domingo, 4 de maio de 2025

Sentimental

      


    À exemplo de outras vezes, torno á utilizar esse espaço pra dar visibilidade a escrita produzida dentro de prisões gaúchas, por pessoas marginalizadas e sem voz perante a sociedade.

   Eu sei, muitos dirão, eles tem que pagar por seus crimes e ponto. Mesmo assim, continuo achando válido humanizar nossas visões, lendo não somente pontos finais, mas também parágrafos, estrofes, vírgulas, acentos, tudo, enfim,  que é escrito de dentro pra fora das grades. 

   "Vozes de um tempo- Vol.3" foi uma coletânea organizada por profissionais diretamente ligadas ao tratamento penal de pessoas privadas de liberdade sendo, dessa forma, uma fonte autorizada sobre o assunto, sendo ela, novamente, a minha fonte de consulta.

    

                 Solidão, outra vez me procuras.

                 E eu aqui nesta cidade bandida.

                 Traga os sonhos meus.

            Desesperado, estou de mal com a vida. 

                  Aborrecido, coração amargurado,

            Não me deixes assim tão só.     


            Alegrias vêm e vão.

                  Fico alegre, quando recebo minha mulher e meus filhos.

            E uma grande tristeza fica ao irem embora,

            Restando em mim uma grande solidão,

            Um vazio em meu ser, por não poder acompanhá-los,

            ao voltarem para casa. 


            Mesmo segregado de minha liberdade,

            A vida segue, os dias passam.

            Existe em mim um compromisso, um dever,

            de buscar a amenizar os meus dias por aqui.


            Encontro nos estudos uma ocupação,

            Onde a mente se distrai numa leitura, num livro,

            Numa aula assistida.

            Por outro lado, resta um horário ao sol,

            Uma mente vazia...

            Então, é um tempo em vão.  


                                                                               N.L.

   

11 comentários:

Sintra blogue disse...

obrigado

Graça Pires disse...

É uma iniciativa muito bonita, essa de dar livros a ler nas prisões. O poema que deixou aqui "Solidão" é um poema cheio de sentimento e emoção. Um poema de quem sabe sublimar o sofrimento que sente.
Uma boa semana.
Um beijo.

Fá menor disse...

... e os fantasmas serão menores ao escrever-se sobre eles. Muito bom.

Boa semana!

❦ Cléia Fialho ❦ disse...

Que profundidade nas palavras!
A escrita revela a dor e a solidão de um ser humano que, mesmo diante das dificuldades e da privação, busca algo que o mantenha vivo: a esperança, o amor pela família, e o compromisso com sua própria evolução.
Há uma beleza amarga na luta contra o vazio, e a busca por sentido, mesmo nas circunstâncias mais desoladoras.
É como se, mesmo preso fisicamente, a alma ainda pudesse voar, ainda pudesse se agarrar aos pequenos momentos de alegria e aprendizado.
Esse testemunho traz à tona uma realidade que muitas vezes preferimos ignorar, mas que, de alguma forma, toca a alma e nos faz refletir sobre o que realmente importa.

ABRAÇOS

Luiz Gomes disse...

Boa tarde e uma excelente quarta-feira, com muita paz e saúde meu querido amigo César. São pouquíssimos lugares quilombolas no Brasil. E isso ocorreu durante vários séculos.

Sintra blogue disse...

obrigado de novo

❦ Cléia Fialho ❦ disse...

Que reflexão profunda e sensível você trouxe com essas palavras!
O seu texto carrega uma humanidade delicada, lembrando-nos de que cada ser, independentemente de onde esteja, tem uma história, uma luta, e merece ser ouvido. Você tocou na importância de olhar além das grades e enxergar a essência de cada um, nos lembrando de que a escrita, mesmo de dentro de um lugar tão sombrio, pode ser um grito por compreensão, por voz, por liberdade. O sofrimento que transborda nos versos desse texto nos convida a refletir sobre o que realmente significa liberdade e como, muitas vezes, ela pode ser tão mais complexa do que apenas a ausência de correntes. A solidariedade que você expressa ao dar visibilidade a essas palavras é um gesto bonito e importante, que nos coloca em sintonia com as vulnerabilidades humanas.

ABRAÇOS

Luiz Gomes disse...

Boa tarde Cesar. Obrigado por suas palavras. Saibas que também, tens um grande amigo carioca. Se um dia vier ao Rio de Janeiro, pode contar comigo. Espero conhecer o RS e mostrar no Blogger, a cultura, história, culinária e como os gaúchos incríveis. Da Região Sul, só fui a Curitiba e bem rápido. Quando desejar trocamos Instagram ou WhatsApp. Mais uma vez obrigado.

Luiz Gomes disse...

São incríveis.

❦ Cléia Fialho ❦ disse...

GRANDE ABRAÇO MEU AMIGO!

J.P. Alexander disse...

Me gusto el poema. Te mando un beso.