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domingo, 2 de junho de 2024

Passando o tempo- Parte II


 

       A segunda obra devorada durante esse fatídico período, já mencionado nas três postagens anteriores, possui  alguns contrastes e poucas semelhanças com a anterior. Há muitíssimo tempo eu não lia uma obra tão extensa, de 321 páginas.  “Eva Luna”, da escritora chilena radicada na Venezuela, Isabel Allende, tem um único contato com “Réquiem para um burocrata”(vide postagem anterior). Ambas abordam a ditadura militar na América do Sul.

          Ao contrário do apático Argemiro, Eva, protagonista da obra, é uma mulher pouco inclinada  à rotinas, corajosa e sempre em busca de autonomia para viver os seus sonhos e exorcizar o passado. Após a morte da mãe, que lhe deixa como herança o dom de contar histórias e uma vida de privações, perambula como hóspede em diversas casas, na função de empregada doméstica, vivendo situações inusitadas e conflitantes em cada uma delas. A sua trajetória vai sendo construída cercada de reviravoltas do destino,  romances, separações, tragédias, mas sempre com uma luz ao fim do túnel, em forma de amizade. O seu envolvimento sentimental com um guerrilheiro opositor à ditadura, nas páginas finais, traz um contorno cinematográfico à obra, com direito a plano de fuga, resgate com helicóptero e repercussão nacional.

         Antes da minha análise pessoal sobre essa obra, tenho de admitir que as minhas leituras anteriores vinham sendo, imperceptivelmente pra mim, marcadas por uma tendência machista, com predominância de autores homens em minhas escolhas. Peço desculpa a todas vocês, pois sempre fui admirador confesso da incomparável sensibilidade feminina e não há motivo plausível pra não intercalar leituras dos dois gêneros.

       Isabel Allende evoca no leitor intensas emoções, que vão da tristeza ao júbilo, da esperança à desilusão. Existem momentos fortes, chocantes na trama, principalmente as narrativas de mortes trágicas. A melancolia percorre grande parte dos parágrafos, no entanto, o poder da imaginação e das palavras apontam pra um caminho libertador. Torci bastante pelo destino da Eva Luna, uma vítima das circunstâncias, jogada ao mundo muito cedo.

 

“Naqueles anos tentei recuperar o tempo perdido. Estudava em uma academia noturna para obter um diploma que depois de nada me valeu, mas que então me parecia indispensável.     Trabalhava durante o dia como secretária em uma fábrica de uniformes militares e, á noite, enchia meus cadernos de contos. Mimi me suplicara para abandonar aquele emprego reles e que me dedicasse somente a escrever. Desde que viu uma fila diante de uma livraria, todos esperando a vez para que um bigodudo escritor colombiano em turnê triunfal autografasse  seus livros, entulhava-me de cadernos, lapiseiras e dicionários. É uma boa profissão, Eva, você não precisaria levantar tão cedo e ninguém ficaria dando-lhe ordens… Ela sonhava ver-me dedicada à literatura, mas eu precisava ganhar a vida e, neste sentido, a escrita é um terreno um tanto escorregadio.”

7 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Um livro de que gostei muito.
Aliás como outros que li da Isabel Allende.
Abraço, saúde e um feliz mês de Junho.

Teresa Silva disse...

Não conhecia, mas vou levar essa sugestão, e quem sabe em breve não aproveite para ler!

Bjxxx
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Citu disse...

Es una genial novela. Te mando un beso.

Coisas de Feltro disse...

Tenho este livro. É mesmo muito bom.

Teresa Silva disse...

Muito interessante!
Obrigada pela partilha!

Bjxxx
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J.P. Alexander disse...

Pasaba a desearte una buena semana. Te mando un beso.

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Eu não conhecia e já
estou levando a referência.
Obrigada sempre por sua
generosidade
Bjins
CatiahoAlc.