.

ABRAÇOS

Vivir y dejar Vivir...Liz disse...

♥♥Querido amigo♥♥
Precioso relato que invita a la reflexión, un placer leerte.
Que la Semana Santa sea una bendición para ti y toda tu familia.
Que la luz de la Semana Santa ilumine nuestros corazones y nos guíe hacia la paz y la serenidad.
Abrazos y te dejo un besito
*♥♫♥**♥♫♥**♥♫♥*--*♥♫♥**♥*

Fá menor disse...

Muito bem.

Boa semana santa e feliz Páscoa!

Juvenal Nunes disse...

O que ia Rama fazer na selva?
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

Cesar disse...

Foi cumprir um exílio de 14 anos, por causa do ardil de uma mulher que seu pai, o rei, se apaixonara.
Boa Páscoa.

Tais Luso de Carvalho disse...

Oi, Cesar que bela história, não conhecia!
Também li o comentário do amigo Juvenal e também gostei do esclarecimento.
Uma ótima semana e uma Feliz Páscoa junto a sua família.
Abraços.

Sintra blogue disse...

Obrigado pelo seu comentário no meu blogue. Não tenho gadget de seguidores pois prefiro que me incluam na blog list :) Boa Páscoa!