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domingo, 1 de março de 2020

Vaguinho



           
            Vaguinho, o filho homem de Odir, certo dia saiu de casa pela manhã comunicando á mãe que iria “ver um serviço”. Fez o mesmo no 2º, 3º e 4º dia consecutivo. No 5º dia ela resolveu seguí-lo para desvendar de vez o mistério do tal emprego que não se concretizava. Queria saber o motivo de tanta demora em se admitir ou dispensar alguém.
            Naquela manhã Vaguinho ao sair viu alguém ou alguma coisa “fresteando” na janela da   sua casa. Julgando ser apenas uma ilusão óptica, deu as costas e foi ver o tal serviço. Ao afastar-se uns 200 metros do portão, começou á ser seguido sorrateiramente pela mãe. Mantendo sempre a mesma distância regulamentar, Dona Elvira pôde finalmente perceber a real situação. Viu quando seu filho sentou-se na calçada de uma avenida que estava sendo pavimentada. Lá trabalhavam, de baixo de um sol de 40 graus, os funcionários da prefeitura. Os olhos do rapaz acompanhavam pacientemente o desenrolar da cena. Estava de fato, literalmente, vendo um serviço.


Fonte: Trecho do conto "Heraldo Zona Sul", do meu livro de estréia, a coletânea "Utopias Papareias"(2007)- Edição Independente- 97 p. 

2 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Um rapaz que não mentia.
Gostei.
Abraço e bom fim de semana

Cesar disse...

Amiga, acredite, o nome da mãe dele não é uma provocação... Escrevi isso bem antes de ter o prazer em lhe conhecer, viu?

Grande abraço.