A
segunda obra devorada durante esse fatídico período, já mencionado nas três
postagens anteriores, possui alguns
contrastes e poucas semelhanças com a anterior. Há muitíssimo tempo eu não lia
uma obra tão extensa, de 321 páginas.
“Eva Luna”, da escritora chilena radicada na Venezuela, Isabel Allende,
tem um único contato com “Réquiem para um burocrata”(vide postagem anterior).
Ambas abordam a ditadura militar na América do Sul.
Ao contrário do apático Argemiro,
Eva, protagonista da obra, é uma mulher pouco inclinada à rotinas, corajosa e sempre em busca de
autonomia para viver os seus sonhos e exorcizar o passado. Após a morte da mãe,
que lhe deixa como herança o dom de contar histórias e uma vida de privações,
perambula como hóspede em diversas casas, na função de empregada doméstica,
vivendo situações inusitadas e conflitantes em cada uma delas. A sua trajetória
vai sendo construída cercada de reviravoltas do destino, romances, separações, tragédias, mas sempre
com uma luz ao fim do túnel, em forma de amizade. O seu envolvimento
sentimental com um guerrilheiro opositor à ditadura, nas páginas finais, traz
um contorno cinematográfico à obra, com direito a plano de fuga, resgate com
helicóptero e repercussão nacional.
Antes da minha análise pessoal sobre essa obra, tenho de admitir que as minhas leituras anteriores vinham sendo,
imperceptivelmente pra mim, marcadas por uma tendência machista, com
predominância de autores homens em minhas escolhas. Peço desculpa a todas
vocês, pois sempre fui admirador confesso da incomparável sensibilidade
feminina e não há motivo plausível pra não intercalar leituras dos dois
gêneros.
Isabel Allende evoca no leitor
intensas emoções, que vão da tristeza ao júbilo, da esperança à desilusão.
Existem momentos fortes, chocantes na trama, principalmente as narrativas de
mortes trágicas. A melancolia percorre grande parte dos parágrafos, no entanto,
o poder da imaginação e das palavras apontam pra um caminho libertador. Torci
bastante pelo destino da Eva Luna, uma vítima das circunstâncias, jogada ao
mundo muito cedo.
“Naqueles anos tentei recuperar o tempo perdido. Estudava em uma academia noturna para obter um diploma que depois de nada me valeu, mas que então me parecia indispensável. Trabalhava durante o dia como secretária em uma fábrica de uniformes militares e, á noite, enchia meus cadernos de contos. Mimi me suplicara para abandonar aquele emprego reles e que me dedicasse somente a escrever. Desde que viu uma fila diante de uma livraria, todos esperando a vez para que um bigodudo escritor colombiano em turnê triunfal autografasse seus livros, entulhava-me de cadernos, lapiseiras e dicionários. É uma boa profissão, Eva, você não precisaria levantar tão cedo e ninguém ficaria dando-lhe ordens… Ela sonhava ver-me dedicada à literatura, mas eu precisava ganhar a vida e, neste sentido, a escrita é um terreno um tanto escorregadio.”
7 comentários:
Um livro de que gostei muito.
Aliás como outros que li da Isabel Allende.
Abraço, saúde e um feliz mês de Junho.
Não conhecia, mas vou levar essa sugestão, e quem sabe em breve não aproveite para ler!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Es una genial novela. Te mando un beso.
Tenho este livro. É mesmo muito bom.
Muito interessante!
Obrigada pela partilha!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Pasaba a desearte una buena semana. Te mando un beso.
Eu não conhecia e já
estou levando a referência.
Obrigada sempre por sua
generosidade
Bjins
CatiahoAlc.
Postar um comentário